Que Angola quer Angola?
Expresso noticiou, no fim-de-semana, que Angola não vai indicar o novo embaixador para Portugal para mostrar o seu descontentamento face à forma como a justiça tem conduzido o processo Manuel Vicente. "Os sucessivos avisos feitos pelo Presidente são para ser levados a sério", afirmou ao semanário fonte da presidência angolana.
Portugal continua a ser uma boa sela para Angola cavalgar o populismo e nem João Lourenço, pelos vistos, se coíbe de a usar. As autoridades angolanas têm legítimas razões de queixa da procrastinação da justiça portuguesa, mas estão definitivamente a exagerar na dose.
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Afinal, que Angola quer manter este clima de tensão com Portugal? A Angola da fúria exoneradora protagonizada por João Lourenço, ou a Angola do mesmo João Lourenço que nomeou Aldemiro Vaz da Conceição (durante décadas o fiel escudeiro de José Eduardo dos Santos no Palácio da Cidade Alta) para o cargo de director do Gabinete de Acção Psicológica e Informação da Casa de Segurança. A Angola que sensatamente pede ajuda ao FMI, ou a Angola que tem um crédito malparado na ordem de 2,6 mil milhões de dólares no BPC (Banco de Poupança e Crédito), detido pelo Estado, e dificuldades em encontrar bancos correspondentes. A Angola que pretende atrair investimento estrangeiro para dinamizar a economia e cortar o cordão umbilical com a China, ou a Angola que continua com o seu "rating" em queda devido às previsíveis dificuldades que encontrará para ter acesso a financiamento.
João Lourenço está a consolidar o seu poder em Angola, um processo que culminará com a sua ascensão a presidente do MPLA em Setembro deste ano, substituindo José Eduardo dos Santos. Em vez de encher o balão do caso Manuel Vicente, o Presidente da República devia esvaziá-lo, porque se trata de um problema de somenos quando comparado com outros dossiês decisivos para o futuro do país que tem em mãos. E quanto mais grita (mesmo que por interposta pessoa) só vai perdendo razão.
A questão reside em saber que Angola quer nas relações diplomáticas com Portugal. A Angola do passado recente, que se entretinha a manipular a marioneta do neocolonialismo, ou a Angola que aposta em percorrer um caminho de desenvolvimento económico e maturidade política que conduza ao bem-estar social. A escolha está exclusivamente nas mãos de João Lourenço e dos angolanos. Resumi-la ao caso Manuel Vicente é tapar o sol com a peneira.
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