Administrações públicas digitais — a via europeia
Através do nosso Fundo de Recuperação e Resiliência, os Estados-membros investirão mais de 137 mil milhões de euros em tecnologias digitais. Além disso, a nossa política de coesão disponibilizará até 30 mil milhões de euros em vários outros programas da UE. Em conjunto, iremos assim desenvolver e implantar supercomputadores e tecnologias emergentes, conectividade segura e dados de confiança, e reforçar as competências digitais dos europeus – o nosso maior trunfo. Temos um objetivo ambicioso e claro: faremos desta década a nossa década digital.
A integração do nosso setor público na década digital será um fator decisivo para o êxito deste projeto comum. Não podemos servir os nossos cidadãos e aplicar a lei com uma máquina de fax quando as grandes empresas tecnológicas, mas também os cibercriminosos, utilizam a inteligência artificial.
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Por este motivo, saudamos o empenho dos 27 ministros da UE em investir numa transformação digital das administrações públicas baseada em valores, em benefício de todos os europeus.
A Declaração de Berlim, assinada a 8 de dezembro último, fornece-nos um roteiro para o desenvolvimento conjunto de uma administração pública digital para a Europa em 2021. Agora, temos a obrigação de transformar essa ambição em realidade. Em toda a Europa, as administrações públicas estão a viver, lenta mas seguramente, uma transformação tecnológica espetacular. O desafio é fazer com que este processo aconteça de acordo com as nossas condições.
Para nós, isto significa colocar os seres humanos no centro do processo. Os cidadãos europeus devem ter acesso a uma identificação eletrónica simples e segura, que possa ser utilizada em todos os 27 Estados-membros e sempre que for necessária uma autenticação digital. Cada europeu deve ter a possibilidade de controlar a sua pegada digital e decidir quais são os dados pessoais que quer partilhar, para que só esses dados estejam acessíveis. É também crucial uma abordagem centrada no ser humano para o desenvolvimento e a utilização da inteligência artificial e das novas tecnologias, sobretudo agora que as instituições públicas começam a fazer experiências neste domínio. Estamos a criar espaços comuns de dados para o intercâmbio de dados dos setores público e privado, tirando o melhor partido do enorme valor dos dados para as pessoas e as empresas, de forma segura e transparente. Por último, as administrações digitais de outros países devem poder trabalhar com os nossos dados de forma segura, no respeito das regras europeias.
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Para alcançar estes importantes objetivos, temos de trabalhar em conjunto com as administrações nacionais. O Portal Digital Único, operacional desde o passado 12 de dezembro, constitui um primeiro passo. Temos de criar uma verdadeira cooperação entre as administrações de toda a Europa. São necessários investimentos comuns nos instrumentos essenciais que permitem a cada administração nacional desenvolver as suas próprias soluções, satisfazer as suas próprias necessidades, mantendo-se ao mesmo tempo interligada com outros setores e além-fronteiras. A interoperabilidade é fundamental — é o que nos permite estar unidos na diversidade no mundo digital.
Na Comissão Europeia, estamos empenhados nesta agenda transformadora. Publicámos recentemente a nossa própria estratégia de software de fonte aberta, para que possamos desenvolver e partilhar o nosso código, dados e ferramentas em repositórios comuns, ganhando em autonomia. Estamos a desenvolver meios para alargar a contratação pública de serviços de computação em nuvem seguros e soberanos que respeitem plenamente as regras da UE. Tencionamos dar o exemplo implantando, para a gestão das nossas atividades, uma inteligência artificial centrada no ser humano, ou seja, preservando a autodeterminação das pessoas sobre os sistemas.
Este é um domínio em que Portugal tem uma série de bons exemplos e onde tem liderado na apresentação de soluções criativas, inovadoras e fiáveis, desde os balcões únicos das lojas do cidadão aos serviços disponibilizados na área fiscal e da segurança social. No seu Plano Nacional de Recuperação, Portugal deixou bem expresso o empenho em canalizar recursos para o digital – para a criação digital, para os serviços públicos, conectividade, e também para a criação de emprego.
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Contamos por isso com a presidência portuguesa para dar o impulso necessário a um debate que é tão crucial quanto urgente.
Esperamos que outras entidades públicas se juntem a nós nesta via. O desafio não é saber se esta evolução vai ocorrer ou não, é saber se é guiada pelos nossos valores e se acontece segundo as nossas condições.
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