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Luís Marques Mendes
01 de Julho de 2018 às 21:13

Notas da semana de Marques Mendes

As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O comentador fala sobre o desempenho da Selecção no Mundial, da não divulgação da lista dos grandes devedores à banca, da política europeia, após o Conselho Europeu, bem como das polémicas que marcam a política nacional.

A SELEÇÃO E O MUNDIAL 

  1.       Um balanço negativo. Tivemos uma prestação medíocre:

a)      Não chegámos sequer aos quartos de final;

b)      Tínhamos equipa para fazer bem melhor;

c)      Com excepção do jogo com a Espanha e da segunda parte de ontem, jogámos sempre mal;

d)      Não manifestámos nem maturidade nem ambição;

e)      Fomos uma equipa vulgar;

f)       O balanço só não é mais negativo porque a Seleção Campeã do Mundo (a Alemanha) ainda conseguiu fazer pior do que nós.

 

  1.       Há, entre outras, uma lição a retirar deste Mundial: convém não abusar da sorte e jogar um pouco mais. No Europeu, tivemos muita sorte e saímos campeões; agora, no Mundial, a sorte foi parar ao Uruguai e saímos eliminados.

 

MARCELO COM TRUMP

 

  1.       Há dois lados distintos nesta visita: o lado institucional e o lado do espectáculo.

a)      Quanto ao lado institucional (o mais importante), a questão que se coloca é: esta visita faz sentido?

  •          Se Donald Trump não fosse o Presidente dos EUA, a pergunta nem sequer se colocava. Era óbvio que a visita fazia sentido. E continua a fazer, porque um país é mais que um Presidente e as relações entre países são institucionais e não pessoais;
  •          Afinal, Portugal e os EUA são velhos aliados; têm interesses em comum na NATO; têm relações bilaterais importantes, quer no domínio comercial, quer quanto à base das Lajes; e Portugal tem uma importante comunidade nos EUA.

b)      Quanto ao lado do espectáculo (a parte do encontro aberta à comunicação social), há que dizer que o PR português surpreendeu:

  •          Primeiro, dominou toda a conversa e distribuiu jogo em todas as direcções, secundarizando Trump, ao contrário do que costuma suceder nos encontros do Presidente dos EUA;
  •          Segundo, não cedeu a qualquer tipo de subserviência;
  •          Finalmente, teve aquela tirada genial (Portugal não é a América), o que, naquele contexto, significava algo do género: em Portugal dificilmente um Trump seria eleito. Foi Marcelo no seu melhor! 
  1.       Uma visita que não pode ser desinserida do momento alto que Portugal vive em termos internacionais.
  •          Três vitórias importantes em menos de dois anos: a eleição de António Guterres para a ONU; a escolha de Mário Centeno para o Eurogrupo; e, esta semana, a eleição de António Vitorino para Director-Geral das Migrações. Para um país pequeno é um balanço de relevo.
  •          No caso de Vitorino, a sua eleição tem mais este "picante": é a primeira vez que um europeu dirige a UIM e a sua vitória é conseguida também sobre um norte-americano.

 

RIO EM ANGOLA

 

  1.       Depois de desanuviadas as relações Portugal/Angola, o primeiro responsável português a encontrar-se com o Presidente angolano não foi o Primeiro-Ministro. Afinal, foi o líder da oposição. Isto não é nada normal. Não é normal uma visita preparada em segredo, à margem das autoridades e em antecipação à viagem do PM. Politicamente tem muito que se lhe diga. É uma bofetada política e diplomática no Governo de António Costa.

 

  1.       Isto significa duas coisas:

a)      Primeiro: significa que para o Governo angolano a relação política preferencial em Portugal é com o PSD e não com o PS. Os políticos angolanos continuam a preferir o PSD ao PS. Isto já não é novo. Vem dos tempos de Cavaco Silva e Durão Barroso. A novidade está em as novas autoridades angolanas quererem reafirmá-lo agora e desta forma tão notória e assertiva.

b)      Segundo: significa que, mesmo depois de desaparecido o irritante judicial do caso Manuel Vicente, na relação de Angola com o Governo português continua a existir "uma pedra no sapato". Ou seja: deixou de haver um irritante com o Estado português mas continua a existir um irritante com o Governo português.

 

  1.       Uma nota mais: o PM vai fazer esta semana uma visita a Moçambique. Em Moçambique há este défice terrível: 11 milhões de Moçambicanos não falam português. É um Portugal inteiro que não fala português. Não nas cidades, mas nas zonas mais rurais e mais pobres.
  •          Pergunta que se impõe: por que é que o Governo não se propõe ajudar a vencer este défice? Por que é que não mobiliza professores portugueses para ajudarem a formar professores moçambicanos? Por que é que as nossas escolas, os nossos Politécnicos e Universidades não são envolvidos nesta tarefa essencial?

SANTANA SAI DO PSD?

 

  1.       Santana Lopes deu uma entrevista à Visão a anunciar que sairá do PSD e a admitir formar um novo partido. Se realmente sai ou não, veremos. Afinal, ele anda a ameaçar há mais de 20 anos. A convicção que tenho é de que, se sair, em pouco tempo acabará por se arrepender.

