Lagarde defende "atenção especial" dos supervisores às margens de lucro
A presidente do Banco Central Europeu (BCE) defendeu que as autoridades de supervisão de concorrência na Zona Euro dediquem uma "atenção especial" às margens de lucro e ao efeito que tiveram na inflação, insistindo que as empresas devem assumir uma maior parte da subida de preços para evitar uma espiral inflacionista.
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"Há muitas ferramentas disponíveis, relacionadas com o nível de concorrência, impostos... Mas eu pensaria também em aumentar a concorrência através de uma revisão mais direcionada de possíveis práticas de concertação e acordo de preços entre alguns 'players' de mercado, o que exige uma atenção especial das autoridades de supervisão de concorrência", afirmou Christine Lagarde, nesta segunda-feira, 20 de março
A líder do BCE está a ser ouvida no Parlamento Europeu e respondia assim a uma questão do eurodeputado espanhol Jonás Fernández (S&P), que, dado que as margens de lucro das empresas têm puxado mais a inflação do que a subida dos salários, quis saber quais seriam as recomendações de Lagarde para os governos da Zona Euro para responder a esses efeitos.
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Tal como tinha feito na passada quinta-feira, depois da reunião de política monetária, Lagarde insistiu que "para se evitar um risco de espiral inflacionista é importante que haja uma boa partilha dos custos" relacionados com a subida de preços entre capital e trabalho, lucros e salários.
Embora a banqueira central tenha sublinhando que não é do âmbito do BCE fazer recomendações nesta área, a responsável admitiu que a preocupação são os "efeitos de segunda ordem" que podem desancorar as expectativas de inflação em níveis muito distantes do objetivo de médio prazo (os 2%). Ainda assim, frisou, "devem ser as autoridades a pensar nas ferramentas".
Lagarde lembrou que em muitos setores "as margens de lucro subiram, e se não subiram pelo menos manteram-se praticamente inalteradas", o que é um "fenómeno" que não era esperado, dada a subida de custos de produção que afetam muitos setores (dada a subida de preço da energia, os constrangimentos nas cadeias de abastecimento, etc).
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E para isso citou um gráfico com cálculos do BCE - que foi distribuído aos eurodeputados - que demonstra como os lucros, na esmagadora maioria dos diferentes setores de atividade, puxaram pela inflação (tal como o Negócios já tinha noticiado, com base nos mesmos dados).
BCE ainda não vê efeitos da subida de salários na inflaçãoPor outro lado, e em resposta a questões do deputado belga Johan van Overtveldt (CRE), quis saber se o BCE já vê efeitos de segunda ordem na inflação causados pela subida dos salários (mais acentuada no arranque de 2023).
"Há uma recuperação dos salários que é normal. Há sempre um atraso, mas agora vemo-lo de forma clara. Mas há efeitos de segunda ordem? Isso precisa de ser avaliado. Não estamos a ver que estejam fora do ritmo da inflação, nem fatores de segunda ordem que seriam preocupantes", respondeu Lagarde.
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Ainda assim, a líder do BCE admitiu que haverá uma informação mais detalhada agora na primavera sobre a evolução de salários e dos efeitos da negociação coletiva na Zona Euro.
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