Risco e oportunidades por entre agitação política acrescida
1.º Acontecimento: Itália
A formação de um governo de coligação anti-sistema em Itália teve um forte impacto nos mercados. Os partidos políticos vencedores tinham-se comprometido a promover um referendo sobre se Itália deveria ou não abandonar o Euro - que resultaria de facto na saída da UE. Isto provocou uma queda generalizada no mercado obrigacionista italiano que, na minha opinião, foi exagerada em relação ao risco político, considerando que: 1) O referendo pode não acontecer; 2) Não é inteiramente claro que o eleitorado votasse na saída da UE; 3) Mesmo que a Itália saísse, qual seria o diferencial das suas obrigações face às bunds alemãs?
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Para mim, o movimento nos preços das obrigações italianas teve mais a ver com o posicionamento dos investidores do que com o risco político. Sublinhou a atual mentalidade de "procura de rendimento" dos investidores que não se podem permitir perdas de capital. Se o Banco Central Europeu (BCE) precisasse de provas de um comportamento pouco usual dos investidores em resposta à manutenção de taxas de juro a níveis ultrabaixos, era esta.
A reação adversa dos investidores criou oportunidades de investimento, mas a rapidez é essencial: a "yield" das obrigações italianas a dois anos disparou quase 2% no dia do anúncio da coligação, mas recuou substancialmente no dia seguinte. Entretanto, a "yield" das obrigações a 10 anos ultrapassou os 3% e, ao contrário da "yield" das obrigações a dois anos, ainda se mantém em cerca de 3% na altura em que escrevo. Com cobertura em dólares norte-americanos, isto traduz-se em 5,5%, o que compara favoravelmente com muitos mercados emergentes. Acredito que isto representa valor.
Para mim, a rapidez do movimento das "yields" italianas significa que os investidores profissionais institucionais estiveram envolvidos nas vendas massivas. Presumivelmente, detinham obrigações italianas num cabaz de países do Euro. Isto é, certamente, mais uma prova da necessidade de dívida europeia a nível federal, caso o Euro queira consolidar o seu papel de moeda de reserva.
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Como sou um otimista, pergunto-me se a população de um outro Estado-membro europeu se manifestar contra a UE como instituição, isso a levará a pensar em reformas, nomeadamente no que se refere à flexibilidade. Quem sabe - se tais reformas ocorressem, o Reino Unido poderia até ser persuadido a reingressar. Mas a guerra comercial iminente poderá impedir esse benefício, o que me leva ao segundo acontecimento.
2.º Acontecimento: EUA, Canadá, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Japão
Assistir ao desenrolar da reunião do G-7 foi fascinante. Na minha opinião, o abrandamento dos níveis potenciais de crescimento económico conduzem inevitavelmente ao protecionismo, à medida que ganhar quota de mercado se torna mais importante.
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Aquela fotografia lamentável dos líderes mundiais debruçando-se indignados sobre o Presidente Trump transmitiu-me a ideia de que Trump poderá ganhar esta disputa comercial. A enorme dimensão doméstica da economia norte-americana pode ser o suficiente para colocar Trump em vantagem. No entanto, com as emoções ao rubro é difícil imaginar uma resolução rápida; como as negociações do Brexit nos mostram.
As fricções comerciais reduzem a eficiência económica, o que diminui o potencial de crescimento económico. Isto traduz-se em níveis mais baixos de taxas de juro terminais e, portanto, "yields" mais baixas das obrigações. Assim, as Obrigações do Tesouro a 10 anos com uma "yield" de 3% parecem-me uma boa aposta. Vou seguramente manter obrigações na minha carteira para contrabalançar a exposição às ações. Com um enfoque tão forte do mercado acionista nos lucros das empresas, preocupo-me com o agravamento da disputa comercial. Para aqueles que investem apenas em ações, os riscos podem ser atenuados se derem preferência às empresas domésticas, nomeadamente de pequena capitalização.
Fiquei dececionado por o Presidente Trump ter retirado o seu apoio ao comunicado do G-7 logo após ter deixado o Canadá. Na vida, nos negócios e na política, marcamos o momento de negociar e utilizamos esse momento para chegar a acordo, geralmente com um compromisso de todas as partes. Retirar o apoio após tais reuniões torna a diplomacia ineficaz; o que me leva ao terceiro acontecimento.
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3.º Acontecimento: Coreia do Norte
Como membro da sociedade global, fiquei satisfeito por ver o início das conversações entre os EUA e a Coreia do Norte. Não gostei que a imprensa as tivesse transformado num circo, e espero que ambos os líderes pouco ortodoxos não se tenham deixado influenciar.
Não tenho a certeza de que tenha qualquer impacto nos mercados globais. Os EUA pareceram insistir em que um acordo exigiria a total desnuclearização da Península da Coreia. Como esta beneficiaria ambas as partes, acredito que este objetivo seja alcançado. O investimento natural seria então vender francos suíços, mas os mercados já estão a incorporar este acontecimento. O franco suíço encontra-se agora tão fraco como quando há alguns anos o Banco Nacional Suíço aboliu a taxa de câmbio mínima da divisa face ao euro. Talvez vender ouro seja uma aposta melhor.
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Concluindo, o meu conselho é que se deve ser ágil. As oportunidades vão surgir porque estes acontecimentos dão origem a movimentos do mercado que são exagerados devido ao risco excessivo assumido pelos investidores; um comportamento que se deve à política demasiado acomodatícia dos bancos centrais.
Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.
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