Fabricantes de carros dizem "não ser viável" o prazo para fim dos motores poluentes na UE

Dependência externa e custos crescentes alimentam dúvidas sobre o ritmo da descarbonização automóvel na Europa.
João Cortesão
João Silva Jesus 27 de Agosto de 2025 às 13:10

A indústria automóvel europeia considera que a meta da União Europeia para acabar com a venda de carros com motor de combustão em 2035 deixou de ser realista. Num apelo conjunto enviado à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, as associações que representam fabricantes e fornecedores alertaram que os prazos estabelecidos “são simplesmente impossíveis de cumprir nas condições atuais”, cita a Bloomberg.

A carta é assinada por Ola Källenius, presidente da Associação Europeia de Construtores de Automóveis (ACEA) e também presidente-executivo da Mercedes-Benz, e por Matthias Zink, líder da Associação Europeia de Fornecedores da Indústria Automóvel (CLEPA) e executivo da Schaeffler. “O plano de transformação da Europa para o setor automóvel tem de ir além do idealismo e reconhecer as realidades industriais e geopolíticas atuais”, escreveram os dirigentes, sublinhando que “atingir as metas de CO2 para 2030 e 2035, no mundo de hoje, já não é viável”.

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O apelo surge num momento de crescente tensão entre os objetivos climáticos da União Europeia e as dificuldades económicas que assolam o setor automóvel, o maior empregador industrial do continente. Apesar da multiplicação de modelos elétricos no mercado, estes representam apenas cerca de 15% das vendas na União Europeia, de acordo com a Bloomberg, com uma adoção desigual entre países e forte dependência de subsídios.

Além da procura abaixo das expectativas, os fabricantes destacam outros obstáculos: a dependência da Ásia para o fornecimento de baterias, custos de financiamento mais elevados e novas barreiras comerciais, nomeadamente nos Estados Unidos. , “os grupos do setor defendem que a transição deve apoiar-se também em híbridos, combustíveis sintéticos e hidrogénio, em vez de impor exclusivamente a eletrificação”.

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Os fornecedores estão igualmente sob forte pressão. A Bloomberg recorda que empresas como a Continental já avançaram com cortes de empregos, enquanto a francesa Valeo alertou para a quebra da rentabilidade, sinalizando que poderá haver mais reestruturações na cadeia de valor.

Do lado político, a Comissão Europeia tem defendido o calendário atual, afirmando que a eliminação progressiva dos motores a combustão é indispensável para atingir a neutralidade carbónica em 2050. Ainda assim, a legislação prevê uma revisão intermédia em 2026. , vários governos, como o de Itália, liderado por Giorgia Meloni, já manifestaram oposição aberta, classificando o plano como “ideológico” e pedindo ajustamentos.

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A pressão também vem de dentro da indústria. Oliver Zipse, presidente da BMW, que a proibição “atingirá o setor europeu no seu coração” e deixará o bloco ainda mais dependente da China para baterias. Os peritos ambientalistas, por outro lado, acusam os fabricantes de exagerar nas dificuldades, lembrando que as vendas de elétricos continuam a crescer e que estão em curso projetos europeus para reforçar a produção de baterias.

O debate está, assim, cada vez mais polarizado entre a necessidade de acelerar a transição energética e os receios de perda de competitividade. A Bloomberg avança que a Comissão deverá reunir com os líderes do setor a 12 de setembro, numa conversa considerada crucial para definir se o calendário de 2035 será mantido, ajustado ou flexibilizado.

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