Por mais tecnológico e moderno que um edifício possa ser, continua a ser utilizado por pessoas. Por esse motivo, uma das questões que também influenciam o nível de eficiência de um edifício, seja empresarial ou de habitação, é o comportamento humano.
Nuno Rolo sublinhou a importância de tomarmos consciência da mudança de paradigma em curso. O consumidor de energia não tem tido a necessidade de se preocupar com a origem e com a disponibilidade da energia. É uma utilidade sempre presente, no momento em que é necessária. Isto tem origem no facto de a geração de energia estar muito afastada (geograficamente e tecnologicamente) do consumidor. Atualmente, com a descentralização da geração de energia elétrica, trazida pela crescente instalação de centrais de produção fotovoltaica, nos pontos de consumo, o paradigma está a mudar. “O consumidor é um produtor-consumidor (prosumer). Passa a ter uma preocupação adicional. Passa a indexar os seus hábitos de consumo de energia, ao momento em que o sistema fotovoltaico a produz. Isto traduz-se na aproximação da oferta e da procura de energia, o que influencia positivamente a literacia energética e a eficiência na utilização dos recursos energéticos”, refere Nuno Rolo.
“Podemos ter uma habitação com o certificado energético A, que é o mais eficiente. Mas se compra um frigorífico e deixa a porta aberta, se liga o ar condicionado e deixa a janela aberta o dia inteiro, aquela habitação não vai ter uma boa eficiência energética, vai consumir muita energia”, exemplifica Mathias Bressan, ESG & Sustainability strategic advisory da CBRE na mesa-redonda organizada pela Schneider Electric sobre renovação de edifícios, poupança energética e valorização dos imóveis.
Por isso, além de existirem ferramentas como o CREM (Carbon Risk Real Estate Monitor) que “traz benchmarks e métricas de consumo para poder fazer comparações e verificar se aquilo é de facto eficiente ou não.”
E para dar o exemplo nas soluções que implementa, a Schneider Electric vai fazer mudanças na própria casa. “Estamos num edifício que foi reconstruído e equipado com todas as tecnologias de que temos estado a falar. Não temos lugares marcados e usamos uma plataforma para fazer marcação para o dia seguinte; cada pessoa tem de fazer a sua reserva de lugar e também a reserva do carregamento do veículo elétrico. Esta marcação permite-nos saber quantas pessoas vão estar no dia seguinte. E percebemos que à segunda-feira e à sexta-feira, o edifício está com metade da ocupação porque há muita gente em trabalho remoto. Então, posso colocar metade das pessoas numa parte do edifício e desligar completamente a outra parte. Com esta medida, vamos poupar 20% da energia”, explica António Bessa, technical manager da Schneider Electric.
Este é um exemplo que também pode ser replicado em vários setores de atividade, como no turismo. “Dependendo da forma como um hotel está construído, se tem um AVAC [sistema de climatização que controla a temperatura, a humidade e a qualidade do ar] vertical ou horizontal, mas imaginando que é horizontal, se for ocupando o hotel dessa forma, se for ligando à medida que for ocupando, são pequenas decisões que podem ter um impacto muito grande no final na poupança de energia”, assegura António Bessa.
Na Mota-Engil Ativ também existem exemplos semelhantes. “Há alguns anos implementámos uma medida que era o carro partilhado. Temos cerca de 700 viaturas na rua e muitas delas andam só com uma pessoa. Então pensámos que tínhamos de otimizar. O primeiro passo era cada pessoa publicar uma viagem no car share, e os outros iam pedir boleia”, explica o CEO Augusto Junqueiro. No entanto, apesar da medida funcionar “muito bem”, admite que não é massificável porque “há resistência das pessoas”.
Da perspetiva ambiental, a melhor escolha é sempre a renovação
Mas a sustentabilidade não se limita à descarbonização. Tal como refere Mathias Bressan, ESG & sustainability strategic Advisory da CBRE, passa também pela “biodiversidade inserida no edifício, da acessibilidade do edifício em termos de mobilidade, do carregamento de carros elétricos, da separação de resíduos”, entre outros fatores.
Na Savills está a ser feita uma monitorização e recolha de dados sobre como é que as pessoas se deslocam de casa para o trabalho ou nas próprias visitas, por exemplo, a Lisboa e ao Porto”, exemplifica João Gomes, responsável pelas áreas de Smart Building e Design & Build da Savills. “Neste momento, fomos proibidos de ir de avião entre Lisboa e Porto porque há um impacto brutal nas nossas emissões de de CO2. Além disso, toda a frota está a ser progressivamente renovada para veículos elétricos. E é efetivamente uma preocupação pensar de onde é que as pessoas vêm e para onde vão, perceber se existe a possibilidade de organizar um sistema de boleias ou de partilha de carros entre colegas. Tentar consciencializar as pessoas”, afirma.
Mesmo com inúmeros desafios numa renovação, dos materiais aos humanos, a verdade é que também existem múltiplas soluções. E da perspetiva ambiental, a melhor escolha será sempre uma renovação. “O impacto ambiental de uma reconstrução é mais baixo; os pilares já lá estão e, se pensarmos que não existe transporte de materiais de construção, também não há emissões de dióxido de carbono”, concluiu Augusto Junqueiro, CEO da Mota-Engil Ativ.