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Setor de Material Elétrico apela a decisões estruturadas e diálogo com o Estado

No centro das transições energética e digital, o setor de material elétrico defende uma nova abordagem política, menos burocrática e mais estratégica. No evento do setor Material Elétrico, promovido pela AGEFE, os intervenientes alertaram para os desafios estruturais da economia portuguesa e deixaram um apelo: ouvir mais as empresas e garantir estabilidade nas decisões para que o setor possa criar valor num mundo em mudança.

19 de Maio de 2025 às 11:39

Num momento particularmente simbólico para a AGEFE, que este ano celebra o seu 50.º aniversário, o Evento Setorial de Material Elétrico reuniu em Ílhavo empresas e especialistas para discutir os desafios e as oportunidades que marcam o setor. Sob o mote "Criar valor num mundo em mudança", o evento ficou marcado por intervenções estratégicas, uma análise aprofundada da conjuntura económica e energética, e um workshop colaborativo que permitiu identificar prioridades comuns e caminhos futuros.

Luís Fonseca, presidente do Conselho Setorial de Material Elétrico da AGEFE, destacou o simbolismo especial do evento deste ano, por coincidir com o 50.º aniversário da associação e com uma conjuntura particularmente desafiante. "Vivemos períodos desafiantes, mas ao mesmo tempo também repletos de oportunidades", referiu na abertura. A complexidade do contexto atual – marcado por incertezas globais e profundas transformações tecnológicas – torna particularmente relevante o mote do evento. Para Luís Fonseca, cabe à AGEFE assumir um papel de facilitador e catalisador: "A nossa missão é refletir, debater e identificar os principais eixos que possam orientar as estratégias das nossas empresa." Defendendo um ecossistema assente na inovação, na sustentabilidade, na digitalização e no conhecimento, o dirigente sublinhou ainda a importância de estimular a colaboração entre empresas, governo e parceiros. "É meu desejo que este encontro seja uma reflexão, uma troca de experiências, uma troca de ideias", concluiu.

Nuno Lameiras, presidente da AGEFE, destacou no evento a forte concorrência no setor do material elétrico, caracterizado por uma disputa diária intensa. "O setor do material elétrico é particularmente concorrencial, muito feroz", reconheceu, sublinhando, porém, a capacidade demonstrada pelas empresas em ultrapassar essas rivalidades em nome de uma visão coletiva. "A capacidade que o setor tem de se encontrar e deixar as questões concorrenciais é, de facto, assinalável." Para Nuno Lameiras, o associativismo desempenha aqui um papel decisivo. "Este exercício de associativismo que se faz aqui é um ativo do setor e arrisco dizer que é um ativo do movimento associativo em Portugal", afirmou.

A celebração dos 50 anos da AGEFE foi também, segundo o responsável, um momento de afirmação: "Aos 50 anos, conseguimos encontrar uma consciência coletiva dos três setores que denominamos a indústria eletrodigital." E concluiu, reforçando o papel estratégico destas empresas: "As nossas indústrias não só lidam com os grandes desafios da atualidade, como são fundamentais para concretizar transições como a energética, a digital ou a climática."

Vivemos períodos desafiantes, mas ao mesmo tempo também repletos de oportunidades.Luís Fonseca, presidente do Conselho Setorial de Material Elétrico da AGEFE

No centro dos desígnios estratégicos

Nuno Ribeiro da Silva, professor e consultor em energia, contextualizou neste evento os desafios da transição energética, salientando o papel da indústria eletrodigital como núcleo das transformações em curso. "A indústria eletrodigital está no centro dos grandes objetivos da digitalização e da transição energética", afirmou, destacando o impacto desta nas áreas da cibersegurança, eficiência energética e reindustrialização europeia. Segundo o especialista, a responsabilidade das empresas é imensa: "Estão no palco e no centro dos grandes desígnios estratégicos", num cenário competitivo dominado por grupos asiáticos. A partir de um artigo de sua autoria, questionou o ritmo real da mudança: "Estamos numa transição energética ou ainda numa adição energética?", alertando que, apesar dos avanços, o consumo de carvão e petróleo atingiu máximos históricos e as emissões de gases com efeito de estufa continuam muito acima da meta para 2030.