 

  1.       E que dizer da criação de um novo partido? Não é uma tarefa impossível. Mas é mesmo muito difícil ter sucesso.

a)      Primeiro: o nosso sistema partidário é muito estável e resiliente. Especialmente na área do centro e da direita. Veja-se o caso de Manuel Monteiro. Saiu do CDS e foi o flop que se viu.

b)      Segundo: um novo partido precisa de novidade. Ora, Pedro Santana Lopes é tudo menos novidade. Está há 40 anos na vida política. Não tem nada de novo a oferecer. Nem nas ideias nem nos comportamentos.

c)      Terceiro: goste-se ou não de Rui Rio e da sua liderança, não há, apesar de tudo, qualquer razão para a cisão. O partido não se descaracterizou ideologicamente nem teve qualquer mudança estrutural. Comete erros? É verdade. Mas no passado já houve igual ou pior.

d)      Finalmente: estou absolutamente convencido de que, se sair, Pedro Santana Lopes não arrastará consigo nenhuma figura relevante do PSD. E eleitores também estamos para ver. Pode ser, sim, uma grande precipitação.

 

  

GRANDES DEVEDORES À BANCA

 

  1.       Esta semana o Banco de Portugal emitiu parecer a afirmar que é contra a divulgação dos grandes devedores à Banca. Razão invocada? O sigilo bancário.

 

  1.       Com todo o respeito, acho esta posição lamentável e até censurável.

a)      Primeiro: é uma posição obsoleta. A prova é que ainda recentemente, no passado mês de Maio, um dos mais modernos e prestigiados banqueiros do mundo, António Horta Osório, veio dizer exactamente o contrário: que divulgar a lista dos grandes devedores era da mais elementar justiça.

b)      Segundo: é uma posição contraditória dentro do Estado. Nas dívidas ao Fisco, o Estado divulga os seus devedores. Nas dívidas à Banca, quer escondê-los.

 

  1.       O mais grave, porém, é que o BdP está objectivamente a beneficiar o infractor.

a)      São muitos milhões de euros que os Bancos perderam. Ainda esta semana foi divulgado mais um caso – a ONGOING a dever 700 milhões a dois bancos.

b)      São empresas falidas e por isso não pagam; mas em que os seus donos vivem "à grande e à francesa". Têm dinheiro, têm património, nada pagam e até se vangloriam de que nada lhes acontece. Isto é jurídica e moralmente inaceitável.

c)      Perante isto, o BdP devia fazer duas coisas: censurar estes comportamento; e exortar os bancos a serem implacáveis na tentativa de cobrar estas dívidas.

d)      Infelizmente, o Banco de Portugal faz o contrário: faz o jogo dos grandes devedores e tenta evitar que eles escapem a uma censura pública e social. É que divulgar as grandes dívidas não é voyeurismo. É um procedimento dissuasor de novas práticas semelhantes no futuro.

e)      É destes comportamentos que se alimentam os populismos. Depois não se queixem.

 

TUTTI FRUTTI

 

  1.       Ainda são pouco claros os contornos desta nova investigação judicial. Mas percebem-se desde já algumas coisas essenciais:
  •          Relações de promiscuidade entre autarquias e aparelhos partidários;
  •          Negócios pessoais e financiamentos partidários com epicentro nalgumas autarquias;
  •          Envolvimento de figuras de segunda e terceira linhas do PSD e do PS. Para já, as mais faladas são do PSD.

 

  1.       Sobre estas investigações, há um voto a formular e uma pergunta a fazer:

a)      Um votoEspera-se que se investigue tudo o que há a investigar e com profundidade: primeiro, porque especulações desta natureza são antigas a convém pôr tudo em pratos limpos; depois, porque estes comportamentos minam a vida política em geral e a vida partidária em particular.

b)      A perguntaDepois de tudo investigado, há que perguntar: o que é que vão fazer os partidos? Vão agir ou vão encolher os ombros? Vão tomar medidas políticas ou vão assobiar para o lado? Vão cortar a direito ou vão dizer que esperam pela justiça? Estou para ver onde pára a coragem dos nossos líderes partidários.

 

UE E MIGRAÇÕES

 

  1.       A Cimeira Europeia desta semana deve ter sido das mais negras da história recente da União. E dá bem o retrato do actual estado da União Europeia.

a)      Uma Europa profundamente divididaNunca se viu uma União Europeia tão dividida como agora. São divisões muito sérias e profundas. Em matéria de migrações há vários grupos dentro da União.

b)      Uma Europa completamente impotente e incapaz – Ao fim de todo este tempo, a Europa não consegue uma solução europeia para a questão das migrações. As conclusões desta Cimeira não são uma solução. São declarações vagas e acordos numa base voluntária. É a Europa "à la carte".

c)      Uma Europa sem liderança – Durante muitos anos, a Alemanha liderou efectivamente a UE. Mal ou bem mas liderou. Agora, as coisas estão a mudar. Merkel já não tem a força que tinha e está "cercada" dentro da sua própria coligação de governo.

d)      Uma Europa sem valores e sem autoridade – Ao recusar ter uma solução para o problema das migrações, a UE perde a autoridade moral e política que tinha, por exemplo, sobre os EUA. Quando não há valores não há autoridade moral.

 

  1.       Em função de tudo isto, podemos ter uma crise política na Alemanha.
  •          A CDU e o SPD, parceiros no Governo, dizem que Merkel conseguiu mais do que os mínimos olímpicos que se pretendiam. Mas a CSU, o parceiro bávaro da CDU, diz que o alcançado não é suficiente. Tudo porque a CSU tem eleições à porta na Baviera e está a "bater o pé".
  •          E Merkel até pode avançar com uma Moção de Confiança.
  •          Isto pode dar uma crise na coligação. Crise séria porque desde 1949 CDU e CSU são parceiros, no Governo e na oposição. Seria um cenário fratricida. Crise ainda mais séria porque pode gerar uma implosão no sistema partidário tradicional na Alemanha.

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