Intel diz que entrada do "Uncle Sam" no capital da empresa pode prejudicar vendas
A entrada do Governo dos EUA no capital social da Intel, através da conversão de subsídios em ações, pode vir a ter impactos negativos na empresa. Num documento apresentado esta segunda-feira à Securities and Exchange Commission (SEC), o regulador norte-americano, a tecnológica reconhece que a posição de 10% detida pelo Executivo liderado por Donald Trump pode vir a prejudicar as suas vendas internacionais, bem como impedir a obtenção de subsídios noutros países.
Apesar de ter a sua sede em território norte-americano, 76% das receitas da Intel em 2024 foram obtidas noutros mercados. Só a China representou 29% do valor total de vendas - uma posição que fica agora ameaçada com a entrada do "Uncle Sam" no capital da empresa, uma vez que expõe a tecnológica a regulamentações ou a restrições adicionais, de acordo com o mesmo documento.
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A concretização da conversão deste financiamento em capital da empresa vai fazer do Estado norte-americano o maior acionista da Intel, numa altura em que também o Softbank está a entrar na estrutura da tecnológica. No entanto, na semana passada, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, garantiu que a entrada no capital da empresa não será feita na forma de “golden shares”, não vai ter direitos de voto nem vai pressionar as empresas a fazerem negócios com a Intel - afastando, assim, uma intervenção política direta da atual administração nos destinos da empresa.
A entrada no capital vai ser feita através da conversão dos subsídios ao abrigo da Lei CHIPS em ações, no valor de 7,9 mil milhões de dólares, bem como de outros 3,2 mil milhões provenientes do programa Secure Enclave - ambos criados na administração Biden, que precedeu a atual liderada por Trump. Através do primeiro programa, a Intel já recebeu 2,2 mil milhões e espera, agora, receber os restantes 5,7 mil milhões - dinheiro destinado a reforçar a produção de semicondutores para uso militar e comercial.
O acordo foi assinado no dia 11 de agosto e espera-se que as transações, ao abrigo da Lei CHIPS, estejam concluídas na terça-feira, dia 26 de agosto. A entrada do Governo norte-americano na Intel acontece numa altura em que a tecnológica tem enfrentando dificuldades e enfrenta uma restruturação, isto depois de, em 2024, ter registado o primeiro ano de prejuízos em quase quarenta anos, com perdas em torno dos 18,8 mil milhões de dólares.
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Para inverter as contas da empresa, a tecnológica decidiu contratar Lip-Bu Tan como o seu novo CEO - um nome que, recentemente, foi criticado por Trump, com o republicano a acusar Tan de ter laços "altamente conflituosos" com empresas chinesas. Apesar de terem começado a relação com o "pé esquerdo", o Presidente dos EUA e o líder da Intel conseguiram pôr a animosidade de parte e chegar a um acordo para a entrada do Governo norte-americano no capital da empresa. "Ele [Lip-Bu Tan] entrou a querer manter o seu emprego e acabou a entregar-nos 10 mil milhões de dólares", escreveu Trump na sua rede social, a Truth Social, após uma reunião com o presidente da Intel.
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