O mercado laboral na era dos robots
Hoje em dia, a ansiedade de que as novas tecnologias possam destruir milhões de postos de trabalho é maior do que nunca. No meio de uma enorme crise laboral, a tecnologia continua a reduzir a necessidade laboral de produção em massa, ao passo que a automatização de rotinas jurídicas e tarefas de contabilidade estão também a esvaziar esse sector do mercado de trabalho. A ciência da robótica está a revolucionar a indústria – todos os anos, mais 200 mil robots industriais entram em funcionamento. Em 2015, prevê-se que o total atinja 1,5 milhões. Adaptar o mercado laboral a um mundo com cada vez mais locais de trabalho automatizados será um dos desafios cruciais da nossa era.
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No entanto, nenhum país pode dar-se ao luxo de ignorar a transformação. Globalmente, cerca de 200 milhões de pessoas estão desempregadas, mais 27 milhões do que em 2008. Há uma carência crítica de antecipação das próximas alterações tecnológicas e de criação de força de trabalho global com a educação e capacidades necessárias para participar no mercado laboral moderno.
Em todo o mundo, um terço dos empregadores inquiridos queixa-se de que não são capazes de encontrar trabalhadores com as capacidades adequadas para as vagas disponíveis. Percursos eficientes, desde programas de estágio e educação ao mundo do trabalho, devem ser fortalecidos, de modo a que as aptidões possam corresponder às necessidades do mercado. Programas governamentais devem ser fortalecidos e os empregadores e os sindicatos devem assumir uma maior responsabilidade em investir em capacidades. Devem também consultar de forma mais próxima com educadores e legisladores – conversações que devem ser complementadas com informação do mercado laboral, revisões de desempenho e disponibilidade dos serviços empregadores.
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Qualquer que seja o nível de desenvolvimento de um país, o investimento em educação e em competências irá aumentar a capacidade da sua força de trabalho de inovar e adaptar a novas tecnologias. Um investimento que pode determinar se o crescimento económico de um país é amplamente inclusivo, ou deixa de parte grandes segmentos da sociedade. Uma abundante oferta de trabalhadores que têm sido treinados correctamente e podem continuar a aprender aumenta a confiança dos investidores e, assim, o crescimento do emprego.
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Além do treino da força de trabalho para uma era de maior automatização, as economias sustentáveis devem oferecer protecção aos trabalhadores em bons e maus momentos. A natureza da relação de um trabalhador com o seu empregador está a mudar. As pessoas que entram no mercado de trabalho encontram cada vez mais contratos de curto prazo ou temporários – muitas vezes são forçados a aceitar trabalhos informais ou a emigrar por um emprego. Estas tendências estão a exacerbar a iniquidade nos rendimentos.
Como resultado, políticas de atenuação são necessárias. Juntamente com um sistema robusto de subsídios de desemprego, as protecções sociais, tais como o sistema de saúde e de pensões, são essenciais para a segurança geral dos trabalhadores e para assegurar uma economia saudável. E ainda assim apenas 20% da população mundial tem uma cobertura de segurança social adequada – mais de metade não tem qualquer cobertura.
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É por isso que o trabalho da Organização Mundial do Trabalho (OMT), que foi criada em 1919, é ainda relevante nos dias de hoje. Num mundo de locais de trabalho cada vez mais automatizados e de erodidas relações entre trabalhador e empregador, os valores incutidos nos padrões de trabalho da OMT são mais necessários do que nunca.
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Os desafios complexos que os trabalhadores em todo o mundo enfrentam irão requerer soluções complexas. Em 2013, a OMT lançou a iniciativa "Future of Work", que procura identificar e analisar tendências incipientes e providenciar um fórum de discussão acerca do que deve ser feito para se adaptar às condições do mercado de trabalho em rápida transformação.
O nosso mundo mudou massivamente ao longo do último século – e não apenas devido à tecnologia. Em 2050, a população mundial irá ultrapassar os nove mil milhões. O número de pessoas com 60 anos ou mais terá triplicado. Três quartos dos idosos estará a viver naqueles que são agora países em desenvolvimento e a maioria será mulheres. Estas mudanças demográficas irão continuar a revolucionar o mercado laboral, os sistemas de segurança social, o desenvolvimento económico e o mundo do emprego.
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Em todo o progresso que a sociedade humana tem feito desde a era dos Luddites, uma simples verdade persiste: as máquinas devem fortalecer, não debilitar, as nossas perspectivas de um crescimento inclusivo e de uma prosperidade amplamente partilhada. Devemos assegurar que a economia moderna é sustentável, construída sobre os princípios da dignidade humana e a oportunidade de trabalho decente.
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Guy Ryder é Director-geral da Organização Internacional do Trabalho
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2015.
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Tradução: André Tanque Jesus
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