Jorge de Sá 20 de Fevereiro de 2019 às 19:45

Evoluções do conceito de economia social

Foram as grandes exposições universais francesas de Paris na segunda metade do século XIX que consagraram o conceito de economia social. Primeiro a de 1855 que acolheu a "economia caritativa" no espaço dedicado à economia doméstica.

Em 1830, o economista Charles Dunoyer publicou o "Novo tratado de economia social ou simples exposição das causas sob influência das quais os homens conseguem usar as suas forças com mais liberdade e mais potência", seguindo o seu mestre Jean-Baptiste Say na preferência pela expressão economia social na vez de economia política.

 

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Não será, portanto, de estranhar que Léon Walras, fundador da economia política moderna, tenha publicado em 1877 a obra "Estudos de economia social ou Teoria da repartição da riqueza", enquadrada na publicação "Elementos de economia política pura".

 

Numa obra de 1890 designada "Quatro escolas de economia social", a Sociedade Cristã Suíça de Economia Social, reproduziu quatro conferências tratando da escola autoritária (dominada pelo dogma religioso e a autoridade do patrão), da escola da liberdade (de inspiração liberal), da escola coletivista (à época, socialista) e da escola da solidariedade (fundada na cooperação), esta última apresentada por Charles Gide que posteriormente viria a inspirar o "nosso" António Sérgio.

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Já antes, pelos idos de 1834, Alban de Villeneuve-Bargemont publicava o seu "Tratado de economia política" numa perspetiva quiçá mais doutrinal, assente na moral cristã, associando na prática o conceito de economia social ao de economia caritativa. É neste âmbito que viria a criar em 1856, com Frédéric Le Play, a Sociedade Internacional de Estudos Práticos da Economia Social.

 

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Numa outra perspetiva, por volta da metade do século XIX, encontramos uma orientação vincadamente socialista e dominada pelos conceitos de "associação" e de "cooperativa", primeiro com a obra de Constantin Pecqueur (1842) intitulada "Nova teoria de economia social e política ou estudos sobre a organização das sociedades" e logo depois, em 1846, com o trabalho de François Vidal "Da repartição das riquezas ou da justiça distributiva na economia social".

 

Quase trinta anos depois, com a renovação do pensamento socialista, de que o "nosso" Antero foi uma referência, encontramos o Benoît Malon, um proudhoniano, com o seu "Manual de economia social" de 1883.

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Mas foram as grandes exposições universais francesas de Paris na segunda metade do século XIX que consagraram o conceito de economia social. Primeiro a de 1855 que acolheu a "economia caritativa" no espaço dedicado à economia doméstica. Depois, na exposição de 1867 onde a economia social mereceu um concurso e um prémio, seguida do triunfo de 1889 com um pavilhão inteiramente dedicado e 1.200 expositores. A consagração chegou com a exposição de 1900 onde brilhou o "Palácio da Economia Social" com cerca de 6.000 expositores vindos de 40 países a que se seguiu o relatório geral de Gide em 1902, reeditado em 1905 com o título "Economia Social - As instituições do progresso social no início do século XX".

 

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O conceito estava bem ancorado e é assim que professor Edgard Milhaud, fundador do CIRIEC Internacional, cria em 1908, em Genebra, a revista Les Annales que se mantém desde então dedicada à economia coletiva, um conceito com que Milhaud concebia o conjunto da economia pública e da economia social.

 

É na senda de todo este contexto que António Sérgio veio a desenvolver a ideia de "solidariedade voluntária", uma malha entretecida e que continua a ser recordada meio século depois do seu desaparecimento físico.

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Espaço da Economia Social

 

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Por iniciativa da Mutualité Française, foi criado o movimento "Espaço da Economia Social", que integra dez entidades mutualistas europeias, entre as quais a Associação Mutualista Montepio. Este movimento pretende dotar os candidatos às próximas eleições para o Parlamento Europeu de uma informação sobre as aspirações e inquietações dos cidadãos europeus relativamente à Europa Social.

 

Para esse efeito, foi publicado um manifesto e lançado um questionário para recolha das opiniões dos cidadãos e que estará disponível até ao dia 31 de março. Pode aceder ao manifesto e ao questionário em www.montepio.org.

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Colóquio "Revisitar António Sérgio"

 

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Realiza-se no dia 28 de fevereiro, na Casa da Escrita, em Coimbra, a Jornada Primeira: Economia e Sociedade, do Colóquio "Revisitar António Sérgio cinquenta anos depois".

 

Esta iniciativa é organizada pelo Centro de Estudos Cooperativos e da Economia Social da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) e tem o apoio da CASES e do Município de Coimbra. Do programa desta jornada constam seis conferências centradas no pensamento de António Sérgio e na relação entre a economia social e solidária e a democracia.

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No final, está prevista a abertura da Exposição bibliográfica, na Biblioteca da FEUC.

 

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Presidente do CIRIEC Internacional

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