Presidente da ASF alerta que cortes orçamentais ameaçam autonomia do supervisor

Margarida Corrêa de Aguiar, numa audição perante a Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública, explicou que "as restrições orçamentais aplicadas ao longo do período do meu mandato materializaram-se em cortes financeiros significativos com implicações graves para as atividades da ASF".
ASF é liderada por Margarida Corrêa de Aguiar
Pedro Catarino
Lusa 18:21

A presidente da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), Margarida Corrêa de Aguiar, alertou esta quarta-feira no parlamento que as restrições orçamentais aplicadas nos últimos anos "interferem na autonomia e independência da ASF".

Na audição perante a Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública, a responsável explicou que "as restrições orçamentais aplicadas ao longo do período do meu mandato materializaram-se em cortes financeiros significativos com implicações graves para as atividades da ASF, impedindo a ASF de contratar os serviços de que necessita".

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A situação, sublinhou, estendeu-se também aos fundos sob gestão da autoridade: "O mesmo se diga em relação às cativações feitas ao Fundo de Acidentes de Trabalho e ao Fundo de Garantia Automóvel que impedem que a ASF seja reembolsada dos custos em que incorre com a sua gestão, com consequências indesejáveis para a execução do seu orçamento".

Margarida Corrêa de Aguiar frisou que "estas práticas interferem na autonomia e independência da ASF", lembrando que a lei protege a instituição de ingerências externas, mas que essa proteção "tem sido ultrapassada por decisões políticas constantes das leis do Orçamento do Estado e dos decretos-lei de execução orçamental".

Ainda assim, a presidente apresentou um balanço positivo do mandato que está a terminar iniciado em 2019. Em julho, Gabriel Bernardino foi indigitado para suceder-lhe na liderança da ASF.

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Entre as reformas internas, destacou "uma profunda reorganização interna da ASF com o objetivo de reforçar a qualidade e a eficácia dos seus mecanismos de governação", bem como a criação de estruturas dedicadas à gestão de riscos, recursos humanos e planeamento estratégico.

No reforço da equipa, a responsável recordou que a ASF enfrentava "grave insuficiência de recursos humanos" no início do mandato, mas conseguiu inverter a tendência com "o recrutamento líquido de 36 colaboradores acompanhado de uma melhoria significativa das suas qualificações" até final de 2024.

Outro marco que destacou foi a transformação digital, com "o desenvolvimento da primeira fase da utilização de IA, a construção de novas plataformas digitais, a construção de uma nova Intranet e o lançamento de novos portais, como o Portal dos Operadores, o Portal dos Seguros de Saúde e o Observatório dos Seguros de Saúde".

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Na regulação, a ASF priorizou normas estruturantes sobre conduta de mercado, governação, distribuição de seguros e prevenção do branqueamento de capitais, ao mesmo tempo que reforçou instrumentos de 'soft law', "uma escolha estratégica com efeitos estruturantes na eficácia de condutas dos operadores com claros benefícios na proteção do consumidor", apontou.

No campo da supervisão, foi implementado o Modelo Integrado de Supervisão e reforçada a ação sancionatória, enquanto a proteção do consumidor ganhou instrumentos como "o novo sistema de tratamento de reclamações, a publicação de 'rankings' de reclamações por operador [e] a criação de uma estrutura dedicada à literacia financeira".

Para concluir, Margarida Corrêa de Aguiar sublinhou que "a modernização regulatória, a promoção de uma cultura de governação, e uma maior proteção do consumidor nos setores supervisionados" são marcas do trabalho realizado, mas reiterou que o futuro da ASF só estará assegurado se forem removidos os constrangimentos orçamentais à sua autonomia.

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