Mithá Ribeiro acusa André Ventura de ser um “predador narcísico” e abandona o Chega
Ex-vice-presidente do Chega diz ter sido alvo de um “processo de humilhação” depois de ter sido excluído do governo-sombra.
Gabriel Mithá Ribeiro anunciou a sua saída do Chega e acusa o líder do partido, André Ventura, de ter comportamentos “narcísicos” e "vingativos". Num artigo de opinião publicado no jornal Observador, Mithá Ribeiro diz ainda que o partido é “cada vez mais disfuncional no sentido patológico do termo”.
Mithá Ribeiro diz ter sido alvo de um “processo de humilhação” ao ter sido excluído do recente governo-sombra apresentado por André Ventura, indicando esse como o momento em que decidiu abandonar o partido. “Num governo-sombra que integra ministros independentes e ministros do partido, excluir-me foi a última tentativa do meu assassinato cívico que poderia tolerar”, escreve no artigo intitulado "André Ventura: os 7 pecados mortais do predador narcísico".
“Estou a lidar com um predador narcísico movido por um demónio vingativo”, afirmou o ex-deputado, descrevendo o comportamento do líder do Chega como “autoritário” e “obsessivo com o controlo do partido”. Mithá Ribeiro acusa Ventura de ter destruído o cariz "reformista" do partido inicial, processo que terá começado em 2022, quando terá imposto as suas visões ao gabinete de estudos do Chega. "Os anos seguintes confirmaram a pulsão autocrática destrutiva de reformas de André Ventura, traço de personalidade impossível de o tornar um governante responsável”, sublinha.
Sobre essa saída do gabinete de estudos, escreve: "Em agosto de 2022, minutos depois dessa primeira publicação até hoje discreta, recebi um telefonema intempestivo, agressivo e insultuoso de André Ventura a exigir que retirasse de imediato o texto da minha página de deputado. Respondi que não o faria sugerindo uma conversa menos acesa no dia seguinte, até porque ficaria melindrada a abertura do partido aos meios académicos e intelectuais. André Ventura desligou abruptamente a chamada. Antes de qualquer nova conversa, no dia seguinte fiquei a saber, pelas notícias, que tinha sido afastado da coordenação do Gabinete de Estudos”.
“André Ventura é demasiado inteligente para, ao fim de quatro anos, não compreender ser o primeiro e principal traidor da essência política formalmente instituída pelo seu próprio partido, mas a sua impossibilidade de olhar o meio envolvente sem o filtro narcísico move-o numa cruzada insana contra o sujeito coletivo", afirma ainda no artigo o investigador.
Mithá Ribeiro diz que André Ventura "mudou para sempre Portugal ao escancarar as portas da liberdade à direita", mas insiste: "a sua personalidade tóxica envenena o que ele mesmo semeou numa direita que não mais se pode permitir a si mesma ser infantil, primária, imoral, irracional, irresponsável, submissa a um dono".
Historiador e professor universitário, Mithá Ribeiro foi um dos fundadores do Chega e uma das figuras mais próximas de Ventura nos primeiros anos do partido.
No dia 22 de setembro o grupo parlamentar do Chega anunciou que Mithá Ribeiro tinha pedido a renúncia ao mandato de deputado e que seria substituído por Rui Fernandes, sem revelar os motivos desta decisão.
Na semana seguinte, Mithá Ribeiro anunciou a desistência da sua candidatura à presidência da Câmara Municipal de Pombal.
Mithá Ribeiro foi eleito deputado na XV, XVI e XVII legislaturas, sempre pelo círculo de Leiria, tendo sido reconduzido como secretário da mesa da Assembleia da República em junho passado, depois das eleições legislativas antecipadas.
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