Rui Rosa Dias 08 de Abril de 2020 às 17:00

Patriotismo agroalimentar: da produção ao marketing

Portugal é claramente um oásis agroalimentar. Que não restem dúvidas quanto a esta evidência.

Portugal é claramente um oásis agroalimentar. Que não restem dúvidas quanto a esta evidência. Sair de casa e percorrer o nosso território, transporta-nos para um mosaico agro e alimentar, diversificado, colorido, singular, completo, rico, genuíno, conferindo a necessária felicidade aos olhos e ao Ser agroalimentar que todos nós somos. Felicidade pela paisagem cultivada e não cultivada, pelas cores distintas que a natureza nos oferece, por via das diferentes culturas - as mais apropriadas à região e, naturalmente, pelos territórios, pelas gentes, pelos sorrisos e pelo bem receber. Somos um País com um Terroir absolutamente invejável.

 

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A visão política sobre a importância do setor agroalimentar para a economia, aumentou consideravelmente após a mais recente crise económico-financeira. Criou-se, de janeiro de 2010 a dezembro a 2013, um clima muito propício ao aumento da visibilidade e importância que o setor agroalimentar tem para as economias nacionais. Após os cortes e ajustamentos - entre janeiro 2010 e março de 2011, veio a reconfiguração do consumo - de março 2011 a dezembro 2013. Daí para cá, vivemos um positivismo realista, que se alavanca, num conjunto de fatores, como a estabilidade governativa, o aumento das exportações, os grandes eventos internacionais, altamente mediatizados e responsáveis pela divulgação do nosso património, o crescente aumento do interesse turístico por Portugal e um sentimento de que realmente somos um País com capacidades. Todos estes fatores foram e são claros detonadores da nossa recuperação económica, mas também, de um gradual aumento do bem-estar. Não obstante, ao nível da governação agroalimentar, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que o setor agroalimentar seja, não só em períodos de crise económica, considerado como a base, a estrutura, o sustento de uma nação, mas acima de tudo, o pilar estratégico de desenvolvimento a médio e longo prazo. Provou-se claramente que Economia é Produzir, não ao menor custo possível, mas Produzir tendo em atenção outros fatores, como a sociedade - territórios, tradições, inovação, organizações e o meio ambiente - modos de produção, solo, biodiversidade, preservação e estímulo aos ecossistemas.

 

Está claro para todo o mundo que as alterações climatéricas poderão condicionar as produções mundiais. Na verdade, já estão a condicionar. Portugal não fugirá a este condicionalismo. A água começa a ser um bem escasso. A produção com base nas monoculturas são um dos grandes motivos da constante perda de biodiversidade. Então se assim é, e se somos de facto considerados, pelos influencers, pelos prescritores e opinion makers do mundo agro e alimentar, um raro exemplo de preservação de espécies - vegetais e animais, e de uma mesa rica, farta, colorida e alegre, porque não ter a nossa marca Portugal Agroalimentar bem fundamentada e unanimemente reconhecida e validada? A nossa capacidade de entender o marketing agroalimentar como a ferramenta de base, para conquistar a nossa merecida posição no contexto global agroalimentar, ainda é uma miragem.

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Creio que, o facto de se separar politicamente o agro do alimentar é um dos verdadeiros erros estratégicos. Todos somos patriotas agro e alimentares. Porquê? Porque, no limite, defendemos o nosso território, as nossas gentes, as nossas espécies, o nosso SER agro e alimentar. Já nas compras, parece que somos outro tipo de "patriotas". Após a reconfiguração do consumo, e depois dos constantes bombardeamentos promocionais, o consumo português, independentemente da origem do alimento, do modo de produção e até da qualidade nutricional, passou a mover-se por promoções. Cerca de 46% do consumo nacional acontece por via das campanhas promocionais. Creio que só os mais distraídos, é que ainda não entenderam a falsidade que, em certos casos - e já são muitos, reina nas promoções. Na verdade, o Patriotismo agro e alimentar esvazia-se com as ações promocionais. Estamos literalmente rodeados de mentiras agroalimentares.

 

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Temos muito trabalho pela frente ao nível do reposicionamento da importância do setor agroalimentar "dentro de portas". Todos nós sabemos que nos alimentos é impossível alta qualidade a baixo preço. Para os coitados que só vivem de Economia, um dia perceberão que é impossível continuar a escalada das economias de escala, sem conquistar mais base de território, mais Terra. As economias de escala têm um fim, tal como o Solo … o comportamento e felicidade agroalimentar, não. Portanto, olhe-se em primeira instância e de forma holística, para o consumo e depois, sim, para a produção.

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