Virgolino Faneca consegue uma extraordinária entrevista a Kim Jong-un
Cara Ifigénia
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Rica prima, estou aqui que nem posso, tamanho é o meu contentamento. E, portanto, tenho de partilhar o meu intimorato feito contigo, na esperança de que o valorizes condignamente, pagando-me a luz e a água, que depois fazemos contas, dado que me encontro a devanear profissionalmente pelo estrangeiro. A verdade é que consegui aquilo a que na gíria mundial se chama uma cacha jornalística, uma entrevista ao intrépido líder da Coreia da Norte, Kim Jong-un de sua graça, para desgraça de alguns.
A dita ocorreu no Grand Lisboa Casino, onde me encontrava a fazer meditação transcendental. Assim, estava eu a meditar se havia de colocar a minha última ficha de 500 euros no número 13 ou no 10, quando, de repente, vindos do nada, surgem os lábios de alguém a ciciar-me ao ouvido direito, num inglês farsola, aposta no 13, no 13, no 13… Naturalmente, pensei que aquela voz era o resultado dos meus perorados esforços de meditação e fiz o que ela sugeria. Ficha no 13, a roleta a andar e a bola a deter-se no 10. Espumei de descontentamento e logo depois de raiva, ao aperceber-me de que o conselho não me tinha sido dado pelo além, mas sim por um gajo baixinho, de olhos em bico e cabelo cortado à tigela, que estava a ser massajado nos pés por duas voluptuosas tailandesas. Virei-me para lhe pedir meças, mas fui travado nos meus intentos por duas montanhas de carne com formas humanas.
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Enquanto isso, o gajo baixinho ria-se, não sei se do meu infortúnio, ou se por causa do tratamento de podologia a que estava a ser submetido. O certo é que me chamou usando o dedo anelar, o que poderia ter entendido como mais uma provocação, não se tivesse dado o caso das duas montanhas de carne me terem flanqueado o caminho até ele. Perguntou-me quem era, disse-lhe, um desafortunado jornalista português cuja sorte se transviou no rio das Pérolas, perguntei quem era ele, respondeu, sou o Kim, e eu, Kim há muitos, e ele, sou o líder supremo, e eu, ora bolas, e ele, pois, teve azar, o que posso fazer para o compensar, e eu, desbocado, que tal uma entrevista, e ele desarmante, vamos a isso.
E fomos.
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Porque está em Macau?
Kim: Para resolver um problema que me atormenta há muito.
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E qual é esse problema, pode revelá-lo?
K: Uma unha do pé encravada. Não viu que estava a ser tratado desta maleita por duas podologistas tailandesas?
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Vi. Não há podologistas na Coreia do Norte?
K: Há, mas não tão versáteis. Estas fazem outras coisas. (riso alarve)
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Tais como?
K: Olhe, jogam ao burro sentado. Tem mesmo a certeza de que é jornalista? Você não apanha uma…
O seu país tem tido acções de desafio para com os EUA. Paradas militares, discursos provocatórios e mísseis intercontinentais. Você está preparado para a guerra?
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K: Claro. Tanto que estou aqui disfarçado de turista sul-coreano.
Não devia estar em Pyongyang, a liderar o país?
K: Para isso tenho lá um sósia. O país é uma pasmaceira, não tem nada para um tipo novo como eu se divertir.
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Qual é a hipótese de lançar um míssil contra os Estados Unidos?
K: Isso é um segredo de Estado. Mas posso dar-lhe uma pista, dizendo que é a mesma de o Bruno de Carvalho estar calado dois dias consecutivos.
Você está bem informado sobre Portugal. Até sabe quem é o Bruno de Carvalho.
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K: E já viu a pouca-vergonha da Luciana Abreu andar a namoriscar com o ex-namorado, o João Paulo Rodrigues. Isso sim são assuntos sérios. E você pergunta-me sobre mísseis!
O mundo está preocupado com a utilização que pode dar ao seu arsenal nuclear.
K: Eu também estou, mas tento não pensar nisso. Aconselho o mundo em geral a agir da mesma forma.
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Como é que pode melhorar a sua relação com o presidente dos EUA, Donald Trump?
K: Se ele me convidar para ir a um dos seus casinos e arranjar duas ou três podologistas do Leste Europeu, uma geografia amorosa que conhece de ginjeira, tornamo-nos BFF num instante. Tenho a sensação de que somos almas gémeas.
Sem mais, envio-te um ósculo asiático,
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Virgolino Faneca
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