Luís Marques Mendes 28 de Julho de 2019 às 21:20

"Gestão política que o Governo faz dos fogos continua um desastre"

As notas da semana de Marques Mendes no seu habitual comentário na SIC. Marques Mendes fala sobre a greve dos camionistas, as listas do PS e PSD às eleições legislativas, a relação Marcelo/Costa e a gestão dos fogos, entre outros assuntos

GREVE DOS CAMIONISTAS

 

PUB

  1. Esta greve é um exercício de oportunismo. O sindicato só faz greve porque estamos em cima de eleições. É uma esperteza saloia. Os factos são claros:
  • Depois da greve da Páscoa, o Sindicato conseguiu duas vitórias: aumentos salariais para 2020; e projectados aumentos salariais para 2021 e 2022 de acordo com a evolução do salario mínimo nacional;
  • E comprometeu-se, preto no branco, a prosseguir negociações até 31 de Dezembro de 2019. Está tudo no protocolo assumido em 17 de Maio. Mudar de comportamento a meio do processo revela oportunismo e má fé negocial.
  • Por isso, ao contrário da anterior, é uma greve altamente impopular.

 

  1. E ao país, que sucederá? Desta vez, ao contrário do que sucedeu na Páscoa, o Governo tem tudo planeado. Não está desprevenido. Vamos ter serviços mínimos bastante ambiciosos, incluindo os movimentos de cargas e descargas; e vamos ter uma forte mobilização das Forças Armadas e das Forças de Segurança, incluindo para "substituírem" os camionistas grevistas.

PUB

 

  1. Politicamente falando, esta greve é um desafio ao Governo. Neste quadro, é uma arma de dois gumes: o Governo tanto pode sair reforçado como penalizado.
  • Se o Governo for firme, exercer a autoridade, for respeitado nas suas decisões e colocar ordem na casa, ainda acabará a sair por cima. Nestes momentos, os portugueses apreciam autoridade. Como se viu na crise dos professores.
  • Se o Governo for tímido, laxista e de meias tintas, então sim, pode sair bastante penalizado e ter consequências eleitorais.

 

PUB

 

AS LISTAS DO PS E DO PSD

 

PUB

  1. Foram aprovadas as listas de candidatos do PS às legislativas de Outubro:
  2. Aspectos positivosPrimeiro, uma aprovação pacífica. Segundo, alguma renovação. Finalmente, várias mulheres como cabeças de lista.
  3. Aspectos negativosUm excesso de governantes como candidatos. É normal, quando um partido está no Governo. Mas não é positivo. E, depois, um aspecto muito negativoa ausência de Francisco Assis. Quando alguém com a qualidade política e intelectual de Assis não está nem no PE, nem na AR, nem no Governo, algo vai mal no reino da democracia.

 

  1. As listas do PSD serão aprovadas para a semana. Para já:
  2. Aspectos positivosAs escolhas de vários cabeças de lista. Já elogiei os cabeças de lista de Lisboa, Porto e Leiria. Mas posso também elogiar as escolhas de Braga (Coelho Lima), de Santarém (Isaura Morais), de Faro (Cristóvão Norte) e de Aveiro (Ana Miguel Santos).
  3. Aspectos negativos A exclusão de várias pessoas que têm mérito para serem deputados mas que pensam diferente do líder. Não é a primeira vez que isto sucede. Mas é um erro. Não se deve confundir lealdade ao partido com subserviência ao líder. Aspecto ainda mais negativo: o ambiente de ruído, balburdia e confusão que está instalado.
  • Primeiro, porque ninguém gosta de votar num partido em balbúrdia permanente. Depois, porque as pessoas perguntam: se o líder não consegue governar o seu partido, como há-de governar o país?

PUB

 

  1. Finalmente, uma crítica a todos os partidos, em especial ao PS e PSD. Todos deviam estar agora a exigir aos seus candidatos que se comprometessem por escrito a suspender funções se alguma vez forem investigados por crimes de corrupção ou outros de igual gravidade.
  • Afinal, falam muito de ética, transparência e combate à corrupção. Porém, nos momentos da verdade, falham clamorosamente.

 

PUB

A RELAÇÃO MARCELO/COSTA

 

A recente sondagem JN/TSF tem dois dados aparentemente contraditórios: por um lado, os portugueses reforçam a votação no PS a ponto de lhe darem uma maioria (43%); por outro lado, querem que o Presidente seja mais exigente com o Governo (65%). Por que é que isto sucede?

PUB

 

  1. Primeiro, julgo que não há qualquer contradição. Estes dados mostram que os portugueses apreciam o que eu chamo de Bloco Central InstitucionalCosta em S. Bento e Marcelo em Belém. Como já no passado apreciaram Cavaco em S. Bento e Soares em Belém.

 

PUB

  1. Segundo, estes dados revelam que os portugueses acham que não há oposição. E, para preencher esse vazio, querem um Presidente mais interventivo e mais fiscalizador da acção do Governo. Ou seja: querem um sistema de pesos e contrapesos a funcionar com eficácia.

 

  1. Terceiro, este pode ser um novo desafio para Marcelo Rebelo de Sousa. Se o PS tiver maioria absoluta ou ficar muito próximo de a alcançar, o PR vao ter, certamente, de repensar o seu posicionamento. Vai ter de fazer o reequilíbrio político do regime. Não é ser líder da oposição. Essa nunca será a função do PR. Mas é ser um agente de recentragem política. Tal como já fez Mário Soares nos anos 90, no tempo das duas maiorias absolutas de Cavaco Silva.