A comparação com transições energéticas anteriores, que duraram séculos, ajuda a perceber a complexidade da atual, que é imposta por exigências ambientais e políticas. "Esta mudança é muito mais complicada e onerosa do que se previa", sublinhou.

Apontando a dimensão técnica da transição, defendeu que "não é só energia, é mudar equipamentos, hábitos e cultura", lembrando que passar da mobilidade a combustão para a elétrica implica substituir cerca de seis mil milhões de motores.

Em relação a Portugal, recordou a histórica dependência energética e a perda de relevância na produção de equipamentos. No entanto, vê sinais de esperança. "Há equipamentos que não exigem escalas industriais gigantes, o que nos permite regressar à linha de partida", referiu. E destacou a diversidade de recursos nacionais: "Temos sol, vento, água, biomassa e mar. Isso não é comum na bacia do Mediterrâneo."

Setor de Material Elétrico apela a decisões estruturadas e diálogo com o Estado

O efeito Trump

António Ramalho, presidente da Touro Capital Partners, trouxe uma visão macroeconómica sobre o impacto das decisões políticas globais no setor do material elétrico. Referiu-se a Donald Trump como símbolo dos riscos de curto prazo e a Mario Draghi como resposta europeia de médio prazo. "Trump igual a tarifas", resumiu, alertando para o impacto inflacionista dessa política e para o risco de uma segunda vaga de inflação, estrutural e duradoura. Na sua visão, Draghi representa uma abordagem estratégica à estagnação europeia, marcada por "ignorância tecnológica" e dificuldade em adaptar-se à revolução digital. A Europa enfrenta três desafios centrais: reduzir o atraso na inovação, descarbonizar a economia e diminuir a dependência externa – sobretudo em energia, na qual os custos são muito superiores aos dos EUA. António Ramalho alertou para a fragmentação dos mercados europeus e a ausência de políticas conjuntas como obstáculos à competitividade.

O especialista destacou ainda tendências estruturais como a transição energética, a inteligência artificial e os desafios demográficos, lembrando que a sustentabilidade da Segurança Social depende hoje das contribuições dos imigrantes. A desglobalização é outra mudança inevitável, mas que pode representar uma oportunidade para esta indústria. "O vosso setor viveu uma revolução silenciosa com a queda dos preços do solar. Mas sendo maduro, tem de passar da oferta para a procura", apontou.

O especialista alertou ainda para o risco de comoditização: "Se o produto for igual, só interessa o preço. E isso destrói a nossa cultura europeia de inovação e diferenciação." E concluiu com um apelo à ação: "Como setor maduro, enfrentam grandes desafios. Como setor de ponta, ainda podem moldar a resposta à procura."

O vosso setor viveu uma revolução silenciosa com a queda dos preços do solar. Mas sendo maduro, tem de passar da oferta para a procura.António Ramalho, presidente da Touro Capital Partners

Workshop aprofunda setor

Após um debate que reforçou o papel central do setor eletrodigital nas transições energética e digital, alertando para os bloqueios estruturais, a necessidade de um Estado mais estratégico e o imperativo de alinhar oferta e procura num modelo de criação de valor sustentável, o evento teve um workshop colaborativo sobre condições para criar valor que se centrou em quatro eixos temáticos fundamentais: a eficiência e redução de custos, a captação de valor através da transformação da procura, a transformação da atividade e capacitação da oferta e as novas oportunidades no contexto económico atual, com enfoque no potencial de Portugal como hub. O exercício contou com a participação ativa de todos os presentes, refletida em discussões dinâmicas e numa ampla diversidade de contributos ao longo das sessões de trabalho.

