Irene Natividad: A criadora do “Davos para mulheres”
Lisboa vai receber no final de outubro o Global Summit of Women, considerado o “Davos para mulheres”. Por trás deste evento, que começou há 30 anos, está Irene Natividad, uma americana com raízes filipinas que já foi consultora de vários Presidentes dos EUA. A cimeira promove a partilha de “receitas de sucesso” para ajudar as mulheres a serem economicamente proativas.
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Em 2006 a praça financeira Nasdaq convidou Irene Natividad para abrir a sessão com o tradicional toque do sino. A ativista dos direitos das mulheres aceitou, mas fez um pedido. "Posso levar comigo administradoras e CEO de empresas cotadas?" A resposta foi positiva. No dia marcado tinha atrás de si um "exército" de 110 executivas. Irene conta a história a rir porque ninguém, nem mesmo ela, estava à espera de uma adesão tão grande. "Elas estavam tão entusiasmadas que se comportavam como crianças. Estou a falar de mulheres no ‘board’ de grandes empresas como a American Express, Microsoft... Naquele dia percebi que nunca tinham sido convidadas para abrir uma sessão na bolsa." O momento deu nas vistas e a partir dali foi convidada para abrir muitas mais bolsas de valores no mundo inteiro. Paris, Frankfurt, Bogotá, Joanesburgo, Kuala Lumpur, Sidney, Zurique… ao todo foram mais de 20. E sempre acompanhada de mulheres em liderança nas empresas. "Queria certificar-me de que as pessoas entendiam que nós, mulheres, pertencemos ali". A vida de Irene Natividad, hoje com 73 anos, tem-se pautado pela luta para que mulheres ocupem altos cargos na política, na economia e na sociedade civil. Foi isso que a levou a criar em 1990 o Global Summit of Women (Cimeira Global de Mulheres), que este ano chega a Lisboa, de 28 a 30 de outubro, com o tema "Mulheres: Transformando Economias". O evento anual, conhecido informalmente como "Davos para mulheres", é um programa do Globe Women Research and Education Institute, uma organização sem fins lucrativos com sede em Washington, de que Irene é presidente, e que tem por missão pressionar o poder político para agir nos grandes temas que afetam as mulheres. Irene Natividad trabalhou de perto com vários Presidentes dos EUA, "até com republicanos, apesar de ser democrata". E liderou a National Women’s Political Caucus, uma organização nacional que apoia mulheres que concorrem a lugares de governação pública. Para trás ficou uma carreira académica. "Fui a primeira asiática americana eleita a nível nacional", diz com orgulho. Tendo raízes filipinas, esteve também envolvida na mobilização de outras mulheres asiáticas americanas para terem um lugar na política dos EUA. "No fundo sou uma organizadora, junto pessoas para resolverem um problema ou para se ajudarem mutuamente." Desde que começou, o Global Summit of Women foi passando por vários países em diferentes continentes. Nos encontros juntam-se grandes figuras mundiais, de ambos os sexos, para trocarem ideias sobre as melhores práticas para acelerar o progresso económico das mulheres. Numa conversa via zoom Irene recua no tempo e explica que quando começou, na década de 1990, "não havia um fórum internacional que focasse assuntos económicos para mulheres". Tudo era "muito virado para o Fórum Económico Mundial e participar nesse evento custava muito dinheiro", além de que tinha de se receber um convite de uma empresa ou governo. Ela queria um encontro "em que as mulheres pudessem ir por si próprias, sem terem de ser selecionadas e também queria uma cimeira focada em soluções" porque "já bastava de lamúrias e conversas sobre os problemas que todos conhecíamos há anos". A sua preocupação era que as mulheres não começassem do zero. A ideia era uma partilha de "receitas para o sucesso" em termos de boas políticas ou programas que ajudassem as mulheres a serem economicamente proativas. O que se pretendia era mostrar o que melhor os países estavam a fazer – fossem iniciativas no setor privado ou políticas de um governo –, que pudesse ser replicado. Era importante que as empresas, os governos e a sociedade civil estivessem juntos "porque temos de alavancar recursos de todos os lados". Quando divulgou a escolha da capital portuguesa para a 31.ª edição da cimeira, as reações foram no sentido de ser "um lugar bonito". Mas quando lhes digo que neste país a CEO da bolsa de valores é uma mulher, que existe uma quota para mulheres nos conselhos de administração das empresas [públicas e cotadas], que 40% dos membros do governo são mulheres e que 40% dos deputados no Parlamento também são mulheres, elas desconhecem". Claro que há mais a fazer, diz. Mas nenhum país está bem nesta matéria da igualdade de género. Quer sobretudo "mostrar o talento das mulheres portuguesas, seja à frente de grandes empresas ou como jovens empreendedoras".
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