Cozinheiros e restaurantes em banho-maria
Os primeiros dias de emergência mudaram a vida de todos, mas os restaurantes foram dos primeiros a pagar o preço. Os cozinheiros mudaram e tentam resistir num mundo virado do avesso.
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De manhã cedo, Benoît Shinton vê a televisão portuguesa, à hora do almoço muda para a emissora francesa e à noite prefere sintonizar a RTP Madeira. O chef francês com duas estrelas Michelin, responsável pelo espaço madeirense Il Gallo D’Oro, acorda às 8h, faz alongamentos, prepara as refeições com a família, faz trabalhos de casa e na horta e sai para andar a pé com a mulher. Um destes dias olhou pela janela e viu alguém a correr com cachecol, boné, casaco e luvas de plástico azul, "como se fosse esquiar para a montanha". A imagem levou o chef a viajar até aos Alpes - ele é assumidamente fanático pelo esqui - e despertou-lhe a saudade. Benoît é um dos muitos cozinheiros que viram as suas vidas alterarem-se radicalmente. Com o estado de emergência, os restaurantes foram dos primeiros a fechar, e o seu não foi diferente. Mas, mesmo sabendo que não voltará a abrir tão cedo, acredita que todos vão dar a volta e sair diferentes, "talvez mais humanos e menos egoístas ou menos ausentes, oxalá mais humildes e com capacidade de saber apreciar aquilo que existe".
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