Os próximos passos apressados e esclarecedores de Hollande

Berlim, G8, NATO, cimeira europeia sobre crescimento, legislativas, relatório sobre contas públicas que pode ajudar a por de lado algumas promessas eleitorais. Tudo até ao Verão. Até lá, a situação na Grécia pode forçar Hollande a uma colagem forte a Merkel.
Eva Gaspar 08 de Maio de 2012 às 14:05

Essa é uma circunstância que o ajudará a perceber o mundo do "realpolitik" e que ajudará o mundo a perceber até onde o discurso do candidato perpassará para o de Chefe de Estado, quando para trás ficaram avisos de ruptura com a política económica ditada por Berlim, mas também em relação aos Estados Unidos, depois de Hollande ter deixado no ar a possibilidade de voltar a retirar o país, potência nuclear, do comando integrado da NATO e antecipar para o fim deste ano a retirada das tropas francesas do Afeganistão.

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Estes são dois temas que terá de esclarecer em solo norte-americano – onde Sarkozy foi sempre invulgarmente bem-vindo para um presidente francês – durante a cimeira da Aliança Atlântica, que terá lugar a 20 e 21 de Maio, logo depois da reunião de líderes do G8, agendada para Camp David, onde terá o primeiro encontro com Barack Obama.

Cimeira ainda neste mês para falar de crescimento

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Na capital alemã, tudo parece estar a postos para uma solução que permita a François Hollande mostrar que mudou alguma coisa, sem mudar o essencial, na estratégia de combate à crise articulada entre Angela Merkel e Nicolas Sarkozy.

Uma cimeira informal, possivelmente ao jantar da noite de 23 de Maio, está a ser já preparada em Bruxelas para falar mais de crescimento e menos de contas públicas em dia. No limite, esse encontro poderá mesmo dar "luz verde" a que países como Espanha, Bélgica e Holanda relaxem as metas orçamentais, dado a aprofundar da recessão.

Essa cimeira deverá assim dar o pontapé de saída para um “pacto de crescimento”, pedido por Hollande e não só, que enquadrará medidas que desejavelmente terão um impacto mais rápido na reanimação actividade económica e no emprego, através da reafectação de fundos estruturais, de uma maior capacidade de intervenção do Banco Europeu de Investimento (BEI) ou, no limite, da emissão de obrigações europeias para financiar projectos de investimento concretos (os “project bonds”).

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Berlim está aberta a muitas destas propostas. Mas não a abrir mão da garantia de que os Estados do euro vão manter as contas públicas sob apertado controlo, e prosseguir nas reformas estruturais (mercado de trabalho, protecção social, concorrência, por exemplo) onde acredita residir o verdadeiro potencial de competitividade, ainda que a mais longo prazo. Por outras palavras, o Tratado orçamental – e a regra de ouro que limita o endividamento público – “não está aberto à renegociação”, voltou a avisar ontem a chanceler alemã.

Química com Merkel pode surpreender

Vários observadores dizem, assim, acreditar que não só há espaço para um novo consenso franco-alemão sobre como gerir a crise, como margem para que o novo motor funcione com melhor química do que o par Merkozy – que, antes de se dar bem, deu-se muito mal.

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Ao contrário do hiperactivo e impulsivo Sarkozy, Hollande é reconhecido como um pensador metódico. Muitos antecipam que o principal risco é o de se revelar demasiado parecido em Angela Merkel, frequentemente acusada de pensar de mais e agir de menos.

Líder dos rebeldes do sul? "No"

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15: Tomada de posse

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16: Visita Berlim

18-19: Cimeira G8 em Camp Davis. Primeiro encontro com Barack Obama

20-21: Cimeira da NATO em Chicago

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23: Cimeira europeia informal sobre crescimento

Junho

10/17: primeira e segunda volta das eleições legislativas francesas

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28: Cimeira europeia onde se esperam decisões mais concretas sobre Pacto de Crescimento

Fim de Junho: Relatório especial do Tribunal de Contas sobre o estado das finanças públicas

Paradoxalmente, os desenvolvimentos na Grécia poderão promover uma rápida e mais genuína "reconciliação" com Berlim. Hollande, que fez campanha contra a “fatalidade da austeridade” e, nessa medida, ao lado do eleitorado grego que castigou os dois grandes partidos que negociaram com a troika, poderá ter de rapidamente escolher campos.

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Como escreve hoje Gideon Rachman, no Financial Times, entre ser o “líder dos rebeldes do Sul”, apoiando uma renegociação da austeridade associada ao segundo pacote de assistência da UE e do FMI, e ficar do lado da Alemanha “é quase certo que os franceses vão ficar com os alemães”, numa opção que “corre o risco de expor o vazio da retórica anti-austeridade” do recém-eleito presidente.

No cenário extremo, Hollande poderá inclusivé ficar associado à negociação de um pacote de incentivos para ajudar a Grécia a sair do euro – hipótese há muito encarada nos bastidores de Berlim e Paris, e que ganha probabilidade de ser accionada à medida que o receio de ingovernabilidade da Grécia, dentro do actual quadro de entendimento com os credores, se cristaliza.

Um presidente "normal"

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Mas há uma outra circunstância que pode também ajudar Hollande a ser mais um presidente “normal” – não tanto no sentido de oposição ao registo "frenético" de Sarkozy, como se apresentou na campanha, mas no sentido em que, uma vez garantida a eleição, a tendência é fazer diferente do que se promete.

Como já começa a ser prática recorrente em toda a Europa, o novo presidente pediu ao Tribunal de Contas uma auditoria às finanças públicas gaulesas e só mediante os seus resultados apresentará a proposta de Orçamento para o próximo ano. Ficará assim com margem para, como se fez por cá, em Atenas e mais recentemente em Madrid, usar a eventualidade de se a realidade se revelar mais negra para deixar, desde logo, algumas promessas eleitorais na gaveta.

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