EUA usam vendas de chips da Nvidia à China como trunfo em negociações sobre terras raras

A retoma das vendas dos chips H20 passou a fazer parte das negociações comerciais entre Washington e Pequim, num momento em que os EUA tentam aliviar o bloqueio chinês às exportações de terras raras.
Nvidia
Dado Ruvic/Reuters
João Silva Jesus 16 de Julho de 2025 às 14:52

A Nvidia prepara-se para retomar a venda dos chips de inteligência artificial H20 ao mercado chinês, após ter recebido garantias de que obterá, em breve, as licenças do governo norte-americano. A mudança marca uma inversão na política de restrições à exportação de tecnologia avançada imposta por Washington, alegadamente por razões de segurança nacional.

A revelação foi feita pelo secretário do Comércio norte-americano, Howard Lutnick, que confirmou que a questão foi incluída num novo acordo com a China relacionado com ímanes baseados em terras raras – matérias-primas essenciais para produtos como automóveis elétricos, armamento e smartphones. “Colocámos isso no acordo comercial com os ímanes”, comentou, sem avançar mais pormenores.

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A Nvidia viu as ações subirem 4% após o anúncio. O mercado chinês representa 13% do volume de negócios anual da empresa, que estima que as restrições tenham custado cerca de 15 mil milhões de dólares em receitas.

A decisão está a gerar forte oposição no congresso dos EUA. “Isto entregaria aos nossos adversários estrangeiros as nossas tecnologias mais avançadas e é perigosamente incoerente com a posição anteriormente assumida por esta administração”, criticou o congressista democrata Raja Krishnamoorthi, membro da comissão que supervisiona a relação com a China. Também o republicano John Moolenaar, presidente dessa comissão, exigiu esclarecimentos ao departamento do Comércio.

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Na prática, os chips H20 que a Nvidia espera voltar a fornecer são versões limitadas dos que comercializa fora da China. No entanto, mantêm compatibilidade com o ecossistema de software da empresa, considerado o padrão dominante no setor da inteligência artificial. Isso torna-os ainda bastante atrativos para empresas chinesas como a ByteDance ou a Tencent, que já estarão a apresentar pedidos de aquisição, de acordo com fontes citadas pelo The Japan Times.

A possibilidade de venda destes chips reacende o debate sobre o equilíbrio entre segurança e competitividade tecnológica. Para o especialista Divyansh Kaushik, da Beacon Global Strategies, o impacto dependerá do volume autorizado: “Se a China conseguir acesso a um milhão de chips H20, pode reduzir significativamente, ou mesmo ultrapassar, a vantagem dos EUA em IA.”

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A reaproximação entre a Nvidia e o mercado chinês coincide com uma ligeira trégua na guerra comercial entre as duas maiores potências económicas. Em março, a China , travando fornecimentos essenciais para a indústria ocidental. Agora, Pequim dá sinais de abertura para retomar esses envios.

A movimentação de Nvidia surge também num momento de forte concorrência da Huawei, que tem vindo a atrair programadores chineses com alternativas de chips locais. Nos últimos tempos, a , mesmo com as restrições tecnológicas impostas pelo ocidente. Estão na calha .

Também a rival AMD anunciou que pretende retomar as vendas dos seus chips MI308 à China, estando a aguardar as licenças correspondentes. As ações da empresa subiram 7% após essa informação.

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