Fernando Mendes 19 de Maio de 2014 às 11:31

Coworking - Isto já não é sobre trabalho

O trabalho distingue-nos dos outros habitantes do planeta. Um leão corre quando precisa de matar para comer ou para perseguir um outro macho que o desafie e coloque o seu poder em causa.

O trabalho é uma invenção do homem

 

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O trabalho distingue-nos dos outros habitantes do planeta. Um leão corre quando precisa de matar para comer ou para perseguir um outro macho que o desafie e coloque o seu poder em causa. O fito último do trabalho é não fazer nada depois. A maior motivação do trabalho é pois a garantia posterior de... férias. No entanto, a mediação tecnológica que tomou as rédeas das nossas existências nas últimas duas décadas, esbateu – para não dizer que pulverizou – qualquer fronteira entre esse tempo de trabalho e não-trabalho.

 

O nosso momento actual preconiza uma profunda e global alteração de paradigma nas formas de trabalho. Desde logo, é hoje muito difícil, diria mesmo indesejado, perceber se a um determinado momento do nosso tempo activo (on) corresponde um tempo de trabalho ou a um outro de pausa/descanso. Pensemos no uso frenético que fazemos das redes sociais. Quando estamos a trabalhar? Quando não estamos? E como nos sentimos quando não estamos on? Desta forma, always on (para usar a expressão de Lynda Gratton) o trabalho tornou-se ubíquo. Trabalhar não depende mais de uma geografia. Um laptop, um acesso sem fios à internet e uma rede de contactos profissionais são condição suficiente para que se possa trabalhar a partir de qualquer ponto do globo. Mas chega mesmo?

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Coworking – Consequência ou reacção?

O novo trabalho aponta para um tempo em que tudo fazemos para merecer a liberdade de não fazermos absolutamente nada ou de fazermos tudo o que queremos, sem horários, sem hierarquias rígidas, sem outra responsabilidade que não seja a de sermos felizes, um viver apenas. A tendência acompanha uma mudança global e difusa, mas também inequívoca de individualização do trabalho. O contingente mundial de freelancers engrossa as suas fileiras a cada hora que passa, fruto da virtualização dirão uns, da fragmentação do trabalho dirão outros.

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Esta tendência – se lhe quisermos imaginar um nascimento e um definhar – é um trabalho em modo sempre ligado, que nos provoca um novo tipo de ansiedade (não estou ligado; não sei; não me estão a ver, ouvir ou ler; não sou). Mas que também nos proporciona, como nunca foi possível, uma muito real ligação ao mundo, a todos os povos, a todos os projectos, a um mercado de trabalho global e a incontáveis possibilidades de partilha e colaboração com os outros. Objectivamente, munidos das mesmas competências e mediados pela mesma tecnologia, temos em qualquer ponto do globo um igual potencial de promoção e venda dos nossos serviços. Se estivermos em Lisboa, podemos ainda contar com os nossos famosos 300 dias de sol por ano (se retirarmos o inverno deste ano da estatística); uma gastronomia rica, variada e saudável; o mar a dois passos; um nível de segurança ímpar na Europa (e mesmo no Mundo); uma oferta cultural e de entretenimento nocturno que rivaliza com as suas congéneres europeias. Beneficiamos ainda de uma cena empreendedora muito viva, com players de dimensão global como a Beta-i e os seus programas de aceleração e promoção do empreendedorismo ou a Startup Lisboa, uma incubadora apoiada pela cidade e que tem uma abordagem ímpar à gestão da sua comunidade.

 

Os espaços de coworking são, provavelmente, a praça central destes novos paradigmas. São espaços partilhados por uma grande diversidade de profissionais, com destaque para os que operam nas indústrias criativas. Lisboa tem mais de 30 espaços deste género listados online, desde projectos como o Coworklisboa, com mais de 350 pessoas desde 2010, a outros de menor dimensão, mas de igual empenho na construção de comunidades vivas e interdependentes. São ocupados maioritariamente por independentes e freelancers, mas também aqui se produzem pequenas empresas e se ensaiam proto-startups. Nesse sentido, o Coworking fica a montante de uma incubadora, ora fornecendo-lhe competências e serviços, ora contribuindo com novos fundadores de projectos inovadores. Esta simbiose pode e deve ser aperfeiçoada.

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