CDS acusa ministro de prejudicar TAP e só admite intervenção temporária do Estado
O CDS-PP acusou hoje o ministro Pedro Nuno Santos de "prejudicar objetivamente o valor da TAP", e só admitiu uma intervenção do Estado na empresa se for temporária, mas defende que existiam outras alternativas.
Em declarações aos jornalistas no final de uma audição de quase cinco horas do ministro das Infraestruturas e Habitação, o deputado do CDS-PP João Gonçalves Pereira apontou "um padrão" nas audições parlamentares de Pedro Nuno Santos, sobretudo quando o tema é a transportadora aérea nacional.
"O ministro revela alguma soberba e alguma arrogância e isso tem sido fortemente penalizador na destruição de valor da própria empresa, o ministro não tem percebido que, de cada vez que profere estas declarações sobre a TAP, prejudica a empresa, os seus trabalhadores e isso para nós é crítico", afirmou, considerando que as declarações dos últimos meses do governante "prejudicaram objetivamente o valor da empresa".
O ministro disse hoje que se os privados não aceitarem as condições do Estado para um empréstimo de até 1.200 milhões de euros, a TAP terá de ser nacionalizada. Pouco antes do início da audição parlamentar, o Expresso noticiou que o Estado ia nacionalizar a TAP, depois ter falhado o acordo entre o Estado e acionistas privados.
"Por cinco vezes foi hoje o ministro questionado para saber se confirmava ou não a notícia que dizia que havia um diploma sobre nacionalização a caminho do Conselho de Ministros. O CDS vê isso com enorme preocupação, mas o ministro não acrescentou mais nada sobre a matéria", considerou Gonçalves Pereira.
Questionado sobre a posição dos democratas-cristãos sobre esta hipótese, João Gonçalves Pereira começou por dizer ser prematuro comentar, mas salientou que "o CDS por uma questão de princípio é contra" nacionalizações.
"Agora, se temporariamente o Estado, à semelhança de outros Estados da União Europeia, tiver de intervir na empresa, temos de avaliar em que condições", disse.
Questionado se considera preferível essa nacionalização temporária à falência da TAP, o deputado do CDS considerou que haveria outro caminho.
"Há companhias aéreas que têm capitais próprios negativos e que tiveram auxílios do Estado ao abrigo da covid. A Comissão Europeia não pode ter dois pesos e duas medidas, portanto o Estado português devia ter afirmado essa mesma posição", disse, considerando que se torna "muito difícil" quando é o titular da pasta que fala em "falência, insolvência e má gestão".
"O saldo que fazemos desta audição é que, ao longo de todos estes meses, o ministro em vez de ajudar tem prejudicado objetivamente a empresa TAP", reiterou.
Na audição, Pedro Nuno Santos revelou que a proposta do Estado com as condições para um empréstimo de até 1.200 milhões de euros à TAP foi chumbada [na segunda-feira] pelo Conselho de Administração.
De acordo com o governante, a proposta de contrato para o empréstimo vai ainda ser submetida ao sócio privado, a Atlantic Gateway, dos empresários David Neeleman e Humberto Pedrosa, cujos representantes se abstiveram na votação no Conselho de Administração.
A Comissão Europeia aprovou em 10 de junho um "auxílio de emergência português" à companhia aérea TAP, um apoio estatal de 1.200 milhões de euros para responder às "necessidades imediatas de liquidez" com condições predeterminadas para o seu reembolso.
Uma vez que a TAP já estava numa débil situação financeira antes da pandemia de covid-19, a empresa "não é elegível" para receber uma ajuda estatal ao abrigo das regras mais flexíveis de Bruxelas devido ao surto, que são destinadas a "empresas que de outra forma seriam viáveis".
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