Barcelona: Crise entre Madrid e Catalunha enerva governos europeus
A alguns dias do referendo sobre a independência da Catalunha, uma vintena de operações policiais levou à detenção de 14 quadros do governo regional e à apreensão de milhões de boletins de votos, comprometendo a organização desta consulta proibida pela Justiça.
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"Já exprimimos a nossa posição várias vezes a todos os níveis", afirmou hoje um porta-voz da Comissão, Margaritis Schinas, em resposta a um pedido de comentário dos acontecimentos.
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Bruxelas repete incansavelmente a "doutrina Prodi", do nome de Romano Prodi, um antigo presidente da Comissão, que tinha estipulado, em 2004, que um Estado nascido de uma secessão no ceio da UE não seria considerado automaticamente como fazendo parte da UE.
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Na semana passada, o actual presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, preveniu que iria considerar "as decisões do Tribunal Constitucional espanhol e do parlamento espanhol" antes de reconhecer uma declaração de independência da Catalunha.
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De Paris, onde se reclama o "respeito do quadro institucional espanhol", a Bratislava, onde se pede comportamentos "conformes à Constituição espanhola", os governos alinham, quase palavra por palavra, com as posições de Madrid.
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"A crise é demasiado profunda e seria demasiado arriscado para a UE tomar parte ou interferir. Está tudo muito sensível", traduziu Jérémy Dodeigne, professor de Ciência Política na Universidade de Namur, na Bélgica.
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Questionado sobre as detenções na véspera, Schinas garantiu hoje "não ter grande coisa a acrescentar", sublinhando contudo que "sempre se evitou posicionar a Comissão no plano psicológico, (em termos de) 'optimismo', 'receios', 'inquietações', etc.".
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Mas o director do Instituto de Estudos Políticos de Bucareste, na Roménia, Dan Dungaciu, considerou que "o silêncio da UE é uma resposta em si: Bruxelas nem quer falar do assunto. É uma bomba que faz 'tic-tac'".
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Em causa está, detalhou, o risco de "um reconhecimento da Catalunha criaria um precedente terrível para a UE, que Bruxelas teria dificuldade em gerir e do qual todos os movimentos separatistas se poderiam servir".
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Ao contrário da maior parte das outras capitais europeias, Madrid nunca reconheceu a independência do Kosovo.
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Mas, em alguns Estados europeus, o mal-estar era notório, depois da operação policial, que suscitou a descida às ruas de Barcelona de milhares de apoiantes da independência. "Estamos a seguir todo o processo com uma grande inquietação", admitiu hoje um diplomata de estatuto elevado, mesmo que, "o que se diz neste momento é que se confia na democracia".
Um outro diplomata declarou-se alarmado: "Mesmo que esteja a agir no quadro da lei, o Governo espanhol está a gerir muito mal a situação", disse, exprimindo-se também sob anonimato. "Despachar a Guardia Civil para fazer detenções envia um sinal muito negativo", insistiu.
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Sem surpresa, os independentistas catalães receberam o apoio de outros dirigentes separatistas, como a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, que apelou ao respeito do "direito dos povos à autodeterminação", e do flamengo Geert Bourgeois, que reclamou "uma mediação internacional".
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