Como vender o anti-proteccionismo
Assim, um resgate só serviria para adiar o inevitável, às custas dos contribuintes, que teriam de pagar bem caro.
Este tipo de conselhos normalmente não é muito convincente – e muito particularmente no pior contexto económico dos últimos 70 anos. A ideia generalizada é a de que a concorrência global faz com que os empregos sejam deslocalizados para países com mão-de-obra barata e que, um pouco por todo o lado, pressiona os salários para a baixa. À medida que a globalização se intensifica e acelera as transformações económicas, exerce também uma influência sem precedentes nas vidas dos cidadãos comuns e alimenta os receios das populações. Não é, pois, de admirar que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, tenha sucumbido aos encantos do proteccionismo durante a campanha eleitoral do ano passado, como também sucedeu com ambos os candidatos presidenciais nos Estados Unidos.
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Mas o proteccionismo não tem de ser a única alternativa ao medo da concorrência global. Nos países escandinavos, tal como nos Estados Unidos, a concorrência externa intensificou-se fortemente durante a última década. A China e a Índia adquiriram um poder económico considerável e os Estados vizinhos dos países escandinavos, outrora isolados no bloco comunista, foram rapidamente integrados na economia europeia.
No entanto, os inquéritos realizados pelo Pew Research Center revelaram que, na Suécia, 85% da população considera que o comércio é benéfico para o país, contra apenas 59% dos norte-americanos, que tem a mesma opinião. Entre os trabalhadores industriais suecos, essa percentagem é de 75%. Como é que isso é possível?
Ao delinearem políticas educacionais e de protecção social que protegem os cidadãos, os políticos escandinavos procuraram promover a mudança em vez de a evitarem. A opinião pública positiva na Suécia não é um sintoma de lavagem cerebral, mas sim uma resposta racional à experiência de um povo ao longo da última década.
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À medida que a concorrência se intensificou e que a produção começou a ser deslocalizada dos Estados Bálticos para a Europa de Leste, a resposta política da Suécia foi melhorar as competências da sua força de trabalho. Em resultado disso, entre 1997 e 2007, as exportações suecas praticamente duplicaram, a produção industrial aumentou 36% e as empresas do sector da transformação alcançaram recordes de crescimento da produtividade.
Com efeito, ao passo que nos Estados Unidos a produção anual por hora aumentou 6,2% durante aquele período, na Suécia, a produtividade aumentou 8%. A Suécia acumulou um excedente da balança de transacções correntes equivalente a 53% do PIB, contra o défice norte-americano de 48% do PIB. O emprego cresceu 11% e os salários dos operários aumentaram 24%, impulsionando um incremento superior a 30% no consumo privado.
Em suma, mesmo enquanto a globalização avançava, os assalariados suecos desfrutaram de uma melhoria substancial dos seus padrões de vida. Apesar de alguns empregos terem sido deslocalizados, o efeito líquido continuou a ser fortemente positivo.
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O segredo por detrás do bem sucedido desenvolvimento da Suécia, e também das atitudes do seu povo, prende-se com a forma como os custos da mudança são distribuídos. A política oficial procura reduzir o custo da globalização para as pessoas, mas não para as empresas. Os empresários têm de fazer face à concorrência para se desenvolverem, ao passo que as pessoas que possam ser despedidas poderão ter dificuldades em regressar ao activo.
Na qualidade de ministro do Comércio da Suécia durante grande parte deste período, nunca coloquei obstáculos nem adiei a concorrência proveniente das importações. Na União Europeia, a Suécia votou contra quase todas as propostas "anti-dumping", bem como contra as demais propostas proteccionistas. Os meus eleitores nunca criticaram esta posição, porque a política educacional e a rede de segurança social foram delineadas de forma a diminuir a aversão ao risco por parte dos trabalhadores.
Mediante políticas educacionais amplas, é possível beneficiar uma proporção crescente da população sueca, aumentando as suas perspectivas de emprego. O ensino superior é gratuito e acessível em todas as regiões do país. Mas atender unicamente a uma geração de estudantes por ano é muito pouco para satisfazer as exigências de uma economia em acelerado processo de mudança. Assim, além disto, são também investidos montantes significativos na revalorização das competências de todos aqueles que já estão integrados no mercado de trabalho.
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A protecção social tem também uma natureza ampla e abrangente. Nos países escandinavos – por oposição, digamos, à Alemanha e aos Estados Unidos – é o governo que é responsável pela maioria dos benefícios sociais, não as empresas. Assim, evitam-se efeitos económicos irracionais de imobilização que fazem com que os trabalhadores não consigam mudar de emprego.
Além disso, as prestações sociais são suficientemente generosas para assegurarem que um período breve de desemprego não obrigue os trabalhadores a venderem as suas casas ou mesmo os seus carros. O sistema protege não só os desempregados, que podem continuar a pagar as suas prestações do crédito à habitação e juros, mas também – indirectamente – os bancos, porque os seus empréstimos imobiliários continuam a ser pagos mesmo em épocas de recessão. E, em vez de terem que resolver todo o tipo de problemas económicos pessoais, os trabalhadores despedidos podem concentrar-se em procurar novos empregos, mais orientados para o futuro.
Sem dúvida que estas políticas são dispendiosas. Mas amortizam-se a si mesmas ao gerarem crescimento e receitas. Conforme o demonstra a última década, funcionaram muito bem para os países escandinavos durante um período de extrema internacionalização. Em vez de cedermos às ideias generalizadas, tirámos partido das vantagens que a globalização e a mudança tecnológica oferecem.
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Pode o modelo escandinavo funcionar noutros países?
O exemplo escandinavo demonstra, de qualquer das formas, que os políticos dispõem de mais do que uma opção quando se trata de fazer face à globalização. A intensa concorrência externa e a rápida evolução tecnológica não significam necessariamente uma corrida ao menor denominador comum. Pelo contrário, podem ser compatíveis com o crescimento acelerado dos rendimentos reais e com mais e melhores empregos.
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