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Plástico ameaça saúde global e causa perdas de 1,5 biliões de dólares por ano

Estudo da The Lancet alerta para crise silenciosa que atinge sobretudo populações vulneráveis e expõe os limites da reciclagem.

05 de Agosto de 2025 às 18:26
Global Plastics Treaty está na fase final das negociações
Global Plastics Treaty está na fase final das negociações Salvatore Di Nolfi Lusa/EPA
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Os plásticos são uma ameaça “grave, crescente e subvalorizada” para a saúde humana e do planeta. A conclusão é do novo relatório "The Lancet Countdown on health and plastics",  esta semana, que lança um alerta sobre os perigos do uso excessivo de plástico e defende a criação, com urgência, de políticas globais mais rigorosas.

De acordo com o estudo, os plásticos causam doenças e mortes “desde a infância até à velhice” e representam perdas económicas anuais superiores a 1,5 biliões de dólares, contando apenas custos de saúde. “Os impactos recaem de forma desproporcional sobre as populações de baixos rendimentos e em risco”, sublinha o relatório.

O problema tem vindo a agravar-se rapidamente, com os números a mostrarem que a produção mundial de plástico era, em 1950, de dois milhões de toneladas. Em 2022, ultrapassou os 475 milhões e as projeções apontam para 1.200 milhões de toneladas em 2060. Menos de 10% do plástico produzido é reciclado.

“A principal força motriz desta crise é o crescimento acelerado da produção de plástico”, refere o estudo, que associa diretamente este aumento à proliferação de plásticos descartáveis como garrafas e embalagens de fast food.

A poluição plástica infiltra-se em todas as fases do ciclo de vida, desde a extração de combustíveis fósseis, à produção, uso e descarte. “Isto resulta em poluição do ar, exposição a químicos tóxicos e infiltração do corpo humano com microplásticos”, explicam os autores. Há já evidência da presença de partículas de plástico no sangue, cérebro, leite materno, placentas, sémen e medula óssea.

Os efeitos destas partículas no organismo ainda não estão totalmente compreendidos, mas estudos preliminares já os associam a episódios de AVC e ataques cardíacos. O relatório recomenda “uma abordagem de precaução”, em especial quando o tema é a saúde das crianças.

O estudo alerta para “riscos acrescidos de aborto espontâneo, parto prematuro, malformações congénitas, crescimento pulmonar comprometido, cancro infantil e problemas de fertilidade na idade adulta”.

Mais de 16 mil químicos são usados na produção de plásticos, incluindo corantes, retardadores de chama e estabilizadores, muitos dos quais com efeitos comprovadamente nocivos. No entanto, apontam os investigadores, há “falta de transparência sobre quais os químicos presentes nos diferentes produtos”.

Do ponto de vista ambiental, há atualmente cerca de oito mil milhões de toneladas de resíduos plásticos a poluir o planeta, desde os cumes do Evereste às fossas oceânicas mais profundas. O plástico contribui também para a crise climática, com emissões anuais equivalentes a dois mil milhões de toneladas de CO2, mais do que as da Rússia. Além disso, mais de metade dos resíduos plásticos não geridos são queimados a céu aberto, tornando ainda mais grave a poluição atmosférica.

Apesar dos argumentos da indústria sobre a reciclagem como solução para estes desafios, o relatório é claro a afirmar que é “agora claro que o mundo não pode reciclar-se para sair da crise da poluição plástica”. 

Em 2022, os Estados-membros da ONU acordaram desenvolver um tratado internacional juridicamente vinculativo sobre a poluição plástica, o Global Plastics Treaty, que deverá abranger todo o ciclo de vida do plástico. A pensar na fase final destas negociações, o relatório agora publicado inaugura um novo sistema independente para monitorização, que inclui indicadores para acompanhar a evolução e impacto das políticas de combate à poluição plástica.

“Sabemos muito sobre a variedade e gravidade dos impactos do plástico na saúde e no ambiente”, afirmou o pediatra e epidemiologista Philip Landrigan em declarações ao The Guardian. “É imperativo que o tratado do plástico inclua medidas para proteger a saúde humana e planetária”, acrescenta o autor principal do relatório.

A esperança, aponta o estudo, é que, tal como no caso da poluição atmosférica ou da exposição ao chumbo, os danos provocados pelos plásticos possam ser mitigados “de forma eficaz e com custos razoáveis”, desde que existam leis fundamentadas em evidência científica, com implementação efetiva, financiamento adequado e monitorização transparente. “É nossa responsabilidade agir”, remata Philip Landrigan.

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