Estudo indica que digitalização em Portugal terá contribuído para um aumento de 13% do PIB
No total, "o setor digital ajuda a sustentar cerca de 3 milhões de empregos, a gerar 90 mil milhões de euros em valor acrescentado bruto e a contribuir com 30 mil milhões de receita fiscal".
A digitalização terá contribuído para um aumento de 13% do PIB e a IA é hoje o principal motor de produtividade e disrupção, referem à Lusa os autores do estudo do Impacto da Economia Digital em Portugal.
Questionado sobre quais dados que destaca, Filipe Grilo, coordenador científico do estudo feito pela ACEPI e GoingNext, em parceria com a Porto Business School, sublinhou que este "sugere que a digitalização tenha contribuído para um aumento de 13% do PIB [produto interno bruto] português, 19% do emprego e 13% dos salários".
De acordo com o professor da Porto Business School, "este impacto vai muito além das empresas tecnológicas: abrange todos os setores que integram ferramentas digitais nas suas operações", da indústria ao retalho, agricultura, logística ou turismo.
No total, "o setor digital ajuda a sustentar cerca de 3 milhões de empregos, a gerar 90 mil milhões de euros em valor acrescentado bruto e a contribuir com 30 mil milhões de receita fiscal".
Por exemplo, só o núcleo tecnológico --- o chamado 'setor puro digital' --- "representa já 500 mil postos de trabalho e 17 mil milhões de euros em valor acrescentado, com um efeito multiplicador de 2,7 sobre a economia portuguesa: por cada euro gerado, cria-se quase o triplo em valor económico total", prosseguiu.
"Estes números deixam claro que o digital não é apenas um setor, mas sim um motor transversal de modernização e crescimento estrutural, com impacto direto e indireto em toda a economia", disse Filipe Grilo.
Portugal "já não está estruturalmente atrasado em termos de acesso à tecnologia, temos redes, temos software, temos infraestruturas", agora o desafio é "usar o digital com inteligência para transformar os modelos de negócio, os processos internos e a forma como se cria valor", referiu o professor.
"E é aí que continua a existir um bloqueio estrutural em Portugal --- muitas vezes, a tecnologia é adotada, mas não é bem integrada, fica à superfície" e este bloqueio "está ligado a um problema mais profundo: um défice crónico de qualidade de gestão, que se reflete na dificuldade em alinhar pessoas, processos e tecnologia de forma consistente", apontou Filipe Grilo.
A transformação digital "exige liderança com visão, capacidade de execução e métricas claras --- e isso não se resolve com software, resolve-se com competência organizacional", salientou, referindo que "é nesse plano que instituições como a Porto Business School procuram intervir, ajudando empresas e gestores a desenvolver a maturidade necessária para que o digital produza resultados reais --- não só nos indicadores tecnológicos, mas sobretudo na produtividade, competitividade e criação de valor".
Sobre o papel da inteligência artificial (IA), Gabriel Coimbra, 'partner' da GoingNext, apontou que esta é "hoje o principal motor de produtividade e disrupção económica em Portugal, atuando como catalisador da transformação digital em praticamente todos os setores".
O estudo identifica que a IA pode ser aplicada em três eixos: automatização e eficiência operacional; criação de valor e novos modelos de negócio; e transformação estrutural do setor público, elencou.
Mais de três quartos (77%) das empresas que usam IA "já reportam ganhos concretos de produtividade, sobretudo através da automação de tarefas repetitivas, da análise de dados e da melhoria do serviço ao cliente. Mas é preciso muito mais, principalmente ao nível da criação de valor e novos modelos de negócio", acrescentou.
Por outro lado, "a IA permite desenvolver produtos e serviços baseados em dados, personalização em tempo real e soluções 'as-a-service', reforçando a competitividade nacional, é onde estamos mais atrasados", apontou Gabriel Coimbra.
"O estudo conclui que Portugal reúne condições sólidas para liderar a nova fase de inovação digital, com infraestruturas robustas, talento qualificado e um ecossistema empresarial cada vez mais preparado para integrar IA nos seus processos produtivos, saúde, educação e administração pública, mas é preciso acelerar ainda mais a adoção e criação de valor a curto e médio prazo", rematou o responsável.
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