Governo deixa economistas do Trabalho sem dados para trabalharem
Os investigadores estão sem acesso aos dados dos Quadros de Pessoal desde 2013, apesar dos vários pedidos feitos ao Ministério do Trabalho. A falta de informação impede estudo do impacto da crise e a caracterização da recuperação económica.
Os investigadores universitários e economistas do Banco de Portugal especializados no estudo do mercado laboral estão há anos sem acesso aos dados dos chamados Quadros de Pessoal apesar dos insistentes pedidos ao Ministério do Trabalho. Esta base de dados gigantesca agrega informação sobre os mais de dois milhões de trabalhadores por conta de outrem no privado e é considerada um instrumento central para a investigação nesta área.
A situação, que gera grande insatisfação nesta comunidade de economistas, está a bloquear o estudo aprofundado do impacto da crise e da recuperação do emprego, escreve a Sábado na edição desta quinta-feira. Os investigadores – dos departamentos de Economia de universidades como a do Minho, de Coimbra, do Porto ou de Lisboa (Nova) – só têm os dados até 2012. Os do Banco de Portugal têm até 2013.
"É um absurdo: desde 2013 que o comportamento do mercado de trabalho apanhou toda a gente de surpresa e da principal base de dados só temos até 2013", afirma Luís-Aguiar Conraria, da Universidade do Minho, citado pela revista. Ficam por fazer análises mais aprofundadas sobre a evolução dos salários, por exemplo, sobrando apenas os dados agregados publicados pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP), do Ministério do Trabalho.
A Sábado cita fontes anónimas que referem que os dados em causa são vistos pelo GEP, sob tutela do ministério de Vieira da Silva, como sendo de apoio à governação e não para investigação externa por economistas que vê como tendencialmente liberais. No anterior governo, com Mota Soares como ministro numa conjuntura de crise no emprego, o envio dos dados sofreu também um atraso considerável.
O Ministério do Trabalho responde, através de fonte oficial, que "está em preparação com um conjunto alargado de universidades a disponibilização de dados para fins de investigação", sem explicar, contudo, a origem do atraso.
A base de dados dos Quadros de Pessoal é compilada a partir dos formulários que todos os empregadores enviam anualmente ao GEP e contém informação detalhada sobre os salários, as categorias profissionais, o número de trabalhadores, o trabalho suplementar ou a filiação sindical.
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