Fraudes (con)frades
CONtracenar
À saída de um supermercado Américo (simulador A) posiciona-se estrategicamente perto da vítima. Aproximando-se de ambos, Boavida (simulador B), encontra ali mesmo à frente deles uma mala (prévia e estrategicamente posicionada) cheia de dinheiro. Américo reclama o achado para a si e para a vítima. Começam então a contracenar, discutindo a propriedade da coisa, com Boavida a ir concordando que está disposto a dividir o achado pelos três. Teatro atrás de teatro, concluem, depois, que estão ali para cima de 75 mil euros... e um papel que diz: «João, este é o teu quinhão do golpe, encontramo-nos amanhã no sitio combinado». É dinheiro sujo, portanto. Se é sujo, não pode reclamar-se. Se não pode reclamar-se, é nosso!
PUB
«Mais devagar» – recomenda Américo, afirmando ainda que é uma pessoa honesta e que precisa de certificar-se se o dinheiro pode ser dividido logo ali. Boavida oferece-se então para ligar ao seu advogado, com quem simula, depois, falar ao telemóvel. O advogado aconselha que, apesar de se tratar de dinheiro presumivelmente sujo, é melhor darem um certo tempo para ver se alguém o reclama. Boavida sugere então que seja a vítima a guardar o dinheiro em sua casa.
«Mais devagar» – recomenda Américo, afirmando que não conhece a vítima e como tal não lhe vai passar todo aquele dinheiro para as mãos assim sem mais nem menos. Boavida concorda. A vítima ofende-se, dizendo que é uma pessoa idónea. Américo diz-lhe não duvidar disso, mas sugere-lhe que dê uma prova de que tem facilidade em levantar dinheiro – prova de que não começará a fatiar o bolo por antecipação... Boavida acena em tom concordante e sugere que ele e Américo, entretanto, vão comprar também um pequeno cadeado ao supermercado. Começando a cheirar a cor do dinheiro, e após uma análise mais cuidada das notas, a vítima, empolga-se: «2 mil euros está bem para vocês?» Ambos, Américo e Boavida, mostram uma expressão de completa rendição...
Passado um bocado, a vítima aparece com o dinheiro. Américo diz-se convencido e coloca a maquia na mala, mesmo em frente à vítima. Entretanto, vira-se e abaixa-se para colocar o pequeno cadeado, apenas para que todos tenham a certeza de que a mala não será aberta. Só que a mala é trocada naquele preciso momento. A coisa fica, assim «equilibrada»: a pessoa que até nem precisa de dinheiro leva a mala; mas a mala leva um pequeno cadeado, cuja chaves ficam uma na posse de Américo e outra na posse de Boavida, para garantir a inviolabilidade do bolo.
PUB
A vítima afasta-se, rejubilando e levando consigo uma mala cheia de papel lá dentro, enquanto os confrades se preparam para repartir os 2 mil euros que jazem junto dos 75 mil falsos.
CONfirmar
Américo simula encontrar um anel de diamantes ao mesmo tempo que uma vítima, que o encontrou primeiro, se baixa já para o apanhar. Américo reclama o anel para ele, dizendo que já antes o havia topado. A vítima não concorda, olhando para Américo com desconfiança. Fazendo-se intimidado, Américo propõe-lhe então deixá-la partir com a jóia mediante o pagamento de uma pequena recompensa de 10% para sanar a dúvida levantada sobre quem achou primeiro. Faz umas pequenas contas e conclui que deverá levar 10% de 10 mil euros, ou seja mil euros. A vítima protesta, dizendo que o anel não vale aquilo.
PUB
Américo sugere então que ela avalie o anel ali naquela ourivesaria da esquina. Ele esperará por ela cá fora, uma vez que o seu aspecto não é lá muito católico. A vítima acede e o ourives, Boavida, avalia a jóia em 20 mil euros! A vítima, aldrabando, confirma a Américo o valor de 10 mil e entrega-lhe os mil. Ambos vão à sua vida.
Mais à frente, no seu caminho, a vítima é abordada por um maluquinho (julga ela) que lhe entrega um saco de moedas, dizendo que a ama. A vítima, achando a situação engraçada e vendo que o outro é inofensivo, acaba por pegar no saco sorrindo. Depois, a sua cara fica séria, ao ler um papel que atesta que aquelas moedas são de colecção e que pertencem a alguém cujo telemóvel e morada ali constam.
Intrigada, a vítima pergunta ao maluco se ele é aquele sujeito do papel. Ele responde que não. A vítima resolve então telefonar para o suposto dono das moedas raras. Este, de nome Américo, depois de lhe agradecer mil vezes, confirma que as moedas são raríssimas, e pede-lhe que ela dê uma pequena recompensa de 250 euros ao maluquinho e que devolva as moedas na morada indicada, pois uma recompensa de mil euros a espera. Ela assim procede, preparando-se para ganhar 750 com um esforço mínimo.
PUB
«Há dias de sorte» - pensa enquanto se dirige para casa do dono das moedas raras – «primeiro um diamante, agora uma recompensa»...
Algures noutra rua, Américo, Boavida e o maluquinho preparam-se para dividir o produto do dia: 1250 euros – 500 para Américo, 500 para Boavida e 250 para o outro.
Quanto à vítima, haverá de concluir que transporta duas falsidades: um anel falso e uma morada inexistente.
PUB
CONtratar
Paulo tem um empregado que quer despedir. Só que o empregado, que paga fortunas ao seu advogado, pede-lhe uma indemnização exorbitante. A coisa não sai deste impasse, arrastando-se há vários meses. Paulo até teria feito melhor negócio se logo ao início o tivesse despedido pelo tal valor exorbitante. Mas abriria um precedente em termos de referencial de indemnização.
Paulo contacta Paulo, seu amigo que trabalha no mesmo ramo, e pede-lhe que ofereça um ordenado principesco ao seu empregado. Depois, ver-se-á livre dele aproveitando os seis meses de período experimental da praxe. Paulo acede, desde que Paulo pague os cerca de cinco meses de salário implícitos na contratação. O empregado cai na esparrela, muda de emprego e é despedido no período experimental. Paulo oferece então um Corum Bubble Joker a Paulo, como prova da sua amizade...
PUB
Entretanto, a amante de Paulo combina-se com um comerciante do ramo automóvel para lhe comprar um TVR Cerbera, avaliado em cerca de 45 mil euros. Incentiva, então, o amante a oferecer apenas dois terços do preço pedido pelo bólide, dizendo que convencerá o comerciante a vendê-lo com esse desconto. Paulo, que está convencido de que brevemente se casará com a senhora, concorda.
A amante de Paulo faz a mesma proposta a Pedro, seu marido. Pedro concorda, igualmente convencido da sua genialidade para os negócios. Paulo e Pedro, em momentos separados, claro, entregam cada um um cheque de 30 mil euros ao comerciante, dizendo que aquele é o valor máximo que estão dispostos a pagar pelo carro.
Naturalmente, Paulo não sabe da oferta de Pedro e vice-versa. Os únicos que sabem que os patos em conjunto estão a oferecer 60 mil euros por um carro de 45 mil são os confrades - mulher e comerciante. Depois, dividem os 15 mil euros de troco com um cheque de 7.500 euros passado cuidadosamente pelo comerciante com uma Faber Castell - 240th Anniversary Limited Edition.
PUB
Mais Artigos do autor
Mais lidas
O Negócios recomenda