S&P mantém Portugal em nível de qualidade. Mas alerta para dívida recorde
A agência de notação financeira Standard & Poors manteve o rating de Portugal em BBB, que corresponde a dois níveis acima de lixo - penúltimo nível da categoria de investimento de qualidade -, bem como a perspetiva estável para a evolução da qualidade da dívida soberana.
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Depois de em abril ter cortado inesperadamente o outlook, de positivo para estável, a expectativa dos analistas que falaram com o Negócios era a de que a perspetiva se mantivesse. O que aconteceu.
Dada a deterioração das métricas financeiras, a S&P poderia ter-se decidido por colocar a perspetiva em território negativo, mas optou por manter o status quo. A perpetiva estável indica que, em princípio, não estará para breve uma mudança no rating.
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No relatório divulgado esta noite, a agência estima que a pandemia irá pesar na economia pequena e aberta de Portugal, tal como já tinha referido em abril passado.
Assim, projecta que o PIB registe uma contração de cerca de 10% em 2020, para depois recuperar em 6,2% no próximo ano. Em abril, a agência apontava uma contração de 7,7% do PIB este ano, tendo em conta o cenário de que o confinamento duraria oito semanas e de que as restrições em vigor seriam flexibilizadas muito gradualmente.
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Além disso, prevê um défice orçamental de 8,4% do PIB este ano, para depois em 2021 haver um excedente tal como em 2019 (nos 0,2%) - que foi o primeiro em democracia.
Dívida recorde
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Já quanto à dívida, a S&P estima que atinja um máximo histórico devido à conjugação do crescimento negativo e do défice orçamental, colocando a dívida pública em 141% do PIB no final deste ano - o que, a confirmar-se, corresponderá a um salto de 23 pontos percentuais desde 2019.
No entanto, "consideramos que Portugal será capaz de compensar o choque nas suas finanças públicas, devido ao recentemente reforçado apoio monetário e orçamental proveniente da União Europeia", frisa a agência, sublinhando que se espera que o Fundo de Recuperação da UE desembolse cerca de 26,4 mil milhões de euros (13,6% do PIB) em subsídios e empréstimos concessionais a Portugal a partir do próximo ano.
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Por essa razão, acrescenta, "reiteramos o rating de longo prazo em BBB e mantemos o outlook estável".
Relativamente ao outkook, a agência refere que o patamar estável reflete a sua convicção de que o apoio orçamental e monetário a nível europeu irá contrabalançar "aquilo que antevemos que seja um choque de um a dois anos para a economia e finanças públicas de Portugal, devido à emergência de saúde pública global".
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"Em nosso entender, o compromisso das autoridades portuguesas para com políticas favoráveis ao crescimento e para com uma prudência nas finanças públicas irá sobreviver à recessão profunda e sincronizada de um a dois anos".
O que pode fazer subir ou descer o rating
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A agência salienta que se o contexto económico global se deteriorar significamente para lá das suas atuais estimativas, as repercussões nas finanças públicas de Portugal poderão deixar de ser conciliáveis com o atual rating, atendendo a outras vulnerabilidades do crédito, incluindo o grande endividamento externo do país.
Além disso, adverte ainda para o facto de o rating português poder ficar sob pressão se setores-chave mais virados para o exterior, como o turismo, sofrerem uma permanente perda de rentabilidade.
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Como gatilho positivo, a S&P diz que se a economia portuguesa recuperar nos próximos três anos, levando a uma substancial melhoria das finanças públicas, então a notação poderá ser alvo de upgrade.
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Por outro lado, também poderá decidir-se por uma subida da classificação se houver uma melhoria da avaliação das instituições portuguesas ou da posição do país face ao exterior, incluindo das suas necessidades de financiamento externo no curto prazo.
(notícia atualizada às 22:13)
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