PUB

 

ELEIÇÕES NA MADEIRA

 

PUB

  1. Estamos a menos de dois meses das eleições na Madeira. Neste quadro, o DN da Madeira publicou esta semana uma sondagem (Eurosondagem) que dá o PSD a ganhar as eleições com uma pequena vantagem de 1,5%. O curioso é que numa outra sondagem também publicada no DN da Madeira em Janeiro, o PS estava nessa altura em primeiro lugar, também com uma vantagem ligeira.

 

  1. Tecnicamente este resultado é um empate técnico. Mas revela uma inversão de tendência. A meu ver por três razões:
  2. Primeiro: esta tendência corresponde à votação que ocorreu nas eleições europeias. Para surpresa geral, o PSD teve na Madeira uma vitória muito expressiva. Ganhou em todos os concelhos. Ao contrário da clamorosa derrota no continente.
  3. Segundo: porque na Madeira o PSD aparece unido e não dividido. Antes, tinha duas facções: Miguel Albuquerque, de um lado; Alberto João Jardim, do outro lado. Entretanto, ambos "fizeram as pazes" e o PSD está unido e coeso. Tudo ao contrário do que se passa no continente.
  4. Finalmente: porque a Região tem bons resultados económicos e sociais. É como o Governo da República. A economia está a crescer há 71 meses consecutivos; o turismo, o investimento e as exportações estão em alta; o desemprego está em baixa (reduziu-se de 19% para 7%); há 6 anos que há excedentes orçamentais e não défice; a dívida pública caiu brutalmente e os apoios sociais cresceram (nos passes sociais e no apoio às creches e jardins de infância).

PUB

 

  1. Com estes dados é difícil perder eleições. O problema é a seguir às eleições: o PSD e o CDS conseguem fazer maioria para governar? Ou o PS consegue fazer na Madeira uma geringonça governativa?

 

PUB

A GESTÃO DOS FOGOS

 

  1. A gestão operacional dos fogos – Depois dos grandes fogos de Mação/Vila de Rei, eu diria o mesmo que dizem vários especialistas:
  • Primeiro: em relação a 2017, parece que pouco mudou – a floresta está mais limpa, é verdade; mas há ainda muito e melhor a fazer a nível operacional – na deteção dos fogos, nos alertas e no combate.
  • Segundo: mudaram-se muitas leis. Mas as mudanças ainda não chegaram às práticas e aos resultados. Não podemos estar permanentemente a deitar as culpas para cima do ordenamento do território.

PUB

 

  1. A gestão política que o Governo faz dos fogos – Continua um desastre.
  • Foi um desastre nos fogos de 2017 (descoordenação e incompetência). Foi um desastre no grande fogo de Monchique em 2018 (insensibilidade).
  • E foi um desastre agora. Arrogância e mais arrogância. Arrogância do PM a "sacudir a água do capote"; arrogância do MAI a criticar injustificadamente o autarca de Mação, que se tinha limitado a desabafar com a falta de meios; arrogância do MAI, novamente, a criticar a comunicação social por causa das golas inflamáveis que a Protecção Civil comprou. Este Ministro comportou-se como um incendiário!

 

PUB

  1. Há uma conclusão importante: quanto mais o PS sobe nas sondagens mais a Governo se torna arrogante e autoritário. É assim com o MAI nos fogos; foi assim com o MDN perante a entrevista do Almirante Silva Ribeiro; foi assim com o PM na fúria com a PGR por causa do ex-Ministro da Defesa.
  • Assim, o PS não chega mesmo à maioria absoluta!! Quem quer uma maioria pratica a moderação e o diálogo, nunca a arrogância e a insensibilidade.

 

ESPANHA E REINO UNIDO – QUE FUTURO?

PUB

 

  1. Espanha As semelhanças com Portugal
  2. O Podemos quer desesperadamente ir para o Governo. Tal como o BE cá dentro. O problema é que os socialistas não querem. Lá como cá.
  3. O PSOE quer uma maioria absoluta para governar sozinho. Por isso, não quer fazer coligações. Em consequência, tudo vai fazer para arrastar o processo, fazer-se vítima e tentar a maioria em novas eleições em Novembro. Lá como cá. Não perdem a maioria mas não querem outra coisa.

 

PUB

  1. Reino UnidoO populismo no poder
  2. Boris Johnson é mais um populista no poder. Mas, atenção, não é Trump ou Bolsonaro. É inteligente e culto. Tem mais qualidade política e intelectual. Não é proteccionista.
  3. O seu grande desafio é o Brexit. Tudo vai fazer para dar a volta à UE. Mas é praticamente impossível conseguir a reversão da posição europeia.
  4. No entretanto, não surpreende se dentro de poucos meses provocar eleições legislativas antecipadas. Ele precisa de aproveitar o estado de graça da chegada ao poder para se legitimar e reforçar politicamente.
  5. E já está em campanha eleitoral com promessas sem fim – redução de impostos, mais 20 mil polícias, uma ponte entre a Escócia e a Irlanda do Norte.
  6. Conclusão: é carismático e entrou em força. Não o menosprezem.

Pub
Pub
Pub