Europa: a necessidade de uma cultura do empreendedorismo!
Afirma Phelps que a causa última do que se passa tem a ver com o modelo económico adoptado e este resulta, em última instância, do tipo de cultura prevalecente num pais: “... A nations’s culture ultimately makes a difference for the nation’s economic performance in all its aspects – productivity, prosperity and personal growth.”
A questão que se coloca é saber se a cultura dominante privilegia o dinamismo associado ao crescimento e à mudança ou se, pelo contrário, alimenta o conservadorismo e protege as instituições dominantes.
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Phelps conclui que, na Europa Continental, o que prevalece é a cultura de protecção aos interesses instalados em que a pretexto da defesa dos interesses “sociais” se bloqueia a livre iniciativa e onde se dá mais importância aos chamados princípios do “igualitarismo” e do interesse social em detrimento da responsabilidade individual e da valorização pessoal.
Phelps diz que a corrente intelectual dominante no continente – “solidarism, consensualism, anti-comercialism e conformism” – emergiu no século XIX como reacção aos princípios do livre câmbio e ao desenvolvimento do capitalismo.
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A escala de valores no continente europeu e do outro lado do Atlântico é, no que respeita aos princípios da empreendedorismo e da responsabilidade individual, bem díspar. Phelps cita um estudo da Universidade de Michigan sobre a escala e valores no local de trabalho para distintos países podendo concluir-se claramente que nos EUA e Canadá a realização profissional e o “challenge” das oportunidades são muito mais importantes.
Ou seja, a Europa tem, em primeiro lugar, um problema de cultura que não se adaptou às novas realidades. A Europa precisa que a cultura do empreendedorismo e da livre iniciativa passem a ser dominantes e que se combata tudo o que cheire a resistência à mudança e a protecção dos interesses instalados. Isso significa, de facto, pôr em causa muito do que resta ainda do intervencionismo estatal – seja por via de “golden shares”, seja por via do domínio de sectores económicos –, aumentando as iniciativas que conduzam a mais liberdade em todas as dimensões.
Infelizmente, a tendência dominante tem sido a de um crescente peso das estruturas burocráticas que pretendem regular cada vez mais a vida dos cidadãos e das empresas, coarctando o espírito criativo e a transformação que a era da sociedade da informação impõe.
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As consequências dessa pulsão controladora são o atraso cada vez maior da Europa em relação ao resto do Mundo. Já várias vezes afirmei que os nossos dirigentes europeus andam distraídos a discutir o acessório e a produzir acções de cosmética, fugindo à dura dos realidade os factos e à urgência de serem tomadas medidas corajosas que, efectivamente, imponham uma cultura do empreendedorismo, capaz de responder aos desafios deste século.
Um estudo recente do Deustche Bank a que tive acesso evidencia o “gap” estrutural de produtividade entre a Zona Euro e os EUA. Esse “gap” é particularmente notório em todas as áreas em que a mobilidade e a flexibilidade são fundamentais para aproveitar a revolução tecnológica iniciada nos anos 60. Falo dos sectores da electrónica e telecomunicações e de todas as áreas de serviços.
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Aquele estudo reproduz as conclusões de um relatório subsidiado pela Comissão Europeia e que a analisa os factores que determinam níveis substancialmente diferentes de crescimento da produtividade entre 1995 e 2004 (ver Quadros II e III).
O diagnóstico de Phelps não poderiam ter melhor prova estatística. O aproveitamento das novas tecnologias na Europa fica substancialmente aquém dos EUA. A revolução tecnologia cria novas oportunidades mas obriga a que a sociedade de adapte: é preciso mais criatividade, mais espírito de iniciativa, mais mobilidade da mão de obra, mercados de capitais mais sofisticados dispostos a tomar maiores riscos, etc.
Na altura em que toda a discussão europeia se concentra na questão do novo Tratado, talvez valesse a pena lançar também o movimento para a criação de uma nova cultura dominante no espaço europeu: a cultura da responsabilidade individual, da promoção do empreendedorismo e da livre iniciativa.
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Doutra forma ficaremos com excelentes invólucros que fazem os “headlines” dos telejornais mas, mais tarde ou mais cedo, seremos confrontados com a dura realidade que os números não cessam de mostrar.
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