Europa é vista como "oportunidade" e "desespero" do outro lado do Atlântico

Portugueses a viver no Brasil e nos Estados Unidos reconhecem no continente europeu vantagens em termos comerciais e estabilidade. Mas reconhecem que a excessiva regulação é um desafio. Nos Estados Unidos, a UE como referência "desapareceu".
Miguel Setas e Pedro Domingos debatem o futuro da Europa na conferência
David Cabral Santos
Joana Almeida 05 de Novembro de 2025 às 14:42

O posicionamento da Europa no mundo e a forma como é vista do outro lado do Atlântico foi um dos temas que esteve em debate na , num painel que juntou Miguel Setas, CEO da Motiva, e Pedro Domingos, Professor de Engenharia Informática na Universidade de Washington. Ambos consideram que o continente europeu apresenta "oportunidades" de negócios, mas a excessiva regulação pode ser um "desespero".

Na , Miguel Setas, que está há mais de uma década no Brasil, começou por dizer que, no atual momento de "desordem mundial" em que "as placas tectónicas do mundo estão em mudança", o Brasil beneficia de uma "relação privilegiada com a Europa". É o segundo principal mercado, em termos de balança comercial, ficando apenas atrás da China.

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Segundo Miguel Setas, a UE recebe 15% das exportações brasileiras e pesa 20% nas importações do Brasil. Exporta sobretudo soja, minério de ferro, petróleo, café, carne e importa maquinaria, veículos automóveis, medicamentos e químicos. E , numa altura de "pressão" mundial com a política comercial instável da Administração Trump.

"Nesta pressão com os EUA, a Europa e a China como alternativa muito credível", referiu, salientando que os Estados Unidos representam o terceiro maior mercado para o Brasil, atrás da China e da Europa. Por essa razão, o impacto das – "não é tão grande como a primeira parangona das notícias nos leva a crer".

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Miguel Setas realçou ainda que "os brasileiros reconhecem na Europa uma relativa estabilidade política". "E digo relativa porque tem uma fronteira em guerra", explicou. A estabilidade jurídica, o quadro regulatório definido – ainda que, por vezes, excessivo –, e mão de obra qualificada são algumas das mais-valias de que, segundo Miguel Cerdas, a UE beneficia.

Numa outra geografia, Pedro Domingos, que vive nos Estados Unidos, argumentou que o movimento das "placas tectónicas" a que se assiste atualmente não é causado pela Administração Trump. "Donald Trump é uma reação a fenómenos mais profundos", afirmou, acrescentando que são esses fenómenos que explicam o afastamento da Europa e a "desordem mundial" atual.

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"Os americanos não se preocupam com a Europa. Há 50 anos achavam que a Europa era importante mas isso desapareceu. Hoje preocupam-se com questões internas e preocupam-se com a China e a ascensão da IA", disse. Essa visão é comum aos "americanos de esquerda e de direita".

Os americanos de esquerda "ainda gostam da Europa e querem imitar algumas regulações", nomeadamente da Suécia e Dinamarca, ainda que "de uma maneira muito ignorante". Por outro lado, os americanos da direita "olham para a Europa como símbolo de tudo o que não se deve fazer" e como referência de tudo o que se deve "fazer de oposto". "Tanto a esquerda como direita têm desprezo pela Europa", sublinhou.

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Pedro Domingos recomendou à Europa que "acorde urgentemente" porque há uma regulação "extremamente excessiva" e "há 20 anos liderava a inovação e agora está atrás no que toca à IA". "A Europa tem dois futuros possíveis. Um é a decadência, irrelevância e acabar oprimida pelos Estados Unidos e a China. O outro é tornar-se um só país. A constituição europeia que existe hoje é uma paralisia", lamentou.

Para evitar que se torne um "anão" – ainda que "gigante" em termos económicos – , defendeu que a UE deve seguir as e deve permitir "mais imigração", mas que seja "uma imigração inteligente". Referiu ainda que é preciso apostar mais na IA. "A IA é o nosso melhor amigo e precisamos de a utilizar melhor", disse, notando que a China está a investir massivamente nesta tecnologia, enquanto a UE está preocupada com a regulação. "Vamos perder esta luta para a ditadura e a culpa é nossa", rematou.

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