Uma nova ordem mundial?...
Também agora assim sucederá, ainda que estejamos a viver a pior crise financeira desde a que originou a Grande Depressão de 1929-33, e cujos efeitos (negativos) na economia real ainda estão para ser sentidos na sua grande maioria – podendo admitir-se, face à informação hoje existente, que a situação só melhorará, provavelmente, para lá de 2009.
Assim sendo, ao contrário do ministro da Economia, Manuel Pinho, não consigo descobrir razões para que o mundo da prosperidade, que marcou os últimos 10 a 15 anos, tenha terminado (céus!...).
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Contudo, já consigo encontrar motivos que podem levar a que, sobretudo em termos de poderio económico e financeiro, o mundo a que estamos habituados possa levar uma grande reviravolta. Explico porquê a seguir.
Apesar da crise que estamos a viver estar a afectar todo o globo, os efeitos são bem mais devastadores nos EUA e na Europa. De facto, as perdas assumidas pelo sistema financeiro mundial até ao fim de Setembro atingem quase USD 600 mil milhões – mais de EUR 420 mil milhões, ou cerca de 2 vezes e meia o valor do PIB português em 2008 (!) – dos quais cerca de 57% tiveram lugar nos EUA, 39% na Europa e apenas 4% na Ásia.
A vulnerabilidade do "Ocidente Industrializado" é, assim, evidente – como notória é a baixa fragilização do Continente Asiático, muito menos exposto ao "subprime".
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Ora, em minha opinião, esta situação não é alheia ao facto de os aumentos de capital e as entradas de novos accionistas nas instituições financeiras mais afectadas pela crise estarem a ser protagonizados, maioritariamente, por países do Extremo Oriente, como Singapura, China ou Japão, e por estados árabes, como a Arábia Saudita, Emiratos Árabes Unidos (destacando-se, entre estes, o Emirato Abu Dhabi), Qatar ou Kuwait (e isto excluindo, claro, as "nacionalizações" e salvamentos levados a cabo pelos governos dos EUA e de diversos países europeus). De facto, ao todo, ao longo do último ano, já entraram mais de USD 47.5 mil milhões (ou cerca de EUR 35 mil milhões) provenientes do Extremo Oriente – a partir, nomeadamente, de fundos soberanos, mas também de instituições financeiras – em bancos como o UBS, Citigroup, Morgan Stanley, Merrill Lynch, Blackstone, Fortis, Barclays, ou mesmo do Bear Sterns (absorvido pelo JP Morgan Chase) e do Lehman Brothers (este depois da falência, com a venda de várias das suas unidades de negócio); no mesmo período de tempo, os países árabes acima citados, também através de fundos soberanos, entraram em bancos como o UBS, Citigroup, Merrill Lynch ou Barclays, disponibilizando para o efeito pouco menos de USD 25 mil milhões (ou quase EUR 18 mil milhões) – e compraram verdadeiros símbolos ocidentais, como o Edifício Chrysler, em Nova Iorque, ou o Manchester City, clube desportivo inglês que todos conhecemos.
Está, pois, a assistir-se a uma verdadeira transposição do poder económico e financeiro do Ocidente para a Ásia, em consequência, quer do dinamismo do Extremo Oriente (do qual a China tem sido, nos últimos anos, o expoente máximo), quer das receitas provenientes do petróleo (no caso dos países árabes). Ironias da globalização: os outrora países considerados pobres estão a socorrer os "ricos", e as nações emergentes estão a converter-se em credores do mundo "dito" industrializado!...
E então aí sim, aí encontro razões mais do que suficientes para poder pensar que o Mundo que conhecemos e a que estamos habituados, com preponderância dos EUA e da Europa, esteja a dar lugar a outro, bastante mais equilibrado, e em que a Ásia deixará de desempenhar um papel secundário.
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Uma nova ordem mundial pode estar a despontar.
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