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Carlos Ferreira dos Santos
04 de Novembro de 2008 às 13:00

O papel dos subúrbios numa vitória de Obama

Tenho advogado com relativa frequência nos media a inevitabilidade estatística de uma vitória de Obama a 4 de Novembro. Tenho também argumentado que as sondagens nacionais permitem extrapolar que o caminho para a vitória passará pela manutenção de todos os estados de Kerry em 2004, ...

Tenho também argumentado que as sondagens nacionais permitem extrapolar que o caminho para a vitória passará pela manutenção de todos os estados de Kerry em 2004, incluindo a Pennsylvania, e por vitórias em estados de Bush: Iowa e Novo México, tidas como certas, Virgínia, Colorado, Nevada e Ohio. É possível pensar também na Florida, Carolina do Norte, e no Indiana ou no Missouri. Mas isso já é sair de domínios mais rigorosos da previsão.

Não há previsão sem erro, nem afirmações sem riscos. E, na longa (ou talvez não) noite eleitoral de 4 para 5 de Abril, há uma dúzia de condados nos estados decisivos para onde se deve olhar.

Em primeiro lugar, é fundamental perceber, na Carolina do Norte, os destinos de Mecklenbug e Wake County. No primeiro, para compreender se a margem de derrota de Obama é mínima ou se, como já sucedeu em algumas sondagens, Obama pode aspirar a ganhar os subúrbios de Charlotte, e com eles o condado. Nas últimas sondagens, desde que McCain começou a tomar a sério a ameaça na Carolina do Norte, os números de Obama desceram muito aqui. É o mais populoso do estado e, se o vencer, Obama tem garantida a Presidência. Wake County é mais dramático: insere-se no Reasearch Triangle, entre as cidades de Raleigh, Durham e Chapel Hill.

É o âmago da classe criativa: campus universitários, biotecnologia e indústrias da nova economia. É desenhado para o perfil liberal de Obama, como mostram as sondagens que lhe dão 28 a 36 pontos de vantagem nesta zona. A adversidade conservadora de outras áreas da Carolina do Norte não lhe permite baixar destas margens aqui. Kerry perdeu a Carolina do Norte, muito por ter perdido Wake County.

No Nevada, os democratas ganham facilmente Clark County, onde se situa Vegas, e os republicanos têm garantidas as zonas rurais. Decisivo é Washoe County, com a cidade de Reno. Bush venceu, e ganhou o Nevada.

No Colorado, a dificuldade nunca será Denver City. Antes os counties dos seus subúrbios: Jefferson (que Bush venceu), Arapahoe e Adams County. Vencendo ou empatando em Jefferson (uma sondagem recente dava 3 pontos de vantagem a Obama), e vencendo os demais subúrbios de Denver, Obama tem o Colorado na mão.

Na Pennsylvania, os subúrbios são cruciais. Evidentemente, Obama terá margens enormes de vitória em Filadélfia e Pittsburgh. O problema está nas áreas vizinhas: Bucks, Montgomery, Chester e Delaware; Alleghany e Westmoreland. Vencendo aqui, e no Nordeste (subúrbios de Nova York), Obama ganha o estado. Todas as sondagens públicas lhe são muito favoráveis, mas há rumores de um empate em alguns subúrbios como Bucks County, ou algum ascendente de McCain. São estas as zonas a monitorizar para compreender se Obama pode segurar, de facto, a Pennsylvania.

Na Virgínia, a vantagem de Obama assenta em margens de 30 pontos no Norte (subúrbios de DC), e num desempenho equilibrado no Sudeste e na área de Richmond. As zonas rurais estão perdidas.

No Indiana, as hipóteses de Obama passam por vencer o Nordeste, em particular ganhar Lake County, por números expressivos. Quais as probabilidades disto suceder? O Indiana é um bastião republicano. Mas Lake County são subúrbios de Chicago, Illinois. Estado onde Obama tem vantagem esmagadora nas sondagens. Marion County também será relevante: Obama precisa de vencer não só Indianapolis, como os seus subúrbios.

No Ohio, onde todas as sondagens recentes o favorecem, Obama depende criticamente de áreas suburbanas. Já se sabe que provavelmente vencerá as grandes cidades: Cleveland, Columbus, Toledo, Cincinnati, Akron. O problema é que precisa de vencer os condados onde elas estão e alguns condados vizinhos, que são densamente povoados: falamos, sobretudo, de Cuyahoga, Hamilton, Stark, Lorain, Summit, Lake e Montgomery.

No Missouri, a estratégia é simples. St. Louis City County é um dado adquirido para os democratas. Mas Bush venceu em St. Louis County, o que faz toda a diferença. Ademais, qualquer esperança de Obama passa também Kansas City e Jackson county.

Finalmente a eterna Florida. Obama vencerá Miami-Dade, conquistou a comunidade judaica de Broward county e vencerá em Palm Springs. Em Miami-Dade, as margens não serão as que gostaria, graças aos exilados cubanos de tendência republicana, embora os hispânicos de ascendência cubana mais jovens estejam fortemente com Obama. Poderão ditar uma margem um pouco maior do que se espera. No resto do estado, Obama perderá no Noroeste, conservador, e vencerá no Nordeste, graças aos afro-americanos. Duvall County, com sede em Jacksonville, é aqui fundamental.

Mas para os democratas ganharem a Florida, a estrada I-4 é a chave, sobretudo os condados entre Tampa e Orlando. Obama tem sérios problemas em conseguir vencer Hillsborough, mesmo que vença na cidade de Tampa. E tem problemas no vizinho condado de Polk County, onde, para mais, os afro-americanos são menos expressivos e a densidade populacional elevada. A seu favor: todas as recentes sondagens da Florida lhe dão ligeiro ascendente.

Em síntese, a migração de parte da classe urbana para os subúrbios das grandes metrópoles americanas tem beneficiado os democratas, já que pessoas com maior instrução começam a habitar zonas que repousavam habitualmente no conservadorismo social republicano. A vitória de Obama será também a de uma América em mutação demográfica.

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