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Negócios Iniciativas | Tendências globais de consumo no setor do luxo 

Em Portugal, os objetos ainda falam mais alto do que as experiências, com o consumo de vestuário e sapatos de luxo a crescer quatro pontos percentuais entre 2019 e 2024. Uma subida suplantada apenas pela Noruega, em primeiro lugar, e pela Suécia, em segundo.

30 de Abril de 2025 às 14:00
Vítor Chi
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Foto em cima: O vereador da Câmara Municipal de Cascais na abertura da conferência "Os Investimentos do Luxo."

A segunda conferência do ciclo de três subordinado ao tema "Negócios do Luxo" ofereceu mais uma oportunidade para aprofundar a importância deste setor na economia portuguesa, enquanto vetor de desenvolvimento económico e de projeção internacional da marca Portugal. Desta vez, o encontro teve como foco "Os Investimentos do Luxo".

Organizado pelo Negócios em parceria com a Must, o evento contou com Cascais como município anfitrião e com o Sheraton Cascais Resort como hospitality partner, e reuniu especialistas das áreas dos vinhos, imobiliário, arquitetura, leilões e gestão de ativos, com o objetivo de explorar o contributo do setor do luxo não apenas como segmento de mercado em expansão, mas também como motor de desenvolvimento económico, de coesão territorial e de afirmação da marca Portugal no cenário internacional. A abertura da conferência contou com a intervenção de Diana Ramos, diretora do Negócios, e de Frederico Nunes, vereador da Câmara Municipal de Cascais, que fez questão de referir que o luxo é um tema especial para Cascais: "É um segmento que abraçamos com carinho e que temos vindo a trabalhar há muitos anos. Vejo Cascais como um ‘pequeno Mónaco’, mas melhor, porque temos um parque natural, mar, serra, estamos a 20 minutos de Lisboa e temos um aeródromo. Atrativos que fazem com que qualquer pessoa se apaixone pela vila."?

Cerca de 80% das nacionalidades do mundo estão representadas em Cascais, principalmente dentro do segmento de luxo.Frederico Nunes

Vereador da Câmara Municipal de Cascais

Não obstante, o vereador não deixou de alertar que para apostar neste setor é preciso desenvolver estratégias, e deu um exemplo: "É essencial trabalhar a parte turística com grandes eventos internacionais que apresentem Cascais ao mundo." Uma aposta que tem dado frutos para o município, já que, conforme refere Frederico Nunes, "cerca de 80% das nacionalidades do mundo estão representadas em Cascais, principalmente dentro do segmento de luxo". Pessoas que vêm com os seus hábitos de consumo e que trazem para cá os seus negócios e investimentos, o que faz com que o setor do luxo em Cascais, hoje, abranja "muito mais do que o imobiliário", com negócios que vão da hotelaria à gastronomia, entre outros. "O que faz com que Cascais seja, cada vez mais, o melhor sítio para viver um dia, uma semana ou a vida inteira."

Tendências de consumo

Terminado o momento de boas-vindas, a conferência arrancou com uma apresentação de Maximilien Lambertson, senior Europe economist na Mastercard, traçou um panorama das tendências globais de consumo no setor do luxo - com enfoque na compra de objetos luxuosos, e dinheiro gasto em experiências de bem-estar e viagens -, ajudando a compreender o posicionamento de Portugal neste mercado competitivo e exigente.

Negócios Iniciativas | Tendências globais de consumo no setor do luxo  Vítor Chi
Há apenas seis países em que o pêndulo dos gastos não está a cair para o lado das experiências: Estados Unidos da América, Portugal, Hong Kong, Japão, Arábia Saudita e Kuwait. Maximilien Lambertson

Senior Europe Economist na Mastercard

E é com base nas informações divulgadas por Lambertson que ficamos a saber, por exemplo, que, em Portugal, os gastos com hotéis e roupa estão a pender mais para o segmento do luxo. Ou seja, em 2019, as compras de roupa e sapatos de marcas de luxo constituíam 17% do total, enquanto em 2024 essa percentagem subiu para 21%. Já no que toca aos gastos com hotéis de luxo, a percentagem passou de 17% para 19% no mesmo período de tempo.

Interessa focar a atenção no setor do vestuário e sapatos porque, de acordo com o especialista, Portugal destaca-se no aumento do consumo de produtos de luxo neste segmento, sendo o terceiro país em que estas transações mais cresceram entre 2019 e 2024, com um aumento na casa dos quatro pontos percentuais, suplantado apenas pela Noruega, em primeiro lugar, e pela Suécia, em segundo.

Maximilien sublinha que há um fator que está a influenciar muito estas subidas: os gastos de estrangeiros em Portugal, quer sejam turistas ou residentes. E isso é aparente nos cosméticos e na moda, que tiveram evoluções positivas, assim como no segmento da relojoaria. No setor da moda de luxo, Lambertson faz uma distinção entre segmentos: o mais baixo, a que chama "aspiracional", o intermédio, que define como "premium", e o alto, a que se refere como "absoluto". Isso é relevante porque permite analisar que, por exemplo, ao longo de 2024, os preços dos itens de luxo aspiracional desceram 2,9% enquanto as compras aumentaram 7,5%. Por outro lado, as peças de luxo premium tiveram um aumento de 18,4%, enquanto as compras desceram 15,8%. Por último, no luxo absoluto, os preços só aumentaram 1,2%, enquanto as compras desceram 27,7% - um decréscimo muito considerável. Há um aspeto, porém, em que Portugal, de acordo com Maximilien Lambertson, se encontra em contraciclo. Na primeira Conferência do Luxo, muito foi dito sobre os consumidores, principalmente os das gerações mais jovens, estarem a preferir gastar dinheiro em experiências de luxo, em detrimento dos bens de luxo. Para Lambertson, o interesse, em Portugal, por objetos em detrimento de experiências tem que ver com o facto de várias marcas de luxo terem aberto lojas no país recentemente .

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