Sócrates não violou parecer da PGR

Parecer da Procuradoria-geral da República não faz referência à possibilidade de se exercer uma actividade não remunerada. Juristas consultados pelo "Público" consideram que José Sócrates não contrariou lei quando assinou projectos na década de 90, era já deputado em regime de exclusividade.
Eva Gaspar 06 de Abril de 2010 às 08:56

O jornal fez ontem manchete com o facto de o primeiro-ministro ter assumido a responsabilidade de pelo menos 21 projectos de engenharia entregues na Câmara da Guarda enquanto recebia o subsídio de exclusividade no Parlamento, referindo que esse regime o impedia de desempenhar outras funções, independentemente de serem ou não remuneradas.

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A notícia provocou uma reacção indignada de José Sócrates, que acusou o “Público” de ter desistido de fazer um “jornalismo de referência” e de ter regressado a uma “interessantíssima agenda jornalística” que o envolve em situações já esclarecidas no passado.

Numa carta dirigida ao jornal, como "nota de esclarecimento", e enviada às redacções, o primeiro-ministro reafirmou o que várias vezes disse ter respondido ao “Público”: “Os projectos que refere na edição de hoje [ontem] são da minha responsabilidade, foram elaborados a pedido de amigos e sem que eu tenha auferido qualquer tipo de remuneração”.

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Hoje o jornal volta ao assunto, escrevendo que, em Janeiro de 1992, a PGR entregou um parecer pedido pela Assembleia da República sobre o regime de exclusividade de deputado, em que estabelece a “impossibilidade legal de desempenho de qualquer actividade profissional ou privada”. O parecer admite excepções, como a realização de conferências ou o recebimento de direitos de autor, sendo, no entanto, omisso no que respeita a actividades não remuneradas.

O “Público” contactou dois juristas — Vieira de Andrade, professor catedrático de Coimbra, e Tiago Duarte, professor de Direito na Nova de Lisboa – que coincidem na conclusão de que, não sendo remuneradas, as actividades do então deputado José Sócrates não contrariaram o parecer da PGR. O caso só muda de figura "se se vier a verificar que recebeu dinheiro", com Tiago Duarte a acrescentar não ser "vulgar trabalhar sem receber".

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