A Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) é considerada como um parceiro-chave na fileira da construção e do imobiliário. Segundo o seu presidente, Paulo Caiado, esta associação "contribui, pela sua ação, para encontrar as melhores soluções para todos os problemas que afetam o setor imobiliário, a montante e a jusante do próprio ato da transação imobiliária".
Qual é a perspetiva da APEMIP sobre a evolução recente do mercado imobiliário e da atividade de reabilitação urbana?
Há fatores que importa relevar e que ocorreram nos últimos anos na nossa sociedade. Por um lado, a constatação da necessidade de maior intervenção do Estado na construção e reabilitação de casas para suprir as necessidades do mercado e de uma população que não encontra habitação, pelo preço das casas no mercado, e pelo preço das poucas frações em arrendamento. As necessidades são muitas, a oferta é escassa e isso compreende-se pelo temor interventivo de sucessivos governos, que pensavam que o mercado, só por si, resolveria a questão. Ora essa consensualização é positiva para a resolução do problema, pois traduz, também, uma mudança de mentalidades.
Essa mudança de mentalidades vai conduzir à ação, por via dos meios disponibilizados pelo PRR?
O PRR veio fornecer a Portugal meios financeiros necessários a uma intervenção significativa do Estado e das autarquias na promoção e reabilitação do mercado habitacional público e privado. A oferta irá aumentar significativamente, não só pelas consequências diretas da afetação dos mais de 2,7 mil milhões de euros do PRR a nova edificação, como, também, pela previsível resposta do setor privado à escassez de oferta imobiliária.
Constatámos, talvez pela primeira vez, que há urgência, há pressa em concretizar respostas. O que resulta tanto da dimensão do problema, principalmente nas grandes cidades e suas periferias, como dos prazos curtos a que a execução do PRR obriga. Essa urgência, assim como o aumento do preço dos materiais e da mão de obra, e a sua escassez, colocam a necessidade de mudanças significativas no processo construtivo. As nossas empresas de construção estão confrontadas com a necessidade de se reciclarem, adaptando-se a métodos de pré-construção industrializados, significativamente mais baratos, mais expeditos e, também, energeticamente muito eficientes.
Neste contexto, quais são as perspetivas para este mercado em 2023?
Em 2022, o imobiliário residencial terá chegado aos 31 mil milhões de euros resultante da transação de mais de 168 mil casas. Não obstante o aumento das taxas de juro a que temos assistido, as casas não deixarão de se vender. O mercado é muito diverso, quer pela diversidade social e respetivo poder de compra, quer pelas particularidades regionais.
Creio que 2023 vai ser marcado pela estabilização dos preços nas grandes cidades de Lisboa e do Porto, e pelo aumento do preço das casas em regiões periféricas, que têm vindo a ganhar um incremento de procura. Acreditamos que irão surgir, já com algum fulgor e expressão, projetos em construção e reabilitação resultantes da aplicação dos fundos do PRR.
O PRR não terá já um impacto significativo no mercado?
Deverá ter um impacto muito significativo, que só poderá ser medido com rigor no final de 2026. Um impacto com expressão verdadeiramente nacional. Os programas a ele associados visam, de uma forma geral, responder àquilo a que eu chamo o mercado dos "excluídos". Os que necessitam de casa, mas não têm meios para a adquirir no mercado livre, nem as encontram no designado mercado de arrendamento que, no nosso país, tem, infelizmente, tão pouca expressão.
Que outros desafios identificam no mercado imobiliário?
Seria importante indagar os reais motivos por que, em Portugal, não obstante as carências habitacionais, se encontram devolutas mais de 720 mil casas! Os motivos seguramente serão diversos, muitas dessas casas poderão necessitar de intervenções relevantes, algumas poderão estar em litígios entre proprietários, outras serão apenas e muito legitimamente parte do património de alguém.
No entanto, representam atualmente mais de 10% do total de habitações que existem no país...! Estudar a viabilidade de integrar na oferta de mercado parte destas casas seria um bom começo. Perceber se os seus proprietários estão interessados em colocá-las no mercado, e procurar entender o que o Estado deveria fazer para que isso aconteça.
APEMIP destaca-se no mercado imobiliário
A Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) foi constituída em 2004 por fusão das duas associações empresariais então existentes no setor. É uma entidade sem fins lucrativos, que ocupa hoje uma posição reconhecidamente destacada no mercado imobiliário nacional, lutando pela afirmação do papel do profissional de mediação imobiliária.
Para Paulo Caiado "a mediação imobiliária é constituída por uma realidade diversa e complementar: por um lado as empresas de mediação e, por outro, os agentes imobiliários, por conta de outrem ou por conta própria". Neste contexto, é intenção da direção da APEMIP eleita para o triénio 2023-2025 "acolher todos os profissionais da mediação imobiliária" na associação. "Só assim a APEMIP poderá ganhar força, representatividade, prestígio e notoriedade nacional e internacional. Trata-se de responder a uma realidade que muitos outros países conhecem e alguns já resolveram", afirma.
Para o curto prazo, Paulo Caiado sublinha, uma das medidas a concretizar é "a integral renovação do portal CasaYes para se afirmar como a verdadeira plataforma do setor da mediação imobiliária, o ‘sítio’ privilegiado da apresentação da oferta imobiliária". Outra vertente de atuação da APEMIP nestes três anos "será a intensificação e o aprofundamento dos cursos de formação a todos os que trabalham no setor". "Mais mediação e, sobretudo, melhor e mais respeitada mediação: esse é o nosso propósito", esclarece Paulo Caiado.