As soluções limpas que conquistaram os gigantes do petróleo
Biocombustíveis a partir de algas e turbinas eólicas voadoras são algumas das apostas das petrolíferas para se tornarem mais “verdes”. São investimentos tímidos ainda, até porque não é o seu core, como têm defendido. Porém, devido à pressão dos investidores e às metas da descarbonização, têm acelerado nos últimos anos.
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BP aposta forte em energia solar Nos anos 80, a petrolífera britânica foi das primeiras do setor a comprometer-se a investir em energias verdes, nomeadamente eólica e solar. Um investimento que foi reforçado após o desastre no Golfo do México com a explosão na plataforma petrolífera Deepwater Horizon da BP, em 2010, que causou o derrame de 757 milhões toneladas de crude para o mar. Um incidente que acabou por acelerar o foco da empresa em energias limpas com a compra de 43% da Lightsource que posteriormente, em 2017, passou a denominar-se Lightsource BP e hoje é uma das gigantes mundiais de energia solar na Europa. É através desta empresa que a petrolífera tem feito as aquisições de parques solares um pouco por todo o mundo. E que em breve podem, também, estender-se a Portugal. "Acredito que num curtos espaço de tempo a BP terá projetos de energia solar em Portugal", disse recentemente o presidente da BP Portugal, Pedro Oliveira. Total investe 500 milhões por ano Há cincos anos, a francesa Total anunciou que tinha estabelecido como meta investir pelo menos 500 milhões de dólares por ano em tecnologias de energias limpas. Um compromisso que equivale a cerca de 3% do "budget" da petrolífera, mas que deverá passar a representar até 20% do total nos próximos 20 anos, como anunciou em 2015 a empresa. Os biocombustíveis e o solar têm captado a maioria do investimento. Portugal também já recebeu uma fatia do "budget" que a Total tem reservado para esta área. Em causa está a aquisição feita no ano passado da portuguesa NovEnergia, a quarta maior produtora de energias renováveis em Portugal. O negócio foi fechado por 600 milhões de euros. Antes, em 2011, no âmbito da estratégia de se tornar mais verde, um dos maiores investimentos do grupo francês foi a compra por 1,4 mil milhões de dólares de 60% da norte-americana SunPower, fabricante de painéis fotovoltaicos. Shell cria turbina eólica voadora A Shell comprometeu-se a reduzir a sua pegada de carbono em 50% até 2050. Para tal, tem investido fortemente em tecnologias alternativas. Além do solar, tem apostado na área da mobilidade elétrica através de postos de carregamento, bem como no hidrogénio verde. A petrolífera também tem dado que falar neste campo por estar a desenvolver em parceria com a Alphabet, dona da Google, a primeira turbina eólica voadora, que no ano passado fez o primeiro teste na Noruega. À boleia da aposta nas renováveis, a Shell também decidiu entrar no negócio da comercialização de eletricidade para não perder o comboio do futuro do consumo energético. "A maioria dos nossos clientes, quer domésticos quer empresariais, nas próximas décadas irão consumir apenas eletricidade. Por isso, se não estivéssemos neste negócio, a Shell iria tornar-se marginalizada", explicou em 2017 Maarten Wetselaar, diretor do gabinete de novas energias. Chevron quer ligar petróleo ao solar A norte-americana Chevron tem feito investimentos em tecnologias limpas ao longo dos últimos anos. Porém, ao contrário de outras petrolíferas, como a BP, o seu foco continua a ser o petróleo. Aliás, alguns dos projetos de energia renovável em que investiu foram direcionados para a extração e produção de petróleo de modo a diminuir os custos. O mais recente projeto trata-se da instalação de painéis solares para bombear petróleo. Esta solução, instalada na região de Kern Valley, Califórnia, tem uma capacidade de 29 MW, capaz de alimentar a produção de 7,9 mil barris por dia. Outro dos focos da Chevron no que toca a investimentos "verdes" tem sido a mobilidade elétrica, tendo investido recentemente na ChargePoin, um dos maiores operadores de postos de carregamento para veículos elétricos. Em 2018 decidiu também lançar o Fundo "Future Energy" para desenvolver soluções com base em renováveis. Mobilidade elétrica na lista da Repsol Em 2019, a Repsol estabeleceu como meta ser uma empresa com zero emissões líquidas em 2050. Uma meta será alcançada através das energias limpas. Dentro desta aposta, a compra de parques eólicos tem ganho destaque no portefólio da petrolífera de origem espanhola. A aposta também já é visível no mercado português não só no eólico, mas também no solar. Outra das apostas "verdes" da empresa é a mobilidade elétrica. E aqui, como Armando Oliveira, administrador-delegado da Repsol Portugal, tinha dito ao Negócios que "a Repsol é líder ibérica em pontos de carregamento, com mais de 1.200". O investimento nesta área tem como objetivo diversificar o portefólio da empresa, até porque, como defende Armando Oliveira, "o futuro será de multienergias e, naturalmente, à medida que os parques de veículos de combustíveis alternativos vão crescendo, a nossa oferta irá adaptar-se", acrescentou. A polémica aposta da ExxonMobil O investimento em soluções menos poluentes por parte da ExxonMobil tem estado envolvido em polémicas. Isto porque em 20108 a procuradora-geral do estado de Nova Iorque processou a petrolífera texana argumentando que enganou os investidores quanto aos riscos que as alterações climáticas colocam às suas operações. Acusações que foram refutadas de imediato pela Exxon. Um mês depois, a empresa anunciou que tinha fechado um contrato com a dinamarquesa Orsted para a compra de energia renovável para produzir petróleo no Oeste do Texas. O acordo, com a duração de 12 anos, prevê a compra de 500 MW de energia solar e eólica, tratando-se do maior contrato de aquisição de energia de uma petrolífera, segundo a Bloomberg. Além de contratos de longo prazo de compra de energia, a aposta da Exxon neste área está direcionada para o desenvolvimento de biodiesel de resíduos agrícolas e biocombustíveis a partir de algas. Depois do sol, Galp olha para hidrogénio A portuguesa Galp também tem diversificado o seu portefólio com projetos "verdes" para cumprir as metas da transição energética. O aumento do peso do gás natural e projetos de energia solar têm sido a principal aposta. Aliás, no último ano, a empresa liderada por Carlos Gomes da Silva anunciou vários investimentos em compras de parques solares em Espanha. "Este investimento em geração solar, que permite uma cobertura natural às nossas atividades de comercialização ibéricas, demonstra que as renováveis estão a ter um papel fundamental na transformação do nosso negócio", como fonte oficial da Galp explicou ao Negócios. O objetivo é ter uma capacidade instalada de 10 GW de energia renovável até ao final da década . Para tal, além do solar, a empresa também está a olhar para o hidrogénio verde tendo recentemente integrado o consórcio da Martifer, EDP, REN e Vestas para investir 1,5 mil milhões num "cluster" em Sines.
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