José Pedro Aguiar-Branco 08 de Junho de 2009 às 12:00

Um exemplo a não seguir

Sabemos que as campanhas eleitorais potenciam excessos de linguagem e esticam emoções. Sabemos, ainda, que a oportunidade eleitoral condiciona prioridades políticas que, se não puserem em causa o nosso bem estar comum, se...

Sabemos que as campanhas eleitorais potenciam excessos de linguagem e esticam emoções. Sabemos, ainda, que a oportunidade eleitoral condiciona prioridades políticas que, se não puserem em causa o nosso bem estar comum, se podem compreender tendo em vista o ganho que podem representar na opção a tomar pelos eleitores. Mas há fronteiras que não se podem ultrapassar. E, a primeira de todas, é a do bom nome das pessoas ou das instituições, logo seguida do nível da linguagem que carimba a imagem do político que a utiliza.

Vital Moreira, nesta campanha para as europeias, caprichou em fazer o que de pior se pode fazer na política: manipulou os factos e usou uma linguagem "para ordinária" que, para além de o não honrar, contribui para a descredibilização da classe política e para o afastamento das pessoas dos políticos.

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O chamado caso BPN é, talvez, o tema mais e melhor escrutinado na Assembleia da República, com expressão directa e transparente quer para a comunicação social quer para o comum dos portugueses. As sessões da Comissão de Inquérito, na sua larga maioria acompanhadas em directo pela televisão, o número de audições realizadas, a qualidade das pessoas que depuseram, os documentos que foram exibidos e a atitude de todos deputados membros da comissão deram aos portugueses um bom motivo para se orgulharem do seu parlamento e para se sentirem confortados com os seus eleitos. Em particular, a intervenção dos deputados do PSD, como com relevante seriedade, coragem e honradez, a presidente da Comissão - a deputada socialista Maria de Belém Roseira - reconheceu, foi exemplar do que deve ser o exercício de um mandato que coloca, acima de qualquer interesse partidário, o interesse nacional. O caso BPN é grave, envolve várias figuras públicas, questiona o papel de várias instituições - entre as quais o Banco de Portugal - e afecta o dinheiro dos nossos impostos.

Mas, o escrutínio destes meses, permitiu compreender que o PSD como instituição e partido de poder responsável, não tem nada a ver com o caso BPN, não retirou qualquer benefício dos ilícitos praticados e não tem nada a temer quanto às conclusões que se venham a retirar, a final, dos processos que se encontram pendentes. Por tudo o que foi o comportamento do PSD, ficou, claro, para quase todos os portugueses, que este não teme a verdade. E digo quase todos porque Vital Moreira revelou, à boa maneira dos ensinamentos da sua origem ideológica comunista, que a verdade se modela ao sabor da conveniência, num exercício típico da boa escola soviética de tentar reescrever a história segundo a versão oficial. Neste caso, querendo ser ele a versão oficial.

Claro que se a baixa política se limitasse a Vital Moreira, a dimensão do problema era pouco mais do que insignificante. A "reprise" de Santos Silva e o silêncio de Sócrates sobre esta forma torpe de fazer política, e que significa o aval do partido socialista a esta nova estratégia para a manutenção do poder, é que não augura nada de bom sobre o que nos reservam as próximas duas campanhas eleitorais.

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José Sócrates sentiu, nesta campanha eleitoral, a atmosfera agreste que existe para lá do mundo estrito do aparelho socialista ou dos que dele precisam para sobreviver politicamente. A capacidade de encenação, ainda que aqueça a eficácia mediática dos encontros, já não consegue esconder a fria realidade do relacionamento que está para lá do universo partidário. O sentimento de fim de ciclo que consome quem nos últimos catorze anos esteve nada menos que onze no poder, arrasta a estratégia política do partido socialista para lá do que eticamente é aceitável numa versão desesperada do "vale tudo" para manter "os anéis nos dedos". O ensaio das europeias, não podia ser mais significativo. A bem da democracia esperemos que o meu mau augúrio não se concretize e que, por uma vez, José Sócrates nos surpreenda com um exercício de tolerância e de bom senso poupando o país à descredibilização definitiva da classe política!

José Pedro Aguiar-Branco

Advogado e Vice-Presidente do PSD

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