Socialização organizacional: contextos e desafios
Com um forte investimento em processos de selecção de pessoal cada vez mais rigorosos e sofisticados, as organizações procuram assegurar desde o início do processo de contratação um espaço de encontro de interesses e expectativas.
A actualidade das organizações evidencia, de forma acentuada, uma mudança no sentido da valorização da equipa, da responsabilização e do desenvolvimento contínuo. Com um forte investimento em processos de selecção de pessoal cada vez mais rigorosos e sofisticados, as organizações procuram assegurar desde o início do processo de contratação um espaço de encontro de interesses e expectativas. Frequentemente baseiam estas mudanças em eventos de formação, ignorando que desde a admissão do trabalhador, podem desenvolver iniciativas facilitadoras do ajustamento organizacional, através de um processo de acolhimento e socialização devidamente acompanhado.
A fase de acolhimento e consequente processo de socialização organizacional constitui-se como elemento-chave do sucesso da integração numa empresa. A actualidade confronta-nos com a exigência de uma nova identidade orientada para a capacidade e contributo individual, mas impõe-nos uma cada vez maior normatividade dos objectivos e processos organizacionais. É durante a fase de acolhimento que as organizações reforçam a sua cultura e expectativas e fomentam a aquisição de novos valores e a integração de novos colaboradores e modos de acção. Estas mudanças exigem ao nível dos valores uma forte reconfiguração quer em termos individuais quer em termos organizacionais.
Neste sentido as organizações procuram colaboradores que garantam o cumprimento dos processos mas que simultaneamente se constituam como agentes da mudança organizacional. É nesta preocupação que a organização se esforça, não só por escolher os melhores colaboradores mas também por criar condições de integração e desenvolvimento conjunto. A fim de salvaguardar a qualidade da sua escolha e garantir que integra de facto os melhores colaboradores, as organizações optam por sujeitar os novos trabalhadores a um período experimental independentemente da forma contratual (contrato a termo e sem termo). Actualmente, no contrato de trabalho sem termo, o período experimental poderá ter a seguinte duração: (i) 90 dias para a generalidade dos trabalhadores; (ii) 180 dias para trabalhadores que exerçam cargos de complexidade técnica, elevado grau de responsabilidade ou pressuponham uma especial qualificação, bem como os que desempenhem funções de confiança; (c) 240 dias para trabalhador que exerça cargo de direcção ou quadro superior.
Relativamente ao contrato de trabalho a termo, o período experimental pode ser de 30 dias em caso de duração igual ou superior a seis meses e de 15 dias em caso de contrato a termo certo com duração inferior a 6 meses ou de contrato a termo incerto cuja duração previsível não ultrapasse este limite. Também o contrato sob o regime da comissão de serviço poderá estar sujeito a um período experimental de 180 dias.
Durante o período experimental, salvo acordo escrito em contrário, qualquer das partes pode denunciar o contrato sem aviso prévio e invocação de justa causa, nem direito a indemnização. Contudo, tendo o período experimental durado mais de 60 dias, a denúncia por parte do empregador depende de aviso prévio de 7 dias. Este aviso prévio será de 15 dias, nos casos em que o período experimental ultrapasse os 120 dias.
Sem prejuízo do exposto e a par com a gestão contratual (jurídica e psicológica), a inadequada socialização surge como um dos principais determinantes do desajustamento entre indivíduo e organização. A socialização, enquanto oportunidade de aprendizagem e desenvolvimento colectivos visa a apropriação e evolução das regras que regulam a relação do sujeito com a organização e suporta-se em diferentes paradigmas e estratégias conforme a estrutura e objectivos da mesma.
Frequentemente, a escolha das estratégias de socialização merece uma menor atenção e baseia-se na disponibilidade de recursos e não nos objectivos específicos que lhe deveriam estar associados. Não raramente, aquando do acolhimento de novos trabalhadores opta-se por processos formais, fixos e de carácter colectivo por se entender que assim se garante que todos tenham de forma rápida acesso a um conjunto de informações e conhecimentos básicos para o seu ingresso na organização, esquecendo-se as especificidades de cada indivíduo e do propósito organizacional para esse novo colaborador.
Por outro lado, a própria forma como a organização concebe a socialização tem diferenças significativas, nem sempre entendidas. Diferentes paradigmas estão profusamente estudados e podem ser evocados. Algumas empresas, através de mecanismos específicos geralmente associados a processos formativos pontuais, visam a assimilação do sujeito ao grupo através da obediência e aceitação.
Idealmente, a socialização deverá basear-se na coexistência das características individuais com o desenvolvimento de uma nova personalidade partilhada entre o sujeito e a organização. Desta forma, consegue-se a o alinhamento indivíduo/organização e reforça-se o propósito de proactividade face aos objectivos individuais e colectivos.
Através de tácticas de socialização procura-se em termos individuais garantir o aumento da satisfação, commitment, intenção de permanência, comportamentos pró-sociais, etc.. Em termos organizacionais visa-se a criação de condições de aumento de produtividade, qualidade e competitividade.
Temos então, que a socialização se constitui como um processo de aprendizagem colectiva, potenciadora do desenvolvimento de um "personalidade organizacional proactiva" catalisadora de vantagem competitiva.
TOME NOTA
1. A socialização inicia-se aquando do acolhimento na organização e determina o ajustamento entre o indivíduo e a organização;
2. É através da socialização que por aprendizagem colectiva, se partilham os valores e regras que regulam a relação do sujeito com a organização;
3. Os paradigmas e tácticas de socialização dependem das características e objectivos das organizações e têm diferentes resultados e impactos;
4. A correcta gestão do processo de socialização tem impacto no confronto de expectativas e resultam em mudanças de valores e comportamentos potenciadores da satisfação e competitividade.
*Associada da Teixeira de Freitas, Rodrigues e Associadosclaudia.torres@tfra.pt
** Docente Universitáriaacsd.duarte@gmail.com
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