Miguel Pereira Lopes 08 de Maio de 2012 às 23:30

"output vs outcome"

Numa aula aberta sobre gestão internacional de recursos humanos, que recentemente organizei na minha instituição, o orador convidado, que é Director Central de Recursos Humanos da TAP, começou por contar um curioso episódio da sua vida profissional passada.

Numa aula aberta sobre gestão internacional de recursos humanos, que recentemente organizei na minha instituição, o orador convidado, que é Director Central de Recursos Humanos da TAP, começou por contar um curioso episódio da sua vida profissional passada. Do que eu captei, dizia o orador que numa reunião internacional com colegas norte-americanos, e onde representava a parte Sueca da empresa, os americanos lhe terão dito que na Suécia não havia ninguém com um desempenho "superior", ao contrário do que se passava nos Estados Unidos. E a constatação era simples, nos processos de avaliação do desempenho os americanos consistentemente ficavam acima na concretização dos objectivos (i.e., nos "outputs" produzidos). E isto apesar da empresa na Suécia ser mais lucrativa.

O orador interpretou de forma magnífica este episódio com a fundamental distinção entre os termos e "outcome". Refere-se ao resultado concreto e tangível, o indicador que utilizamos para medir algo. A facturação em Euros de uma empresa ou o PIB de um país são bons exemplos de "outputs". "Outcome" refere-se às consequências de se ter alcançado ou não esse , como sejam a falência da empresa ou a necessidade de intervenção da "troika". A aplicação desta distinção é imensa e muito útil. Julgo por isso que deve ser divulgada para não se continuar a "comer gato por lebre". Aqui ficam alguns exemplos!

Começo por uma área que me é familiar, a produção científica. É sabido que alguns países, como Portugal, evoluíram de forma notável nos indicadores de produção científica, como a produção de artigos científicos de referência, a realização de vastos projectos de investigação, os avultados investimentos em programas internacionais de colaboração institucional, etc. E qual foi o "outcome" desse incremento no "output"?... Pois bem, provavelmente o leitor não sabe. E eu também não. Mas se algum "outcome" houve (alguma consequência, entenda-se), não se deu por ela

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Outro exemplo simples e conhecido, que divide paixões político-partidárias: o programa "Novas Oportunidades". Alguns olham para os "outputs" e fazem uma avaliação "excelente" do programa. Mas outros, com alguma legitimidade, questionam-se sobre o "outcome" a que se chegou, ou seja, o "so what?". Temos mais conterrâneos com o 12.º ano de escolaridade e então?... Isso resultou em quê? Em profissionais mais produtivos e mais felizes? Ou em profissionais mais desmotivados, frustrados e, como tal, improdutivos? O ponto-chave não é o indicador ("output"), mas sim para que serviu todo este investimento ("outcome"). Alguém sabe?

Por fim, um último exemplo onde esta importante distinção conceptual parece fazer muita falta, o das finanças públicas. Tem sido consistente na retórica política a dicotomia entre crescimento económico e consolidação das finanças públicas, como se uma coisa fosse possível sem a outra. É o foco no "output"! Uns destacam o "output" desemprego; outros, o "output" exportações ou dívida pública. Mas ninguém fala em "outcome", ou seja, para onde nos leva cada uma das alternativas. Eu preferia ver uma discussão clara que articulasse ambas as coisas. Para onde nos levaria um crescimento económico imediato, mas não sustentado mesmo que fosse possível? E para onde leva esta ausência de crescimento no longo prazo?

É pois fundamental olharmos para o "outcome" das nossas acções e não apenas para os múltiplos "outputs" que podemos escolher à medida de cada momento. É a isto que se chama economia sustentável e foi isso provavelmente o que aconteceu na empresa Sueca do orador que esteve no ISCSP. Os americanos, com o seu foco no "output" oscilavam entre o péssimo e o muito superior, mas os Suecos focavam-se provavelmente em manter um "outcome" sustentável e equilibrado. Sem excepcionais, é certo, mas todos consistentemente bons

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É este o equilíbrio que precisamos para contornar a nossa tendência em constantemente apresentar "outputs", que de pouco servem além do debate e da guerrilha política. Mas também é crucial não esquecer que sem "outputs" não há "outcomes" e que, como tal, nem todas as soluções valem o mesmo.

Professor de Gestão de Recursos Humanos no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa (ISCSP-UTL)

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