Salvini aproveita embalo e também promete "choque" de estímulos
Matteo Salvini que "surfar" a onda de estímulos ao crescimento económico que vem ganhando forma e promete um orçamento de 50 mil milhões de euros em 2020 para que Itália possa finalmente baixar a carga fiscal e aumentar a despesa.
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Em entrevista concedida esta terça-feira, 20 de agosto, à Radio 24, o vice-primeiro-ministro italiano e líder da Liga rejeita o aumento de impostos acordado com Bruxelas e defende, ao invés, um "choque" orçamental assente no corte de impostos sobre famílias e empresas.
"Precisamos de um orçamento de 50 mil milhões de euros. Para mim não é suficiente não aumentar os impostos sobre as vendas (IVA). Temos de começar a cortar impostos", declarou num novo esforço com vista à chamada "flat tax" (taxa única de IRS e IRC) que prometeu na campanha eleitoral de 2018.
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"Estamos preparados para concretizar o choque de estímulos fiscais? Precisamos de um governo capaz de fazer coisas, e não de um governo que simplesmente deixa andar", acrescentou já num tom de clara campanha para umas eleições antecipadas que, nesta altura, não se sabe sequer se terão lugar.
O também ministro do Interior promete que se a Liga formar governo e ele dispuser dos "plenos poderes" já pedidos aos italianos, haverá menos impostos e mais investimento.
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Depois do tortuoso processo que levou à aprovação da proposta orçamental transalpina para 2019 pela Comissão Europeia, Bruxelas e Roma tiveram novo embate devido ao andamento das contas, o que levou o governo italiano a comprometer-se já este ano com um aumento do IVA a partir de 2020 capaz de gerar 23 mil milhões de euros de receita adicional.
Estas promessas eleitorais de Salvini surgem num contexto em que ganha força a possibilidade de várias economias, com a Alemanha à cabeça, apostarem em políticas expansionistas para travar os sinais crescentes de abrandamento económico, o qual faz já pairar um cenário de recessão.
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Por outro lado, as declarações de Salvini chegam a escassas horas da ida de Giuseppe Conte, primeiro-ministro italiano, ao Senado transalpino para se defender da moção de desconfiança apresentada pelo seu próprio número dois.
Uma crise complexa até para Itália
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Habituada a ser uma espécie de balão de ensaio de movimentos e tendências políticas, Itália convive perfeitamente com momentos políticos mais atribulados. Porém, na crise aberta com a exigência de demissão de Conte feita por Salvini, e posterior moção de desconfiança apresentada pela Liga, todos os cenários são possíveis.
A partir das 15:00 em Roma (menos uma hora em Lisboa), Conte vai ao Senado dar a sua versão da crise no seio da maioria de governo entre a Liga (extrema-direira soberanista) e o Movimento 5 Estrelas (anti-sistema), sendo expectável que reporte a difícil convivência com o seu ministro do Interior e que sinalize a relação com Salvini como insanável.
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Conte pode demitir-se mesmo antes de votada a moção, deixando para o presidente da República, Sergio Mattarella, a tarefa de auscultar os partidos em busca de uma maioria alternativa de governo. Tal maioria poderia ser formada pelo 5 Estrelas do também vice-primeiro-ministro, Luigi Di Maio, e pelo PD (centro-esquerda), cenário posto em cima da mesa pelo ex-líder e antigo primeiro-ministro, Matteo Renzi.
Di Maio rapidamente rejeitou qualquer acordo com o PD, porém esta possibilidade tem vindo a ganhar tração nos últimos dias e, apesar das duras críticas trocadas entre os dirigentes de ambos os partidos, pode ser a solução para evitar o regresso às urnas que, segundo mostram as sondagens, ditariam a vitória da Liga e deixariam a Salvini a possibilidade de governar a seu bel-prazer com base numa aliança de direita radical (a Liga e o Irmãos de Itália de Giorgia Meloni obtêm a maioria absoluta no parlamento, indicam os estudos de opinião mais recentes).
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Esta manhã, o Corriere della Sera refere um outro cenário. Para evitar a ida a eleições antecipadas sem ter de se aliar aos "inimigos" do PD, Di Maio estaria aberto a manter a atual coligação com a Liga desde que Salvini aceitasse sair de cena, deixando a vice-liderança do executivo e a pasta do Interior.
Como Salvini dificilmente aceitará tal hipótese e tendo em conta que para Mattarella a prioridade passa por assegurar a aprovação do próximo orçamento sem sobressaltos e novas confrontações com Bruxelas, o La Stampa frisa como opção mais viável um governo "ponte" ou de "compromisso" entre o 5 Estrelas e o centro-esquerda.
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Certo é que Salvini corre o risco de ver o tiro sair pela culatra - tentou acelerar os prazos da crise e votar a censura a Conte ainda na semana passada, mas o Senado desfez-lhe a vontade; e agora arrisca não ir a eleições e ver uma nova maioria chegar ao poder.
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