Lagarde garante que riscos à inflação estão “bem contidos” mas alerta para vigilância
Investimento público, valorização do euro e acordo com Washington ajudaram a amortecer o impacto das tarifas dos EUA na economia da Zona Euro, segundo Christine Lagarde.
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou esta terça-feira que os riscos à inflação na Zona Euro estão “bem contidos em ambas as direções”, mas sublinhou que a instituição deve manter-se vigilante e pronta a reagir a novos choques. A responsável falou durante uma conferência de política monetária em Helsínquia, onde destacou que a atual taxa diretora de 2% oferece ao BCE espaço suficiente para responder a eventuais desvios do objetivo de estabilidade de preços.
Segundo a Bloomberg, Lagarde salientou que “estamos hoje num bom lugar, mas esse lugar não é fixo”, defendendo que a estratégia do banco central deve ser sustentada “com agilidade, humildade e uma firme ancoragem nos dados”. A mensagem reforça a ideia de que a autoridade monetária não tem pressa em reduzir ainda mais os custos de financiamento, depois de ter cortado a taxa de depósito para metade no último ano.
A economia da Zona Euro tem resistido melhor do que o esperado ao impacto das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, o que contribuiu para que os riscos inflacionários permaneçam limitados. Lagarde explicou que a ausência de retaliação por parte da União Europeia, a valorização do euro e o aumento do investimento público ajudaram a mitigar os efeitos negativos. A presidente do BCE destacou ainda que o investimento governamental, em particular na área da defesa, deverá acrescentar 0,25 pontos percentuais ao crescimento entre 2025 e 2027, compensando cerca de um terço do choque comercial.
Segundo a Bloomberg, a presidente do BCE acrescentou que, até agora, as tarifas tiveram impacto reduzido nos preços, estando os seus efeitos mais visíveis no abrandamento da atividade económica. “Sem retaliação e uma taxa de câmbio em apreciação, as tarifas tiveram pouco impacto inflacionário até agora, com os seus efeitos adversos sobretudo limitados ao crescimento”, afirmou.
Lagarde insistiu ainda que os chamados “choques comerciais” não estão a gerar pressões inflacionistas, afastando assim o risco de o BCE se ver confrontado com o dilema clássico de estagnação económica acompanhada de subida dos preços. “Não enfrentamos uma situação de crescimento em queda com inflação em alta”, frisou.
A presidente do BCE também destacou um efeito inesperado no sistema financeiro internacional: “A imposição das tarifas coincidiu com uma reavaliação mais ampla da posição dos Estados Unidos no sistema financeiro global”, disse, acrescentando que “os investidores começaram a questionar se o dólar norte-americano continuaria a merecer o estatuto de moeda refúgio por excelência”.
Apesar de reconhecer que a incerteza pesou sobre a economia, Lagarde notou que o acordo comercial alcançado com Washington devolveu a confiança mais rapidamente do que se previa. “O entendimento com os EUA reduziu a incerteza mais depressa do que esperávamos”, disse, de acordo com a Bloomberg.
Os mercados financeiros partilham, em grande medida, esta leitura de estabilidade. De acordo com a Reuters, os investidores já descartaram novos cortes de juros no curto prazo, com a maioria a apontar para dezembro como a altura em que poderá começar uma discussão mais séria sobre estímulos adicionais.
As projeções mais recentes do BCE apontam para uma inflação de 2,2% em setembro, depois de ter ficado em linha com a meta de 2% no mês anterior, segundo uma sondagem citada pela Bloomberg. No entanto, as previsões a médio prazo continuam a indicar valores ligeiramente abaixo do alvo: 1,7% em 2026 e 1,9% em 2027. Apesar destas projeções, um inquérito do banco mostrou que as expectativas dos consumidores para os próximos 12 meses voltaram a subir em agosto.
Lagarde deixou claro que, embora a Zona Euro esteja num ponto de equilíbrio, esse cenário pode alterar-se rapidamente. As potenciais ameaças vão desde novos choques energéticos até a uma eventual desancoragem das expectativas de inflação. Para já, porém, a mensagem do BCE é de prudência: não acelerar cortes de taxas mas manter flexibilidade para agir caso surjam novos riscos.
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