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Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Taxas baixas em simultâneo com a subida do custo do risco

A expectativa de Joaquim Paulo, partner da Deloitte, é que, como se trata de “uma crise à escala global, será de esperar uma ação concertada e mais rápida do que na crise anterior, para execução de soluções de recuperação e limpeza de balanço”.

09 de Dezembro de 2020 às 15:00
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Joaquim Paulo, partner da Deloitte, considera que, nesta crise pandémica, se podem distinguir efeitos temporários de falta de liquidez e a perda de rentabilidade das empresas de outros efeitos mais permanentes, em que os modelos de negócio foram definitivamente afetados com reduções irreversíveis da rentabilidade, o que põe em causa a viabilidade de muitos negócios.

Na sua opinião, os apoios do Estado são um lenitivo transitório, porque "na maior parte dos casos haverá uma deterioração do nível de risco, com maior probabilidade de incumprimento e redução do nível de cobertura induzida pela redução do valor dos colaterais, o que se irá refletir em maiores imparidades no crédito a prazo".

Para a banca a recessão provocada pela crise pandémica atual vem agravar o contexto difícil em que os bancos operavam, com reduzidas taxas de juro, um quadro regulatório tendencialmente mais exigente, necessidades de investimento significativas, nomeadamente em tecnologia, para melhorar o nível de segurança das operações e a qualidade dos serviços e uma forte pressão para otimizar a estrutura de custos de forma a mitigar as perdas no crédito geradas na crise anterior.

O contexto anterior à crise já era de uma grande exigência para os bancos portugueses. Paulo Costa Martins

Sócio da Cuatrecasas

Neste período entre crises, de 2011/2013 e a atual em março de 2020, os bancos tinham melhorado com o reforço dos rácios de solvabilidade, redução do nível de alavancagem e da exposição a ativos non performing, sobretudo através de vendas de portefólios.

A crise atual

"O contexto anterior à crise sanitária já era de grande exigência para os bancos portugueses. Nos últimos anos tinha-se assistido ao aumento dos requisitos de capital para as atividades de crédito e a uma forte pressão no sentido de os bancos reduzirem os riscos de crédito e liquidez", refere Paulo Costa Martins, sócio da Cuatrecasas, área de bancário, financeiro e mercado de capitais.

A situação atual vai gerar "novos incumprimentos e maior dificuldade em originar novas operações com bom nível de risco. Acresce que a expectável manutenção de reduzidas taxas de juro, na sequência do aprofundar das medidas de injeção de liquidez por parte do Banco Central Europeu, vai continuar a penalizar a rentabilidade dos bancos em simultâneo com a subida do custo do risco", conclui Joaquim Paulo.

Para Paulo Costa Martins, "a pandemia veio agravar a situação e algumas das medidas, por exemplo, a de suspensão do pagamento de capital e juros nos contratos de crédito (moratórias) até 30 de setembro do próximo ano, têm naturalmente um impacto relevante nos bancos, ainda que haja alguns elementos de equilíbrio no regime, como o da capitalização dos juros durante o período da moratória".

A expectativa de Joaquim Paulo é que, como se trata de "uma crise à escala global, será de esperar uma ação concertada e mais rápida do que na crise anterior, para execução de soluções de recuperação e limpeza de balanço".

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