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China constrói mega centro de dados no deserto com chips proibidos

Com 39 projetos aprovados e milhares de chips Nvidia na mira, a China acelera a construção de centros de dados na região remota de Xinjiang para treinar modelos de Inteligência Artificial e fazer frente aos EUA.

China constrói centros de dados com chips Nvidia em Xinjiang, apesar de restrições dos EUA
China constrói centros de dados com chips Nvidia em Xinjiang, apesar de restrições dos EUA DR
13 de Julho de 2025 às 16:00

Na vastidão do deserto de Xinjiang, no noroeste da China, está em curso um ambicioso projeto para erguer dezenas de centros de dados equipados com , mesmo após a sua exportação ter sido proibida pelos Estados Unidos. Segundo uma , 39 projetos foram aprovados nas províncias de Xinjiang e Qinghai, prevendo-se a instalação de mais de 115 mil chips H100 e H200, processadores considerados essenciais para o treino de modelos avançados de Inteligência Artificial (IA).

A escala do projeto é sem precedentes naquela região remota, marcada por terrenos áridos e baixa densidade populacional, mas rica em energia solar e eólica. O complexo de centros de dados em Yiwu, uma pequena localidade nas montanhas de Hami, pretende rivalizar com infraestruturas norte-americanas como as da

O problema? Desde 2022, os EUA impuseram restrições à exportação de semicondutores de alto desempenho para a China, temendo a sua utilização para fins militares. Ainda assim, documentos públicos e pedidos de licitação analisados pela Bloomberg mostram várias empresas chinesas a declarar a intenção de usar esses mesmos chips. Uma das iniciativas mais emblemáticas é da Nyocor, empresa estatal de energias renováveis, que pretende utilizar dois mil chips H100 num centro de dados, em parceria com a startup Infinigence AI, que faturou perto de 140 milhões de dólares desde a sua fundação, em 2023.

Além disso, a Bloomberg refere que empresas como a DeepSeek e outras startups chinesas focadas no desenvolvimento de IA pretendem investir mais de 700 milhões de dólares em projetos de centros de dados em Xinjiang, de acordo com uma fonte não identificada.

Apesar das proibições, as autoridades chinesas não esclareceram como esperam adquirir o equipamento. A Nvidia, por sua vez, garantiu que não presta suporte técnico para produtos vendidos ilegalmente na China. “Montar um centro de dados com chips de contrabando não faz sentido nem do ponto de vista de engenharia nem de negócio”, afirmou a empresa em comunicado.

. O próprio subsecretário do Comércio dos EUA, Jeffrey Kessler, confirmou em maio que o desvio ilegal de chips de IA está a acontecer. Outros relatórios apontam para rotas clandestinas que passam por países como Singapura e Malásia, o que levou Washington a considerar a extensão das restrições de exportação para esses territórios, de acordo com a Reuters.

Corredores de computação para “ambiente mais colaborativo”

Ainda assim, o plano chinês insere-se numa estratégia mais ampla: tornar a computação de alto desempenho num bem acessível, tal como a água ou a eletricidade. Através de corredores de computação (“computing power corridors”), a China quer interligar centros no interior do país com empresas tecnológicas no leste, como em Xangai ou Shenzhen. Desta forma, qualquer programador pode aceder à capacidade computacional fixada no deserto de Xinjiang sem sair do escritório. 

Esta visão, que contrasta com o modelo dos EUA, dominado por gigantes como a Amazon ou a Meta, pretende democratizar o acesso à IA e incentivar startups como a DeepSeek, que já lançou um modelo concorrente do ChatGPT mas com hardware menos potente.

“Nos EUA, o poder computacional é detido principalmente por um punhado de gigantes tecnológicos: OpenAI, Meta, Alphabet. Mas, se o transformarmos num serviço público, todos os programadores do continente poderão simplesmente iniciar sessão num sistema e obter todo o poder computacional que desejarem, o que criará um sistema muito distribuído para inovações em IA, de modo que qualquer pessoa com uma ideia poderá simplesmente criar o seu próprio modelo, e então teremos um ambiente mais colaborativo para esses desenvolvimentos, totalmente diferente do que temos nos EUA”, explica Andy Lin, jornalista responsável pela reportagem da Bloomberg, em conversa no podcast "The Big Take".

Mesmo que consiga reunir os chips necessários, o projeto de Xinjiang continuará a ser modesto face às capacidades das grandes tecnológicas americanas, de acordo com a Bloomberg. Um único "hyperscale", ou seja, um “data center” de grande escala nos EUA, utiliza a mesma quantidade de chips prevista para Xinjiang numa única semana, segundo dados da Nvidia.

Entretanto, Pequim aposta também na produção interna. , como os Ascend, ainda não atingem o nível de performance dos H100 da Nvidia, mas o governo chinês espera reduzir gradualmente a dependência tecnológica do ocidente.

A construção no deserto continua. Se Pequim conseguir contornar as restrições e erguer esta rede de centros de dados de classe mundial, poderá marcar um ponto de viragem na corrida global pela supremacia em inteligência artificial e intensificar ainda mais a tensão tecnológica entre as duas maiores potências do planeta.

*Texto editado por Inês Santinhos Gonçalves

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