O desprezo pela engenharia portuguesa
Declaração de interesses: sou engenheiro químico, do Técnico, membro conselheiro da Ordem dos Engenheiros e da Academia de Engenharia.
Tenho natural orgulho na engenharia e nos engenheiros portugueses.
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O país continua a deter boas escolas de engenharia – Técnico, Nova, Porto, Aveiro,… que todos os anos formam milhares de engenheiros, que exercem a sua profissão, com competência e seriedade, em Portugal e, mais recentemente, sobretudo, no estrangeiro.
Os melhores alunos das nossas escolas de engenharia continuam a emigrar para os países do Norte da Europa.
Todos nós, engenheiros, somos moldados, pela racionalidade da matemática, o realismo da física clássica e o desafio da física e química quântica.
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Somos preparados para analisar um problema, em detalhe, e encontrar a solução optimizada.
Trabalhamos, sempre, com modelos quantitativos.
Mesmo os que evoluem para a área da gestão mantêm estas características no seu ADN.
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Os países ricos e desenvolvidos – Alemanha, Suíça, Holanda, Inglaterra,… – acarinham e utilizam a engenharia e os engenheiros, no seu processo de desenvolvimento, reconhecendo a sua contribuição para a criação de valor.
Na optimização das suas infraestruturas físicas, nos seus processos de reindustrialização, na melhoria dos processos e operações na indústria e nos serviços e na inovação empresarial, que é a chave para a sua competitividade.
Como ensino aos meus alunos de gestão da inovação, não há inovação radical sem inovação tecnológica, pelo que os tecnólogos, em geral, e os engenheiros, em particular, são fundamentais neste processo.
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A diferença entre os países desenvolvidos do Norte da Europa e os países subdesenvolvidos é clara: os primeiros acarinham e utilizam, racionalmente, a sua engenharia nos processos de decisão empresarial; os segundos desprezam a sua engenharia e deixam-se guiar por interesses diversos, contrários ao interesse nacional.
Infelizmente, a classe política do nosso país, em geral, e os últimos governos, em particular, sem ministros engenheiros, desprezam a engenharia e os engenheiros portugueses.
Para ser honesto, esta realidade não é exclusiva do actual Governo, em relação ao qual, são conhecidas as minhas divergências.
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O desprezo pela engenharia portuguesa tem conduzido a obras públicas irracionais, investimentos públicos com rentabilidades negativas, à destruição da nossa indústria de bens transaccionáveis, e à redução drástica de dimensão das nossas empresas mais emblemáticas, com uma base relevante de engenharia.
A má afectação de recursos públicos está na base da estagnação económica e empobrecimento constante do nosso país.
No caso do novo aeroporto de Lisboa, prevejo uma dupla humilhação para a engenharia portuguesa: a sua localização no Montijo, contra a opinião da maioria dos engenheiros especialistas nesta matéria; e a obra a ser executada por empresas de construção, francesas e espanholas.
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Espero, ainda, que a minha Ordem esteja atenta.
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