João Quadros 18 de Maio de 2012 às 12:26

O espião que veio do semi-frio

Esta semana, na primeira comissão parlamentar, Miguel Relvas disse não ter "pedido nenhum estudo de reestruturação" das secretas a Silva Carvalho.

"You should never stick something that you are allergic to into your mouth, especially if that thing is cats". Lemony Snicket

Esta semana, na primeira comissão parlamentar, Miguel Relvas disse não ter "pedido nenhum estudo de reestruturação" das secretas a Silva Carvalho. Mas admitiu ter recebido SMS e "e-mails" do ex-director do SIED. Recordemos o que se passou.

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Há uma semana, Relvas disse que era falso, e garantiu que nunca tinha recebido nenhum SMS. Depois, que não se recordava. Agora, confirma que recebeu, mas não respondeu. "O meu telemóvel é muito básico, não me permite ter uma correspondência muito acentuada", diz o ministro-adjunto. Resumo: Relvas já teve mais versões da história que modelos de telemóvel. "Comprometedor era eu responder às SMS". Faltou acrescentar: "recebi dois pombos-correio mas comi-os com arroz e não li as mensagens…"

Relvas pensa que nós somos tão inocentes como ele, que recebe SMS de desconhecidos com informações confidenciais - e nomes para lugares de topo - e acha que não é nada. Miguel Relvas recebia relatórios de "clipping" do SIED enviados por Silva Carvalho. Ficámos a saber que o super-espião só não passava a Relvas más notícias sobre Angola. Mas o ministro relativiza o assunto dizendo: "não era um 'clipping' bem feito". Isto parece código para vídeos porno. "Lembro-me que a primeira mensagem que me enviou era 'George Bush visita o México" - é código também. Se puserem este SMS em frente a um espelho, lê-se: "O Sócrates está em Paris numa mansarda junto a Notre Dame . PS - sei quem matou o Sá Carneiro, LoL". Relvas julgava que LoL era a abreviatura de Loja Oriente Lusitano. As explicações de Relvas não chegam para ficarmos descansados mas também não chegam para Relvas ficar descansado.

"Não é uma tempestade num copo de água, é uma tempestade num copo de licor ", diz Relvas e ri-se de nós. Brindemos, porque ele sabe que esta história vai acabar como normalmente acabam estes assuntos: vamos descobrir que afinal o aparelho era topo de gama, porque foi o telemóvel de Relvas que agiu sozinho. Mas nunca devemos menosprezar uma tempestade num copo de água, porque uma tempestade num copo de água pode anteceder um tsunami no prato da sopa. Basta recordar que Francisco Balsemão foi padrinho de casamento de Nuno Vasconcellos, e que se o Chico não se tem chateado com o Nuno nada disto tinha sido descoberto. E porque é que nada disto tinha sido descoberto? Porque, para começar, Relvas não se queixava à polícia dos SMS que recebia de um maluco.

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Eu acho que o ministro-adjunto deixou de ter condições para exercer o seu cargo; no mínimo, tem que mudar de rede. E parece-me pouco excitante o Governo estar a governar com nove ministros e meio.

Para terminar. Jorge Silva Carvalho saiu de uma coisa que ninguém sabe bem como funciona para uma coisa que ninguém sabe bem o que é. - Queremos essa sua capacidade para produzir neblina, na nossa gestão - foi o que lhe disseram por SMS. A única conclusão que podemos tirar de toda esta história é que ser espião em Portugal tem menos glamour que ser ourives em Espanha. No nosso país, até a vida de espionagem é cinzenta. Deve existir por aí um Fado do Espião.

5 SMS a que ninguém respondeu

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1. A mobilidade temporária é a salvação das SCUT?

2. Portugal com 14,9% de desemprego: será que as pessoas ouviram falar nas oportunidades dos desempregados e agora não querem outra coisa?

3. Venizelos: "avancei com a proposta de formar um governo de personalidades/tecnocratas" - e bonecos de espuma?

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4. De dia para dia, Passos Coelho tem mais seguranças - é correcto dizer que se Portugal fosse as costas do primeiro-ministro não havia desemprego?

5. O presidente grego já convidou o Fernando Santos para formar governo?

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