Pandemia reduz volumes de comércio em portos globais

O choque mais repentino e de maior impacto para a economia global em pelo menos uma geração está a ser sentido em portos e outros centros de comércio internacional, com a batalha da Europa e Estados Unidos para conter a pandemia de coronavírus.
Paulo Duarte
Bloomberg 29 de Março de 2020 às 15:00

Nem crises modernas como a Grande Recessão, os ataques de 11 de setembro e a crise do petróleo de 1973 limitaram os fluxos comerciais com a rapidez e a força do covid-19.

E nem mesmo a Segunda Guerra Mundial provocou o nocaute económico que paralisa as cadeias de fornecimento globais e quase silencia as cidades mais movimentadas do mundo desenvolvido, onde os consumidores estão em casa e as empresas fechadas.

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"Isso pode ser visto como um cenário de guerra sem a destruição de ativos físicos", disse o economista-chefe da Organização Mundial do Comércio, Robert Koopman, em entrevista à Bloomberg por telefone.

Pandemia reduz volumes de comércio em portos globais

Os dados de alguns dos portos mais movimentados do mundo, que já mostravam uma quebra do tráfego de cargas com a economia da China fechada nos últimos dois meses, revelam a imagem preocupante de um colapso que muitos economistas acreditam que irá persistir no primeiro semestre.

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Os volumes de importação e exportação dos EUA desaceleraram nas semanas anteriores aos confinamentos de cidades do país, de acordo com dados da IHS Markit compilados pela Bloomberg. As exportações dos EUA foram particularmente afetadas, e esses números devem ser acompanhados de perto nos próximos dias para dimensionar a gravidade da crise.

O Porto de Xangai, o maior do mundo, registou queda de 20% da movimentação de contentores em fevereiro na comparação anual, de acordo com o Departamento Municipal de Estatísticas de Xangai. No mês passado, o volume de cargas no Porto de Long Beach caiu 9,8% em relação ao mesmo período do ano passado, e a movimentação total de contentores no Porto de Hong Kong baixou 11%.

Paragem repentina

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"Vemos um declínio muito acentuado e sem precedentes do comércio, principalmente por causa da velocidade com que está a acontecer", disse Phil Levy, ex-economista da Casa Branca, em entrevista por telefone.

"Se já começamos a equiparar-nos às estatísticas da Grande Recessão, isso significa que estamos a caminho do recorde moderno", disse Levy, que é agora economista-chefe da empresa de logística Flexport.

Poucas economias foram poupadas da ira do vírus, especialmente as da Europa, atualmente o epicentro da pandemia.

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O maior porto marítimo da Europa, em Roterdão, registou uma queda "significativa" dos volumes de movimentação de todos os fluxos de carga nos últimos três meses, disse Leon Willems, porta-voz do Porto de Roterdão.

"A pandemia tem interrompido as cadeias de produção e logística a nível global", disse Willems por e-mail. "Há uma probabilidade realista de o volume de movimentação para 2020 ser significativamente menor do que nos últimos dois anos.

"Até a China, que recupera lentamente depois dos primeiros casos de coronavírus surgidos em dezembro, ainda enfrenta problemas para voltar a pôr em marcha as cadeias de fornecimento paralisadas.

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