pixel

Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Notícias em Destaque

Ocidente teme avanço chinês sobre mina de volfrâmio no Vietname

A mina vietnamita de Nui Phao ganhou centralidade nas disputas globais por matérias-primas estratégicas.

 Ocidente teme avanço chinês sobre mina no Vietname
Ocidente teme avanço chinês sobre mina no Vietname Vincent Thian / AP
02 de Setembro de 2025 às 13:17

O complexo de volfrâmio (mineral conhecido também como tungsténio) Nui Phao, no norte do Vietname, tornou-se uma peça central nas disputas globais por matérias-primas críticas. Diplomatas norte-americanos e europeus têm manifestado crescente preocupação com a possibilidade de o ativo, operado pela Masan High-Tech Materials, passar a estar sob influência chinesa. A apreensão surge porque o tungsténio é classificado como mineral essencial para , e a China, já dominante, tem reforçado o controlo às exportações.

Segundo a Reuters, há empresas chinesas a sondar grupos estrangeiros para funcionarem como intermediários em potenciais propostas de compra, numa tentativa de ocultar a origem dos interesses. Essa movimentação levou representantes ocidentais a realizarem visitas frequentes à mina e à refinaria, interpretadas como gestos de “apoio político” para evitar que o fornecimento de tungsténio seja "capturado" por Pequim.

A importância de Nui Phao explica-se pelos números. O complexo é responsável por praticamente toda a produção vietnamita de volfrâmio, cerca de 3.400 toneladas anuais, o que posiciona o Vietname como o segundo maior produtor mundial, atrás apenas da China. A refinaria associada, uma das maiores fora do território chinês, tem capacidade de processar até 6.500 toneladas por ano de produtos como óxidos e APT (paratungstato de amónio), justamente aqueles que foram alvo de restrições de exportação impostas por Pequim.

A política chinesa de controlo sobre minerais críticos foi reforçada em fevereiro de 2025, quando o governo ampliou a lista de matérias-primas sujeitas a licenciamento para exportação. Entre elas, incluem-se tungsténio, molibdénio, bismuto, índio e telúrio. Como noticiou a Reuters e confirmou a , o regime de licenças passou a abranger compostos refinados de alto valor, criando barreiras adicionais para consumidores internacionais.

O efeito foi imediato: os preços dispararam. revelam que o APT atingiu 400 dólares por tonelada na Europa, o valor mais alto desde 2013, enquanto relatórios especializados, como os da Quest Metals, indicam aumentos acima de 40% em alguns mercados.

Impacto no Ocidente e dilemas para o Vietname

O impacto sobre os EUA e a Europa é direto. Segundo a consultora Project Blue, também citada pela Reuters, o volfrâmio vietnamita representou 22% das importações norte-americanas e 8% das importações europeias em 2023. Perder acesso privilegiado a esse fornecimento significaria aumentar a dependência de um mercado cada vez mais condicionado pelas restrições chinesas.

A relação entre o Vietname e a China, no entanto, é complexa. Embora Hanói tenha bloqueado investimentos chineses em setores considerados sensíveis, abriu espaço para Pequim em áreas como a manufatura e as infraestruturas. Também em abril deste ano, o em áreas como a inteligência artificial, comércio agrícola e cooperação aduaneira, como forma de colaboração face à

O complexo Nui Phao enfrenta ainda um desafio adicional: a incerteza regulatória. A licença da mina expira em 2028 e eventuais atrasos na renovação poderiam obrigar a refinaria a reduzir operações antes mesmo do fim do prazo. Essa incerteza regulatória junta-se às dificuldades financeiras da Masan, que já vendeu a sua unidade de tungsténio na Alemanha em 2024 e tem lutado para manter a exploração lucrativa.

Apesar das dificuldades enfrentadas pela Masan, o aumento global dos preços do APT cria um ambiente mais favorável para a operação vietnamita. Dados da Reuters e da Mining.com indicam que o APT atingiu 400 dólares por tonelada métrica na Europa, valor mais alto em mais de uma década, impulsionado pelas restrições chinesas às exportações. Esse contexto reforça o papel do Vietname como uma fonte estratégica de volfrâmio fora da China, aumentando a relevância do complexo Nui Phao no mercado global

A disputa em torno de Nui Phao ilustra, portanto, a interseção entre economia, segurança e geopolítica. Para o Ocidente, manter o controlo sobre a mina significa preservar uma das poucas fontes relevantes de tungsténio fora da China. Para Hanói, trata-se de gerir um ativo estratégico num campo minado de pressões externas, onde a busca por investimento se cruza com o imperativo de manter autonomia nacional.

Ver comentários
Publicidade
C•Studio