A publicação da Diretiva (UE) 2024/1275 marca um ponto de viragem no setor imobiliário europeu. Mais do que um novo regulamento vindo de Bruxelas, é um sinal claro de que chegou ao fim o tempo da inércia. O imobiliário europeu tem agora um desafio real: transformar os edifícios numa força ativa na luta contra as alterações climáticas.
A nova diretiva introduz exigências concretas e ambiciosas. "Entre elas, destacam-se a obrigatoriedade de renovar edifícios com baixo desempenho energético, a recolha e reporte sistemático de dados energéticos e a inclusão de indicadores de carbono incorporados nos relatórios técnicos", começa por explicar Carolina Ono, asset management coordinator da Savills, prosseguindo: "Soma-se ainda a promoção da instalação de sistemas inteligentes e painéis solares sempre que viável – medidas que apontam para uma mudança estrutural no modo como concebemos, gerimos e valorizamos os nossos ativos."
A grande questão é: estarão os proprietários preparados para esta transformação? E não apenas do ponto de vista técnico ou financeiro, mas sobretudo estratégico? Porque não se trata apenas de cumprir novas regras. Trata-se de repensar prioridades, assumir responsabilidades e, acima de tudo, antecipar o futuro.
Embora a transposição da diretiva para a legislação nacional esteja ainda em curso, esperar por definições formais "seria um erro com custos potencialmente elevados". O tempo corre. Os relatórios serão exigidos. E os ativos que não acompanharem esta evolução "arriscam-se a perder valor, atratividade e, em alguns casos, até a licença de exploração", alerta.
Mais ainda: "Começa a ganhar força o risco dos ativos ficarem tecnicamente obsoletos e financeiramente desvalorizados – os chamados stranded assets." Ignorar esta evolução pode significar, no limite, "a exclusão de certos imóveis dos critérios de investimento e de ocupação".
É aqui que a preparação se torna decisiva, é explicado. Conhecer os dados, diagnosticar vulnerabilidades, planear intervenções e agir com visão, tudo isto pressupõe muito mais do que conhecimento técnico. Requer uma abordagem integrada, que combine critérios ESG, sensibilidade jurídica, inteligência financeira e capacidade operacional. "Na Savills, estamos já nesse caminho. A recolha e análise de dados energéticos está em curso em vários dos edifícios que gerimos. Este não é um processo burocrático – é um compromisso para com a responsabilidade e a excelência. Porque só com dados consistentes é possível tomar decisões fundamentadas e eficazes", afirma Carolina Ono.
Diagnóstico ESG dos ativosA Savills também desenvolve planos de apoio personalizados para os seus clientes, que incluem "o diagnóstico ESG dos ativos, a identificação de necessidades de adaptação, a integração de cláusulas contratuais alinhadas com os novos requisitos e o acompanhamento próximo na implementação das soluções". "Mais do que responder à lei, tratamos de proteger e valorizar os ativos, hoje e no futuro", sublinha a asset management coordinator da Savills, acrescentando: "Cada vez mais, investidores e ocupantes priorizam edifícios com desempenho ESG robusto – a conformidade com esta diretiva será, por isso, também um fator de diferenciação competitiva e de valorização a longo prazo."
A nova diretiva representa, sim, um desafio. Mas é, acima de tudo, uma oportunidade de renovar, de modernizar e de alinhar o setor com os valores e as exigências de uma sociedade que quer e exige mais do ambiente construído. "A pergunta não é se vamos mudar. É quando", conclui Carolina Ono.