Câncio: Nunca fui sustentada por Sócrates
Fernanda Câncio, jornalista do Diário de Notícias que foi namorada de José Sócrates, defende-se das acusações públicas que lhe são feitas a propósito do processo Operação Marquês. Num longo texto publicado na Visão, Câncio insurge-se, em particular, contra a ideia de que teria beneficiado e até saberia da origem ilícita do dinheiro de José Sócrates. Queixa-se, em particular, do Correio da Manhã, do Sol e da justiça onde diz não ter encontrado o apoio devido para se defender de "calúnias".
PUB
"Nunca solicitei ou recebi de José Sócrates – nem de Carlos Santos Silva, evidentemente – quaisquer quantias em dinheiro fosse a que título fosse. (…) É uma calúnia que publicações e o canal do grupo Cofina [a que pertence o Negócios], assim como o Sol, refiram ou sugiram sistematicamente que estou incluída num 'grupo de mulheres' que seriam 'sustentadas' por José Sócrates e Carlos Santos Silva".
Jornalistas do Correio da Manhã, assistentes no processo da Operação Marquês, pediram que Câncio fosse constituída arguida, tal como a ex-mulher de Sócrates Sofia Fava, por considerarem existir fortes indícios de que ambas sabiam da origem ilícita do dinheiro do ex-primeiro-ministro e o ajudaram a encobri-lo. Sofia Fava foi, entretanto, constituída arguida pelo Ministério Público – Fernanda Câncio não.
PUB
A grande repórter do Diário de Notícias lamenta a incapacidade do Ministério Público (MP) de travar "as repetidas violações do segredo de justiça" e as "imputações falsas" que se diz alvo, sendo essa a razão que a levou a prestar esclarecimentos públicos, algo que confessa fazer "com imensa repugnância e tristeza. "Falar? Calar? Qual a melhor forma de lidar com a calúnia?" questiona logo no início do seu texto, no qual diz ponderar há cinco meses o que fazer e que decidiu agora falar "sem esperar milagres, talvez esperando nada, mas chega".
Ao longo do seu testemunho, revela que "há uma série de factos que foram revelados e assumidos por José Sócrates e Carlos Santos Silva depois de Novembro de 2014 dos quais eu não fazia a mínima ideia". Que factos? Que Sócrates vivia de empréstimos do amigo, que a ex-mulher trabalhava numa empresa desse amigo, que esse mesmo amigo dera uma garantia bancária para Sofia Fava comprar um monte no Alentejo, que era o amigo o proprietário de um apartamento em Paris que Sócrates usara.
PUB
Confirma que o ex-primeiro-ministro levava um estilo de vida luxuoso, mas que nunca desconfiou da origem do dinheiro porque este provinha de uma família que vivia com "desafogo" e lhe havia dito que recebia uma avença mensal de 25 mil euros.
"Nunca assisti a gastos que me parecessem ir além das possibilidades de alguém com acesso a um confortável pecúlio familiar e um bom ordenado. Almoçar e jantar em bons restaurantes, vestir-se em boas lojas, sim; mas conheço imensas pessoas que frequentam os mesmos restaurantes e comoram nas mesmas lojas. Não sou aliás a única pessoa do círculo de José Sócrates a ter ficado surpresa com aquilo que se publica como sendo os seus gastos".
PUB
Foi por isso que recebeu com "choque" a detenção de José Sócrates e Carlos Santos Silva. "Se fizesse ideia da relação pecuniária entre Santos Silva e Sócrates teria feito perguntas por considerar a situação, no mínimo, eticamente reprovável", afirma Fernanda Câncio.
Saber mais sobre...
Saber mais Fernanda Câncio José Sócrates Operação Marquês Correio da Manhã Carlos Santos Silva Negócios grupo Cofina Sócrates Sofia Fava Ministério PúblicoMais lidas
O Negócios recomenda