As ideias e contributos recolhidos foram posteriormente analisados pela equipa da EY, que os consolidou e apresentou em plenário. Esta síntese em sessão plenária permitiu apontar os principais insights e recomendações emergentes de cada eixo temático, alinhando-os com os objetivos estratégicos definidos para o setor. A partilha conjunta dos resultados reforçou a transparência do processo e garantiu que todas as perspetivas relevantes fossem consideradas na formulação de encaminhamentos futuros.

No fundo, a dinâmica colaborativa do workshop – marcada pelo forte envolvimento dos participantes e pela diversidade de perspetivas partilhadas – gerou valor tangível para o projeto que a associação se encontra a desenvolver. Os contributos recolhidos não só evidenciaram os desafios e as oportunidades atuais, como também forneceram subsídios importantes para orientar iniciativas concretas. Desta forma, o setor marcou o ponto de partida para um Projeto mais vasto que a AGEFE se propõe realizar quanto à criação de condições para o desenvolvimento competitivo no nosso País de todos os setores que representa, em parceria com a EY e com o apoio do FEDER, Portugal 2030 e União Europeia.

Temos sol, vento, água, biomassa e mar. Isso não é comum na bacia do Mediterrâneo.Nuno Ribeiro da Silva, professor e consultor de energia

Conclusões do workshop "Condições para criar valor"

Eixo A – Eficiência/redução de custos

A discussão destacou a necessidade urgente de automatização e digitalização de processos logísticos e administrativos, como caminho para uma maior eficiência e competitividade. A adoção de tecnologias emergentes, como inteligência artificial, foi encarada como uma oportunidade concreta, especialmente em resposta à escassez de mão de obra qualificada.

Foram ainda identificados entraves como o excesso de burocracia, a baixa qualificação tecnológica e a dificuldade no acesso a investimento, sendo apontada a formação contínua, a colaboração com entidades formadoras e a promoção da cultura de inovação como instrumentos essenciais para ultrapassar estes desafios.

Eixo B – Captar mais valor pela transformação da procura

Concluiu-se que o setor ainda comunica pouco e mal com o cliente final, que continua a ver os produtos elétricos como meras "commodities", e não como soluções de valor acrescentado. Há aqui uma oportunidade clara de posicionamento, através da diferenciação, da comunicação multicanal e da valorização da marca.

Foi também evidente a necessidade de fomentar parcerias estratégicas entre fabricantes, distribuidores e instaladores, para oferecer soluções completas e não apenas produtos isolados. A internacionalização, a regulamentação técnica ajustada e o reforço da literacia do consumidor foram apontados como eixos complementares para gerar mais valor ao longo da cadeia.

Eixo C – Transformar a atividade, capacitar a oferta

As conclusões centraram-se no papel estratégico da formação e da qualificação de recursos humanos, reconhecendo-se que a transformação do setor exige uma aposta firme na requalificação interna e na atração de talento jovem. Também aqui a ligação com universidades e centros de conhecimento foi vista como fundamental.

Destacou-se igualmente a importância de o setor saber antecipar tendências – e não apenas responder –, investindo em áreas como automação, eficiência energética, mobilidade elétrica e digitalização. Sublinhou-se, ainda, a necessidade de clareza estratégica por parte das empresas, que devem definir melhor o seu posicionamento e valorizar a inovação como ativo competitivo.

Eixo D – Novo contexto, novas oportunidades/Portugal como hub

Reconheceu-se que Portugal reúne condições únicas para se afirmar como plataforma industrial e tecnológica, em áreas como energias renováveis, data centers ou mobilidade elétrica. A localização geográfica, a segurança, a qualificação da mão de obra e o custo competitivo foram mencionados como fatores diferenciadores.

Foram, no entanto, identificados entraves como a burocracia excessiva, a escassez de talento, a rigidez laboral e os salários pouco atrativos, que dificultam a retenção e a atração de investimento estrangeiro. Houve consenso sobre a necessidade de uma melhor promoção internacional do setor tecnológico português, com a AGEFE a assumir um papel ativo no lóbi institucional, promoção externa e estímulo à colaboração interempresarial.

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